sábado, setembro 28

Eu tinha perto de 10 anos.
Naquele tempo, meninas de 10 anos or so podiam voltar pra casa sozinhas de ônibus coisa e tal.
No meu caminho de casa tinha uma loja de animais - naquela época elas ainda não se chamavam pet shops - e um dia eu me apaixonei por um filhote de poodle (pasmem).
Juntei dinheiro da mesada, pedi permissão e levei ele pra casa.
Um bichinho minúsculo, preto, de cabelinho desgrenhado.
Chamei de Bruce, em homenagem ao Bruce Lee.

Eu nem tinha visto nenhum filme do Bruce Lee na vida, mas meu pai gostava dele, eu tinha (cofcof) issues com a figura paterna, Freud explica, coisa e tal.

Infelizmente, em coisa de uma semana Bruce morreu.
De repente teve uma tremenda diarréia, passou mal e morreu.
Ele tinha escolhido fazer cocô debaixo de uma cama, então ninguém percebeu que ele estava doente.

Eu fiquei tão mortalmente triste quanto uma garota de 10 anos pode ficar.

Até então, minha mãe tinha me deixado ter periquitos de estimação, que amos e convenhamos não são exatamente bichinhos interativos.

E a tristeza foi tão grande que, em coisa de um mês eu ganhei uma outra cachorrinha que me trouxe muita alegria e foi minha grande companheira por quase 18 anos e ainda pariu mais dois que foram cachorrinhos incríveis.
Mas isso é outra estória...

Fato é, no meio disso tudo eu esqueci do Bruce.
Enterrei no jardim do prédio, chorei e esqueci.

Aí essa semana, 26 anos e três cachorros depois, eu resolvi  dar de presente pra minha filha um cachorro.
Um vira lata lindo pretinho, gente boníssima, que trouxe pra mim uma alegria esquecida lá longe...

No título ele é dela, mas quem passa os dias com ele sou eu e um amor gigante começou.

E aí minha mãe me lembrou do Bruce.
E aí eu não consigo mais ficar em paz.
Passo metade do tempo me certificando que o bichinho está vivo, que ele vai conseguir chegar à sexta vacina bem e sobreviver conosco.
É muito, muito parecido com o parto de uma criança humana - a sobrevivência é a coisa mais importante de todas; também a mais angustiante.

Disse-me a veterinária que ele só vai poder ir na rua daqui a dois meses.
Disse-me a veterinária que clinicamente ele está muito bem.
Queria que ela também tivesse dito que eu vou ficar clinicamente bem.

Foram só 4 dias até agora, mas eu vejo o quão importante já é esse pequeno serzinho na nossa vida.
Eu quero que ele viva.
Para a minha.
Para mim.
Conosco.

Não quero que ele seja nosso por uma, duas semanas.
Quero que seja por uma, duas  décadas.

E eu não ligo se isso é uma espécie de egoísmo.
Mas a psicose podia pegar mais leve...

quarta-feira, setembro 25

"Ninguém se lembrava no dia seguinte do que haviam conversado a noite toda. Não era importante para ninguém o que os adultos falavam. Só eram importantes os sons que iam e vinham sobre as samambaias delicadas que cercavam a varanda dos três lados. Só era importante que a escuridão enchesse a cidade como uma água negra sendo despejada nas casas, e que os charutos luzissem e as conversas continuassem sem parar."

Bradbury, R. - Licor de dente-de-leão

terça-feira, setembro 24

De repente eu cresci.
Estudo pra concurso, tenho dívidas, uma filha, cachorro, planta.
Virei adulta.
Sacramentada.
Que medo.

quarta-feira, setembro 18

O desespero de ter quase 1000 páginas de texto para ler e compreender (sem contar o lembrar) em pouco tempo e ainda querer conciliar o fogo no rabo no meio disso tudo.

segunda-feira, setembro 16

Desço a rua com uma certa pressa.
No meio do meu caminho 3 mulheres.
Das 3 mulheres, de repente, a senhorinha com uma blusa de uma azulão muito vivo, de maquiagem forte e brincos pressão - ela me lembra minha avó - vem faminta em minha direção abanando um papel.

