quarta-feira, abril 29

Consolo

Quando eu fico muito desesperada eu corro pro horóscopo.
Não o horóscopo do jornal, que eu leio religiosamente todo dia, mesmo sabendo que ele sai de uma caixinha de papéizinhos qualquer; mas previsões mais bacanas.
E tá lá, olha que legal, que em JULHO, tudo deve melhorar.
Tá lá, que até sexta meu magnetismo sexual está em alta.
Quer consolo melhor?
Julho é logo ali.
Só falta passar maio, junho...
Eu já tô esperando desde dezembro mesmo, quê que são mais 60 dias?
Além do mais, é um puta consolo saber que o mundo todo quer te pegar, segundo os astros, quando você está com as raízes dos cabelos aparecendo, uma espinha enorme no queixo por causa dos hormônios, a perna e o sovaco cabeludos porque tá-no-osso-e-gripada-então-foda-se; enfim, se achando o que há de baranga no universo.

Eu não sei porque, mas o pior é que consola mesmo...

A Noite Sem Fim

Antes de voltar pra casa consegui sanar meu desespero mental voltando à biblioteca e me certificando que a caixinha de fato havia funcionado como prometia. De quebra, peguei mais um livro.
Um livro da minha longa e eterna 'wishlist'.
Consegui ficar quase feliz quando percebi que, só na última semana, essa coisa de ser sócia de biblioteca havia me feito poupar 70 reais - o que, dada a minha situação financeira atual, não é pouca merda, não.
Quase feliz porque eu entendo que um terço do meu tesão pelos livros novos se deve ao fato de que eles vão ficar fazendo a fina lá minha única estante bombada no futuro para que todos que me visitem vejam o quanto eu sou erudita e como eu gosto de ler - uma mania de gente tarada mesmo, porque eu poderia ficar passar bem uns dois, três anos sem comprar nenhum livro se me dispusesse a ler todos os livros que a minha mãe já comprou na vida e que recheiam as paredes da casa dela ou à fileira de livros que eu ainda não li que estão dentro da minha própria casa; o que leva a outra mania de gente tarada que é gostar do cheiro, da cor, da figura do livro novo; a possessão do livro novo. A ausência deles na minha coleção será algo com a qual eu vou ter que conviver pacificamente sem a ajuda de um analista.
O importante era me sentir uma pessoa supra econômica e feliz por ter poupado os tais 70 reais e ainda ter prazer nisso.
Assim, logo que cheguei em casa, abstraí totalmente do compromisso de assistir a dois seriados na tv, e me atraquei com livro - outro exemplar de literatura mulherzinha - até quando o corpo aguentou e eu resolvi dormir o sono das pessoas abatidas pela gripe "filina"; mal cabendo em mim de antecipação ao pensar que faltavam apenas dois dias para eu ter de volta o meu amado, idolatrado, salve, salve edredom cheiroso, limpinho e quentinho (ele estava além do sujo e eu sem grana para mandar lavar, dormindo coberta por 3 lençóis e eu odeio lençol).
Quando meu corpo parou de latejar e eu comecei a cair no sono risadas e tiros de metralhadora me acordaram de supetão. Aparentemente, os mesmos vizinhos que deram uma festinha na terça-feira da semana passada haviam resolvido dar outra festinha e os vizinhos de cima resolveram assistir algo na tv que seria responsável pela saraivada de tiros.
Eu não sou uma vizinha que reclama. Detesto essse papel. Já existem 3 outras vizinhas que se prestam a ele e eu sempre me obrigo a pensar que ainda sou jovem e que virá o dia em que eu vou resolver dar uma festinha eu mesma e fazer barulho eu mesma - a diferença é que nesta terça, nesta noite, eu estava doente, doída e tinha que acordar às 5 e meia da manhã dia seguinte.
Ainda assim me resignei, peguei o livro de novo, fui fumar na varanda, futuquei as cutículas (Meu Reino Por Uma Manicure!) e, quando diminuiu a emoção, voltei pra cama.
Mais uma vez, num momento onde eu estava até babando no colchão, gritos, urros irados me tiraram do estado de torpor. Um dos casais do prédio havia resolvido ter uma discussão acalorada, com direito a palavras de baixo calão, portas batendo...
Na Idade da Pedra eu já fui parte de um casal também, então, mais uma vez me resignei.
Olívia dormia um sono pesado e solto e eu tive muita inveja dela.
Peguei o livro de novo, tomei uma aspirina porque o alto das minhas costas parecia ter sido torcido tal e qual a gente faz com tiras de plástico bolha e resolvi tomar um banho bem quente enquanto o casal resolvia acalmar os ânimos.
Dentro da banheira tive tempo de descobrir mais um aspecto importante da minha relação com os espécimes do sexo oposto - a análise havia começado à tarde, durante um papo com um amigo, a catarse dentro d'água seria apenas um encerramento para uma questão que nunca se encerra; mas que eu compreendo cada vez mais.
Na saída, limpa, quentinha, de repente encontrei dois caracóis na minha janela. Me toquei que não tenho a menor capacidade de distinguir quem são eles realmente - Sidney, Nancy, Maria - e pude ver que nenhum dos dois estava sem concha, o que me levou a perceber que eu não tenho a menor idéia de quantos deles existem na jardineira (ou eu tive um delírio) e começar a considerar a possibilidade de exterminar todos eles em breve.
Voltei pra cama.
Com o advento da solteirisse, meu colchão começou a ganhar forma, afundar, apenas de um lado da cama. Tem seu lado confortável, mas também tem seu lado deprimente, então lá fui eu mudar de lado para tentar moldar os dois lados - ou o meio - ao formato do meu corpinho de sereia. E isso também não é fácil. Nem confortável. Mas, uns vinte minutos e dez viradas variadas depois, caí no sono...
...Para ser acordada novamente!
Dessa vez meu algoz era um caminhão de lixo, entulho, a porra que for porque da minha casa não se enxerga a rua - mas se ouve.
O caminhão manobrava, rugia, um cabra do lado de fora gritava o que eu imaginava serem comandos de manobra. Quando eu achava que ia acabar, lá vinha o rugido furioso de novo.
Levantei.
Peguei o livro de novo.
Abri a janela.
Acendi um incenso.
Levei o cigarro pro quarto - foda-se.
Peguei o resto do sorvete - foda-se.
Sentei na minha poltrona e, entre uma colherada de sorvete e um parágrafo, tive tempo de pensar que a razão deu passar o mês de dieta e não emagrecer nem cem gramas estava ali, naquele pote de sorvete, na minha noite mal dormida, na minha gripe, nos meus problemas hidráulicos correntes...
Cheguei à conclusão de que faço dieta o mês inteiro para poder ficar menstruada feliz, passar pela TPM feliz e ficar de mau humor feliz, podendo me entupir de chocolate até que ele saia pelos ouvidos e eu possa morrer de culpa no dia seguinte quando os culotes resolverem saltar para os lados ameaçadoramente numa existência nada feliz em termos gerais - o que me levou à conclusão de que todo aquele papo que eu ouvia de que depois dos 30 fica muito mais difícil emagrecer não só é verdade, como é muito cruel.
Mas fodam-se os culotes. Eu não ia conseguir acordar na hora no dia seguinte, não estava me sentindo bem, minha vida amorosa, além de inexistente, é tão errada que deveria ser usada como exemplo de tudo que dá errado, estou tão dura e tão de saco cheio de estar dura que nem rezar para ganhar na mega sena eu rezo mais, minha monografia foi por água abaixo até segunda ordem, e mais, muito mais... Então fodam-se os culotes.
De repente, o silêncio.
Minha vontade, vontade mesmo, id, era enfiar a cara na janela e gritar bem alto:
- Agora acabou? Agora eu POSSO dormir? Ou alguém aí vai dançar sapateado?
Mas eu não gritei.
Fechei a janela.
Voltei pra cama.
O alto da coluna já doía de novo.
Resolvi atrasar o relógio em meia hora, já que o atraso era inevitável. Banho pra quê, não é mesmo?
Achar a posição foi mais fácil dessa vez.
Acabou a noite.
E acordei atrasada de novo.

