terça-feira, dezembro 19

Sobre o Natal III - A Missão

O Natal é a festa da culpa da culpa cristã.
Por mais que a pessoa não seja exatamente cristã, sempre acaba caindo dentro desse clichê. É a época em que todos nós fazemos um certo esforço extra para sermos bons com o próximo, exalarmos felicidade e, em que, as doações e os atos assim chamados altruístas ficam em voga. Todo mundo no mundo quer praticar boas ações desesperadamente pra ver se no dia 31, na hora de pagar a derradeira conta, rola um desconto especial.

Eu não me salvo, não.
Apesar de ser uma cristã de araque - do cristianismo mesmo eu só uso das rezas - eu também padeço dessa culpa.

Eu digo que é consciência - e, em parte, até é mesmo - e separo os brinquedos velhos da Olívia para doar no Natal. Separo também no aniversário, quando sei que é certo dela ganhar brinquedos novos. E, assim, sano parte da minha culpa social/ cristã. Ainda assim, às vezes, encontro dentro da caixa de brinquedos dela coisas ainda com a etiqueta...

Faço doações também de leite e afins.

E fui, este ano, tentar ser o Papai Noel de uma das centenas de criancinhas que escrevem cartinhas ao bom velhinho e enviam pelo correio.
Vou contar que depois que me explicaram, nem foi difícil chegar ao local - que é ermo e lá longe, mas que ainda assim, na hora almoço da turba trabalhadora, um lugar aonde a moça fina aqui pôde andar despreocupada.
Eu estava um pouco preocupada porque minha prima me contou que foi ano passado e que haviam cartas de cortar o coração e que ela havia saído com mais cartas até do que pretendia - e eu não ando nada afins de sair cortando meu coração por aí, é um luxo que eu não posso ter no momento.
Quando cheguei lá, existiam duas mesas coalhadas de pessoas e cartas - essas até menos do que eu esperava.
Descobri que os Correios é ainda uma instituição amiga minha e facilitou meu serviço; as cartas traziam assinaladas o nome e a idade da criança assim como o presente pretendido.
O problema é que hoje era o último dia de "apadrinhamento", como a coisa é chamada, e só haviam sobrado nas mesas pedidos de bicicletas, video games e laptops da Xuxa. Eu vasculhei mais 200 cartas, às vezes até lendo o que estava escrito na íntegra.
Gastei três horas da minha tarde entre ida, volta e durante.
Caminhei por lugares perigosos - e não por causa dos bandidos.
E saí de lá de mãos abanando.
Bicicleta, video game e laptop não entram lá muito bem no meu orçamento altruísta.
Não antes que eu ganhe na Mega Sena - o que é uma pena, pra mim e pra eles.
Fiquei extremamente chateada.
(De verdade.)

Mas ainda sobrou para onde atirar, o que me deixa menos triste.

Nessa, ainda resolvi redestribuir um pouco de culpa.
Eu realmente não acredito que culpa seja uma coisa exclusiva de um único ser humano quando se precisam dois para que se culpe alguém de algo, mas tenho tendência a tomar todas elas para mim e só para mim como uma boa canceriana.
Eis que, neste final de ano, repensando o ano (Culpa), resolvi dividir.
Nada do que aconteceu este ano, de bom ou de ruim, foi única e exclusivamente culpa minha.
Parece idiota, mas reconhecer isso já um passo enorme.

Enquanto isso, vou eu andando por aí, sentindo uma tendência Poliana se alastrando pelo meu ser e ajudando velhinhas a atavessar ruas...

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