- Posso falar consigo um minuto?
- Desculpa, tô atrasada.
- Leva ao menos o papel...
Que eu pego e uma das companheiras da senhorinha faz questão de enfatizar com um certo tom raivoso: "Mas não joga fora!".
Não joguei.

Começa assim:
"Gostaria de conhecer a verdade?"
Pula linha.
"A verdade sobre o quê? (....)
Será que Deus se importa conosco? (...)
O que preciso fazer para Deus ouvir minhas orações?
Como posso encontrar a felicidade?"

Realmente, taí, boas perguntas.
Essas 3 aí andam fazendo parte do meu repertório de forma bastante incisiva nos últimos dois anos.
Infelizmente, as explicações do folhetinho não me convenceram.
Não, eu não vou escrever às Testemunhas de Jeová.
Mas, se alguém tiver uma resposta, agradeço.
O que eu penso sobre o assunto já tá mais ou menos espalhado por aqui...

domingo, setembro 15

Um pouco rancorosa.
Mas sabe do que mais?
Esse luxo eu vou me dar.
Da série Coisas que Talvez Nunca Sejam Ditas...

Há mais de um ano a gente combinou ser mais presente na vida do outro.
Talvez por confiar nisso, em contrapartida, nunca precisei tanto de você na minha vida.
E, curiosamente, justo depois disso, nunca mais nos vimos.
Ontem, mais uma vez, eu procurei e precisei do seu abraço e ele não veio.
Tanto desencontro, tanta falta...
Talvez seja hora de não esperar mais pelo abraço.
Talvez seja hora de não esperar mais.
O nome da vila é "Vila Imperio".
Não é uma vila bonita. É reta, meio cinza, quase nunca existe sinal de vida lá.
Logo na entrada a maior casa de todas permanece abandonada - e eu sei que se parar um dia para ficar olhando as janelas bertas do terceiro andar vou ver algum fantasma lá dentro.
Passando hoje, lá no fundo, uma senhora numa cadeira de balanço.
Tão fantasmagórica quanto o que mora lá e na minha imaginação.
Não tinha sol, logo essa não poderia ser a desculpa para tal decoração.
Só haviam os carros estacionados e imóveis de um lado.
A fonte seca no fundo.
E a velha a se balançar lentamente naquela cadeira enorme.
Olhando a vida passar.

sexta-feira, setembro 13

A volta do fundo poço.
A cabeça opera a 330, fosse antes diriam que eu tenho DDA.
Concentração zero, oitocentos planos.
Daqui a pouco desacelera.
Por enquanto tô me achando bem, mas bem maluca mesmo.

quarta-feira, setembro 11

Foi só postar o texto que houve rebuliço.
A mulherada em peso apareceu, contou história, bateu palma, mas... Um, me indicou uma dieta. Vê-se logo que não entendeu porra nenhuma do que eu escrevi. Outro, amigo, ex-amante de séculos, uma pessoa que me conhece do avesso, achou lindo, me defendeu; como sempre, ofereceu o braço. Todos os outros se calaram, ou responderam ao texto inbox. Quase que imediatamente veio um: "Eu nunca te vi assim. Na verdade, eu te queria, você que não me quis. Aí eu casei."
"Só para constar, eu acho você sexy, simpática, inteligente e gostosa. E é ótima na cama."

Aí veio outro:
Finalizamos com a chave de ouro:
"(...) certas partes do texto não posso comentar mas existem controvérsias .... NÈ"
Quê que eu posso dizer?
O primeiro era o Homem Perfeito, já falei bastante dele aqui, mas que eu não tenho tesão, infelizmente.
O segundo, bom, nunca nem pensou em ficar comigo, resumindo a coisa.
O terceiro aconteceu esse ano.
Eu não quis. 
"Ah, mas você reclamou que não tem namorado!"
Reclamei.
E disse 80%. E mesmo reclamando eu também tenho direito de não querer ficar com o primeiro que aparece (que foi um dos motivos porque eu não quis ficar com ele - um dos), ou com o segundo, ou com o terceiro, enfim...
Reclamei, mas também direito de querer ficar com alguém que eu realmente ame, ora pipocas!
Não que a intenção do texto fosse atingir qualquer pessoa que fosse, mas homem tem essa coisa de achar que é com ele.
Mas, como eu sou uma mulher educada, só aqui vou escrever tudo isso.


