segunda-feira, dezembro 31

....Brother, eu ODEIO fim de ano...

Esse ano, estava cá eu, toda feliz da minha vida.
Esse ano, nosso amigo Grinch tirou férias.
Do quê exatamente podia eu reclamar quando habemos casa nova, habemos uma filha linda, habemos namorado novo, habemos os melhores amigos do mundo e habemos uma parcela bastante razoável de livros novos no estoque?
Materialmente, puta que pariu, devia eu erguer estas mãozinhas tortinhas que Deus me deu aos céu e agradecer!
A bem da verdade, nas duas últimas semanas antes do Natal, muitas vezes, o que me consolava enquanto Ser Humano era pensar "Eu vou ganhar o livro do Umberto Eco. Eu vou ganhar o livro LINDO do Umberto Eco" - "História da feiúra", para aqueles que não lêem jornal ou livro ou... foda-se.

Tudo bem que eu queria MUITO matar o filho da puta que disse que se mudar É mole. E também todo mundo que anda me enchendo o saco porque eu não mudei ainda - geralmente é alguém sem filhos que não entende a necessidade de organização na vida de uma criança, sorry fugitivo. E também todo mundo que diz que a culpa é única e exclusivamente minha porque fui eu que inventei de pintar o latifúndio sem a menor necessidade ou desprendimento material suficiente para pagar um cabra profissional para fazer isso por mim.
Mudar não é nada mole.
Cada vez que eu piso naquela casa - na Minha Casa - eu descubro uma coisa nova para ajeitar ou percebo o quanto de tempo eu ainda vou precisar para deixar ela habitável ou penso que não vou terminar nunca tudo que eu preciso fazer.
Eu não posso - repito - NÃO POSSO tacar uma merda dum colchão no chão, ir pra lá e ir arrumando as coisas aos poucos. Claro está que nada vai estar terminado tão cedo, que eu vou passar pelo esquema mambembe de primeira casa reciclagem de móvel etc,etc,etc, mas eu tenho uma criança que precisa de um mínimo de organização espacial na vida para que não se transforme fatalmente numa grandecíssima psicopata.
Minha agonia inicial era não saber para onde eu ia; agora a coisa é saber para onde, mas não conseguir ir.
Tudo bem que eu estou deixando a casa toda colorida e feliz e bonita (e borrada porque a gente não é tão bom de pincel assim) do jeito que eu imaginei, mas tudo anda a passos muito mais lentos do que imaginava do que fossem andar, uma vez que o tempo é escasso, luxo e subdividido, muito subdividido... Tudo bem que eu ando planejando, compando e construindo coisas lindas que a maioria não pode; que eu tenho - de fato - coisas lindas e belas melhores até do que eu sonhei.
Mas, sabe lá você, a agonia que é adiar toda a semana aquilo que você mais quer e que está ali, logo ali, te esperando? Choro semanlamente de frustração, mas resolvi que, por esta, não poderia reclamar. Deveria mais agradecer. E agradeço.

E meus amigos, meus belos amigos? Puxa, vida, eu tenho os melhores! Ando até meio envergonhada ultimamente de mancadas passadas que eu dei com eles e que precisei de tempo para perceber. Ando com saudades de muitos deles, por mais que eu fale com eles ou os veja ocasionalmente.

Minha filha.
Cada dia mais linda, cada dia mais geniosa, cada dia mais "adolescente", mais menina, menos bebê. A Melhor Coisa Que Eu Já Fiz Na Minha Vida. Que todo dia me inventa uma história nova, que é tão amada por todos e me enche tanto de orgulho, sempre.

Namorado novo.
A maior supresa do meu ano todo.
A história mais clichê barato de filme.
O que eu menos esperava, no momento menos propício e desejado, mas que me pegou de um jeito que hoje é difícil separar - viver sem.
Um homem lindo. Lindo.

Todos os livros que eu pedi.
Ali. Debaixo da árvore, esperando que eu os leia, os descubra, saiba deles e passe noites e noites com eles, sobre eles.

