segunda-feira, dezembro 11

Sobre o Natal - I

Não é que eu não goste.
Eu gosto.
Acho bonito tudo enfeitado.
Acho lindo quando a árvore está coalhadinha de presentes.
Adoro as comidinhas.

O problema é que, com a idade, esse gosto sofre interferências.

Primeiro a gente descobre que Papai Noel de verdade - como os pais nos contam e dizem e usam como meio de chantagem para que o Dezembro seja um mês de bondade das crianças, ainda que forçada - não existe.
A coisa mágica da Rena do Nariz Vermelho, da casinha no Pólo Norte - que, com a idade também, recebe o nome de Lapônia - onde moram a Mamãe Noel e aqueles duendes super simpáticos, a viagem de trenó pelo mundo, indo de casa em casa, presenteando todas as crianças... Tudo balela.
A idade nos faz perceber que não existe uma noite que dê para tudo isso, que os duendes não fabricam Barbies e laptops do Rebelde, que renas não voam, que não existe ninguém que vive até chegar as 75 anos para aí não morrer nunca, que nem todas as crianças do Mundo são felizes nessa data - muito pelo contrário.

Depois, com a idade, também a necessidade daquilo que a gente chama de dinheiro, e que, inegavelmente, move o mundo e a nossa vida, querendo ou não.
Então, não dá para presentear todas as pessoas que nós gostaríamos. Eu adoro quando tenho dinheiro e posso presentear todos aqueles que acho que merecem. Invariavelmente, acabo gastando todo o dinheiro que ganho de presente nessa data em presentes para os outros; a quantia usada para mim ou comigo é sempre ínfima se comparado ao que gasto com as pessoas que amo.
Mas a idade e as responsabilidades, fazem com nós tenhamos que escolher as pessoas mais queridas, o que por si só já uma coisa injusta com nós mesmos.
Eu ainda tenho agora o Fator Filha, que me faz querer poder dar tudo a Ela, por mais supérfluo que seja, mesmo sabendo que existirão outros presentes vindos de outras pessoas.
A falta do dinheiro é muito mais pesada e incômoda nesta data.

Vem a obrigação de se reunir com a família, por mais separada que a mesma seja.
E estas reuniões sempre trazem desintendimentos, discussões; pré ou pós natalinas.

A solidão pessoal toma uma dimensão aumentada à décima potência.
Ao mesmo tempo em que existe a obrigação de se sentir bem e feliz e praticamente uma rena, existe uma quê no final do ano que acaba obrigando você a pensar, repensar e rever tudo o que aconteceu durante todo o ano, e, daí, vir a se sentir realizado, fracassado, conformado - rotulado.
A saudade das pessoas que você ama verdadeiramente aumenta, a vontade de vê-las, de tê-las do seu lado, a falta que elas te fazem.
Vem a obrigação - de novo e também - de pensar nas metas que você mesmo vai criar para o ano que ainda não começou.

Você quer que tudo dê certo, quer estourar a cota de amor e carinho do ano, agradar e ser agradado; a sua busca pela felicidade plena, como ensinam que ela deve ser, acaba, no fim, atrapalhando tudo.
Suas emoções atrapalham tudo.

Algumas pessoas conseguem - viva! para elas - ser realmente felizes nessa época. Enfeitam e fazem e correm e...tudo bem.
Mas existem pessoas que não conseguem, e por não conseguirem, não suportam a existência das que conseguem no Mundo. Não compartilham o furor uterino de encarar lojas enxameadas ou inaugurações de árvores natalinas ou a simples visão de falsos Papais Noéis a cada meio quarteirão.

Eu sou uma dessas pessoas.

Natal, hoje, me deprime.
Me emputece.
Me deixa carente e eu odeio ficar carente.
Me faz pesar o ano e eu odeio pesar os anos porque fazem anos que meus anos não lá muito bons anos.

Minha terapeuta disse na última sessão que eu fiz grandes progressos este ano e que ela estava orgulhosa de mim.
Eu, por minha vez, já acho que foi um ano de fodelanças emocionais e financeiras extremas - e essas duas partes, infelizmente, são importantíssimas para o meu viver em paz.
(Digo meu porque nem todo mundo se realiza com amor, o financeiro pesou porque me limitou e me fez dar um valor que eu detesto a isso.)
Minha conquista: ter achado uma, a minha faculdade.
Ter dado o braço a torcer depois de 10 anos e ter me apaixonado por isso.

Minha filha é uma benção diária.

No mais, dores.
De homens perdidos, de amigos perdidos.

Pessoas não convidadas.

Brigas.

Irc...!

Coisas que acontecem e acontecerão bastante ainda, se eu viver mesmo os 100 anos que resolvi viver, mas que em dose maciça são enfraquecedores.

Ainda assim, me restaram amigos.
Alguns mais perto e alguns mais longe.
Me restaram amores.
Idem.

Ainda assim, eu tento passar toda a coisa lúdica e bonita que me passarm quando criança para a minha filha.
Nossa árvore é quase mágica.
Está cheia de presentes enfeitando.
Vai ter festa para Ela.
Eu canto as músicas, levei para tirar foto com Papai Noel (capítulo à parte), levei para ver o "show" dos bonecos no Itaú da Praça da Paz...

Ainda assim, quero que para ela, seja uma data tão especial quanto era para mim quando não sabia de tudo que sei hoje, quando eu não sofria tudo que sofro hoje, quando eu não pensava tudo que penso hoje.

E é bonito tentar isso, ver isso.
Estar junto com ela e ficar de olhos cheios d'água quando ela se encanta com tudo isso.
Estar junto dela, apresentando tudo isso a ela.
Querendo que ela, se tudo der certo, goste muito mais que eu disso.
Que ela seja uma daquelas pessoas que conseguem e que me fazem achar o Mundo insuportável nessa época.
Quem sabe, talvez seja possível, que eu acabe me transformando numa delas de novo...?

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