Homens...

terça-feira, setembro 10

Tô precisando chorar.
Copiosamente.
Outra coisa que me incomodou foi o suicídio de um músico.
O cara saiu pra jantar, chegou em casa, se trancou no quarto e deu um tiro na cabeça.
Deixou uma mulher grávida de 5 meses.
Os motivos, dizem, giram entre falta de grana e depressão.
Acho que eu posso falar das duas coisas com bastante propriedade, por isso me incomodou, por isso acho inaceitável.
Quantas vezes, meu Deus, ao longo dos anos, não passei por dificuldades financeiras. Todo mundo passa!
É terrível, é preocupante, mas não justifica tirar a própria vida.
Quantas vezes eu não fiquei mortalmente deprimida (tipo, agora)?
Depressão tem tratamento.
Um dos mais eficazes, inclusive, é ter filhos.
Já disse mais de uma vez: a partir do momento em que você tem filhos, a sua vida é deles e por eles.
Um pai, uma mãe, não podem se dar ao luxo de ficarem deprimidos.
Não podem se dar ao luxo de morrer.
Não podem se dar ao luxo. Ponto.
Rolou na internet um texto da Averbuck sobre as gordas, e ele me deu uma vontade imensa de fazer um desabafo.
A partir daqui, você ler se quiser, e, se for ler, vai entender que É um desabafo.
Gratuito.

Muita coisa do que ela diz ali é verdade.
A vida de gorda não é fácil. Desde bem cedo eu faço dietas, desde bem cedo as amigas tem roupas que eu não posso nem nunca vou poder ter, desde muito cedo enfrento olhares reprovadores e excludentes. Na adolescência cheguei a ouvir de um parente que “se eu não emagrecesse, ninguém ia querer me engravidar”.
Eu já dancei, sim, em muitas entrevistas de emprego por causa disso.
Como se o tamanho da minha bunda fosse fator decisivo na minha competência.
Arrumar roupa era um suplício. Hoje melhorou um pouco; as pessoas começaram a entender que gordo não anda pelado, nem precisa vestir um saco de batata, que ele pode se vestir bem e ficar bonito. Mesmo assim, ainda é difícil.
As dietas continuam.
Gordo passa mais da metade da vida atrás de chazinho, dieta, suquinho, bolinha das estrelas que permitam que ele tente ser mais magro.
Há 10 meses eu tomo remédios para emagrecer. Mesmo quando emagreço, continuo gorda – é minha constituição corporal e isso não é balela – mas eu já fui mais magra e gostaria de ser de novo.
Por quê?
Porque é uma foda ver que a sua filha também é rechonchudinha e morrer de medo, de angústia, que ela venha a passar metade do que você passou a vida toda. Vivo repetindo o quanto é uma merda ser gorda e nessa de proteger ela, eu mesma acabo cobrando dela o que não quero que cobrem de mim. Porque a família pressiona, sim. Eu me pressiono.
Nesses 10 meses emagreci muito pouco. Uma série de problemas fez com que eu simplesmente não conseguisse perder peso. E todos os dias eu sofro por isso.
De uns tempos pra cá, passei a ter vergonha de comer em público.
Muitas vezes abaixo a cabeça enquanto como pra não ver se existe outra pessoa olhando.
A grande maioria dos gordos espertos que eu conheço se vira, compensa essa “deficiência”, sendo inteligente ou bem humorado ou bom de cama – aposto que vocês conhecem vários que são “a alma da festa”. E muitos juntam as 3 qualidades, viu?
Mas vejam o meu caso, por exemplo.
As pessoas costumam me achar simpática, inteligente até mesmo bonita de vez em quando, mas eu posso afirmar que 80% da razão deu permanecer solteira até hoje é porque os caras tem vergonha de ter uma namorada gorda.
O fã clube existe, mas eles só querem sexo.
Meus dois últimos "namoros" aconteceram inteiramente dentro do quarto.
Assumir e sair, nem pensar!
O cara namora uma mulher burra, o cara namora uma mulher feia, o cara namora uma mulher filha da puta, mas gorda não pode.
Já ouvi, sim, muita gente dizer que é desleixo.
Pode ser, mas pode não ser.
Sim, é uma questão de saúde; mas, a minha, por exemplo, é impecável.
A vida de gorda não é fácil, e eu podia escrever bem mais sobre isso.
Também não quero que ninguém pense que somos coitadinhos – como eu disse ali em cima, o gordo se vira.