Com tudo isso, existe algo para uma garota reclamar?
Não!

Foi o primeiro Natal em muitos anos em que eu cheguei - definitvamente - ao Natal, sem desejos homicidas ou aquele mau humor canino que me assalta todo mês de dezembro.
Mas eis que chega A Noite de Natal.

O dia tinha sido lindo.
Almoço com o namorado, as filhas de ambos, tudo no maior amor...
No fim da tarde, filha e mãe estavam num humor canino assassino homicida de natal - o que não ajuda que o meu não fique.
Após uma arrumação conturabada para a saída para a ceia, pegamos um taxi com um cara que fedia, mas fedia que era uma coisa incrível, e ainda ouvia no rádio uma missa "daquelas". Na Lagoa, o taxi quebrou. Uma coisa bastante propícia, em se levando em conta as duas mal humoradas, as oitenta sacolas de comida, presentes e afins e o poste que resolveu apagar também na mesma hora.
Na primeira garfada da ceia, minha mãe se engasgou com uma espinha e logo depois saiu para uma ronda pelos hospitais do Rio de Janeiro. Enquanto o Mundo ceiava e dava presentes e confraternizava, eu estava abraçada com um celular para saber aonde ela estava, como estava e se o problema havia sido resolvido. Foi. E a nossa ceia acabou acontecendo, mas o prólogo naõ foi bom.

Depois de cinco anos "sozinha" é difícil mesmo se adaptar à outra pessoa na vida. Um amigo me disse que nós estamos na fase da negociação de regras e limites. Concordo. Eu ando tentando real hard não cometer os mesmo erros do passado, mostrar que eu cresci, que eu aprendi, que eu posso e quero ser uma Mulher muito melhor - caramba! Como é difícil! Obviamente, acabo repetindo alguns vícios. Meus. Mas, no Natal, especificamente, o namorado também resolveu usar um bocado do saldo do cartão de vacilo.

Mesmo eu não querendo, não devendo, acabou sendo um Natal Infernal. Um Natal em que eu tive materialmente tudo o que eu quis, mas com flhas seríssimas emocionalmente falando. Foi impossível não detestar o Natal esse ano.
De novo.

E, mal passa o Natal, vem o Ano Novo. Mais uma semana atribulada, de estresses, de afazeres... Por mais que sejam "só duas datas", não são só duas datas. Eu não conheço um único ser humano que fique realmente alheio a elas; que não planeje ou participe ou se cobre ou se preocupe com o Natal - seja lá qual a desculpa; ou consiga passar a noite do dia 31 sem sequer olhar a Globo para saber como está a praia de Copacabana ou a costa da Tailândia. Não conheço.

E eu sou um ser humano.

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Eu sucumbo.
A datas.
A propagandas.
A horas de espera.
A telefonemas.
A cartas.
Sou praticamente uma pessoa imbecil; porque eu acredito nas pessoas e as levo a sério. Sempre.


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Nem tudo eu odiei.
"Across the universe" me fez voltar a ouvir Beatles.
Mesmo que eu nunca tenha sido Beatlemaníaca - e, sim, amiga deles - redescobri as letras, as músicas e tenho ouvido sem parar.

O livro do Eco foi uma paixão a primeira vista que eu ganhei com muita felicidade, mas que vou guardar para ler na casa nova. É um livro tão lindo que deve ser lido indoors, somente indoors.

E o desencanto, não?
Voltar a ler e escrever é tudo!
Tudo!

Pra mim.

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3 da manhã.
Eu cozinho uma sopa wicca de ano novo, ouço música, penso quando vou poder ir à praia jogar palmas para Iemanjá, escrevo, penso na hora do salão, derreto de calor...
Pena que me resta tão pouco tempo pro fim do ano...
E que no ano que vem, também ele não será tão vasto...

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Ainda assim...
Todo fim de ano eu gosto de ler esse poema.

Minha persona adolescente assina embaixo: "super tudo a ver".

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A passagem do ano

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olhar e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras expreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles...e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasta renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade

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Tchau 2007

sexta-feira, dezembro 21

Ser mãe não é a morte

No início vai parecer que sim.
Adeus, noites de baladas frenéticas! Adeus, fechar todos os botecos! Adeus, namoricos fugazes! Adeus, noites de fofoca com as amigas! Adeus! Adeus!
Você vai pensar que, por sorte, aproveitou bem a vida, namorou bastante e foi à quase todas as festas que queria, ou, que não aproveitou nada, namorou pouco e deveria ter saído mais.
E, por um tempo, realmente, seu filho vai exigir demais do seu tempo, sua conversa vai girar entre cocôs, babas e outras coisas nojentas, assustadoras e nada interessantes aos seus amigos sem filhos (ou com filhos já crescidos) de forma geral.
Fisicamente também. Não vai existir tempo de se depilar, pintar os cabelos ou as unhas, por mais vaidosa que você seja. Você vai regredir à condição de primata – com direito a macaquinho pendurado e tudo!
Mas o tempo vai passar.
De todas as coisas que a sua mãe te disse, omitiu ou enfeitou; essa talvez seja a verdade mais absoluta de todas: o tempo passa. E rápido.
Em pouco tempo, você vai poder voltar a ver filmes que não incluam personagens da Disney ou dinossauros roxos. Vai poder (tentar) confiar em uma terceira pessoa para cuidar do seu lindo rebento e tomar um chopp com os amigos, saber das fofocas sobre as pessoas que você não sabe mais nem quem são. Vai poder se meter a sair para dançar e descobrir que você não conhece mais ninguém “na noite”, nem as músicas que os seus djs preferidos (agora meio grisalhos – ou eles já eram assim?) tocam. Vai poder a ler não só os livros novos dos seus autores preferidos (que, a essa altura, já lançaram mais uns três livros inéditos, olha que maravilha!), como descobrir novos autores. Vai poder voltar a freqüentar o salão de beleza e descobrir que agora existe um novo tratamento para os seus cabelos a base de placenta de cabra alpina ou um esmalte à prova de acetona que são uma maravilha. Vai poder voltar a comprar roupas que estejam de fato na moda para você.
Também vai descobrir que aquele terror que você tinha de ser amiga das mães da pracinha é real. Você vai ser amiga das mães da pracinha; e, muitas vezes, vai levar o seu filho para passear porque quer encontrar a mãe da criança – não a criança. Vai descobrir que colégio é a melhor invenção do mundo, porque a sua criatividade nunca vai dar conta de tudo que eles podem e devem aprender e você vai poder respirar e ter uma vida adulta com adultos que falam “adultês” nesse meio tempo. Vai descobrir que trabalhar, produzir e estudar são coisas essenciais à sanidade humana e fazem muito, muito bem. Vai descobrir que vai preferir, em muitas sextas-feiras à noite, ficar em casa vendo o último dvd da Barbie com o seu filho que sair para a farra e acordar com uma ressaca sinistra que vai fazer você se arrepender de ter nascido. Vai descobrir que tudo que o seu filho faz é mesmo uma maravilha – até as pirraças – e que a companhia dele é melhor que a de muita gente que você conhece.
Vai descobrir que é possível, sim, coexistir como mulher e pessoa com o mito que você tem na sua cabeça sobre a maternidade – e ser uma boa mãe.
Duas coisas, para finalizar. Lembre-se sempre que a sua mãe e a sua avó e a sua bisavó, todas, passaram pela maternidade e sobreviveram, logo, você também vai. Depois, ser mãe não é a morte; é o início da sua nova vida. E ela é boa.

(Texto escrito para o meu projeto final de Projeto Editorial - Outubro/2007)
Negligente!
Negligente!
Sua mulherzinha negligente!
Deixando os livros de lado, seus textos de lado, só porque está de mudança, arrumou namorado e cria uma filha sozinha... Pfffffff!!!