Só pensem nisso na próxima vez que resolverem olhar enviesado pra um.
Olhem além da capa.

domingo, setembro 8

É mais um daqueles momentos na vida que é tanta coisa pra fazer, tanta coisa pra consertar, que é até difícil saber por onde começar.
Ser mãe é uma foda.
No sentido literal.
Tava agora assistindo um seriado e aí chega uma garota de 15 anos e tenta seduzir o pai da garotinha que ela é babá. Toma uma cerveja, dá uma rebolada daquela gostosa... Aí meu estômago embrulhou.
Embrulhou porque eu pensei na minha filha.
Embrulhou porque pensei que não quero ela fazendo isso tão nova.
Embrulhou porque eu lembrei que aos 15 eu já fazia essas coisas.
Você bota uma pessoa no mundo e é isso, as coisas vão acontecer você querendo ou não, porque essa jóia a gente não pode manter dentro de uma caixinha dentro de casa.
E isso é uma foda.

sexta-feira, setembro 6

Foi ensinado, alguém planta na cabeça das pessoas normais, que é preciso planejar a vida.
Fazendo um retrospecto, nunca planejei nada; saí fazendo.
(Um batalhão de merda, mas saí fazendo...)
Mesmo hoje, que tudo parece ajeitadinho, certo e no calendário, não sou minimamente capaz de dizer como vai ser ano que vem.
Até semestre passado o plano era um; hoje é outro; no próximo semestre tudo pode mudar de novo - amanhã tudo pode mudar.
A vida vai passando, as coisas vão acontecendo, e eu continuo a Rainha do Improviso.

quinta-feira, setembro 5

Se ano passado foi ruim, esse, que já está quase no fim, tá dando de mil a zero nele.
Aí, como não poderia deixar de ser, vem a fase da autocomiseração.
Que eu acho que tenho mais que direito.
Porque eu queria entender - do fundo do meu útero - que grande cagada fiz eu nessa ou em outra vida pra conseguir bater todos os recordes de pagamento de taxa kármica.
Não é possível que a vida seja sempre esta grande merda.
Eu tento animar, sigo em frente, choro pouco, sofro muito, mas corro atrás.
E fico correndo, correndo, Forrest Gump style, num loop eterno...
...E porra nenhuma de paz.
Paz no coração, paz no bolso, paz na saúde.
Tudo parece meio arruinado, amaldiçoado e assombrado.
Todo mundo consegue ser feliz e amado.
Menos eu.
Passamos os 100 filmes!
Ueba!
(A verdade é que eu nunca fui. Isso é uma das poucas coisas que eu mantenho com apego. Só não tinha nada a dizer - ou achei que não tinha.)
"(...) subi numa cadeira e observei a multidão de esqueletos potenciais. Em oitenta anos estaríamos todos mortos. Vivíamos, por falta de opção, como se não fosse assim, como se não estivéssemos sós, como se não existisse o momento quando cada um de nós veria que a vida havia acabado, que corríamos sem freio contra um muro de tijolos."
"Quem sabe a vida é não sonhar..."

segunda-feira, setembro 2

Primeiro eu sonhei que saíam coisas nojentas de um machucado já cicatrizado.

"Você poderá ter perdas, causadas por conselhos de amigos mal-orientados.
Quem sonha com isso pode arriscar a sorte no bicho: vaca"

Depois eu sonhei com os meu irmãos. O que não ando falando (nem falei no sonho) e a minha irmã, que procurava emprego em um hospital. 

"(...) se você sonhar que está conversando com seu irmão aí neste caso já significa que você terá boa notícias e melhoras na vida. Se você está passando por uma situação mais complicada, um problema financeiro, saúde, quando sonhar com uma conversa entre você e seu irmão, comemore, boas novas estão por vir."

Por fim, sonhei que ganhava charutos de presente.

"Receber um (presente): alguém que está distante vai se comunicar por carta ou telefonema.
Fumar (Charuto): sua imagem entre seus amigos está melhorando."

Coincidentemente, no dia seguinte acabei indo tomar um café com um amigo numa charutaria. E meu pai telefonou.
Agora, o resto aí, ainda tô esperando...