terça-feira, abril 28

...E o Sidney, hein?
Coitado...
Na última grande chuva o mané perdeu a casinha, o que me levou à conclusão de que ele é, de fato, um caracol burro pra caramba; mas não é que mesmo sem a casa, lá tava o bicho, vivinho?
Pode ser burro, mas é highlander de verdade - e só por essa já merece todo o meu respeito.

Meu Novo Luxo

Uma das conseqüências de ser uma moradora de Botafogo, além de estar rodeada, afogada, sufocada de cinemas por todos os lados, graças a Deus, é que passei a utilizar o metrô como forma de locomoção preferida.
Preferida em todos os termos da palavra - até para a observação da flora e fauna locais.
Sem entrar no mérito caótico da coisa (só o vagão de mulheres, por exemplo, merecia tese de mestrado!), metrô é uma das invenções mais geniais da nossa era. Minhoquinha gigante embaixo da terra. Vuuuuuuiiiiimmmmmmmm!!!
(Vocês vão ter que me desculpar; estou gripada sob o efeito de remedinhos, posso alucinar um pouco.)
E então, eis que chega ao Rio de Janeiro a melhor invenção que o metrô já inventou e que já existia no reino tão, tão distante de São Paulo: a biblioteca do metrô!
O lance é que o primeiro posto era lá na estação lá longe da Central, Praça Onze, um lado distante desses que a Madame Zona Sul não freqüenta nem por acidente.
Mas, como eu não devo ter sido a única pessoa do mundo indisposta a mudar o itinerário e ir dar uma voltinha lá na Zona Norte só pra pegar um livrinho de grátis, o povo teve a sapiência de inaugurar mais um posto aqui do ladinho, na nossa amiga e bombadona Estação Siqueira Campos!!!
Fui lá, olhei, cheirei, namorei... Durante meses...
Só folhetinho descritivo de todas as coisas e papéis que a pessoa precisa pra ter a carteirinha eu devo ter pego umas 3 vezes...
Enfim, com a crise e o meu momento astrológico combinados, tomei coragem, xeroquei todas vias de papéis (depois de levar um tempo descobrindo aonde eles estavam, claro) e encarei meu cadastro.
Mais que o meu cadastro: meu e da Olívia!
Apesar de todos os obstáculos colocados pelo povo, eu venci!
Uma semana depois, carteirinhas na mão (aliás, estou morrendo de vontade de perguntar porque cargas d'água demora-se uma semana para confeccionar uma carteirinha tão peba num sistema tão moderno, informatizado, etcétera e tal, mas tenho medo que me expulsem do clubinho), peguei meu primeiro livrinho - que foi devidamente devorado ao longo do final de semana.
E então eu, esta moça zen, nada nervosa, ansiosa e tal, acabei acabando (eu sei que vocês detestam, que não se escreve assim, mas eu adoro, adoro, adoro) o livro no domingo.
Domingo a biblioteca não funciona.
Muito justo.
Tem uma caixinha de devolução "feito a blockbuster", me disse o atendente. Eu nunca usei caixinha da blockbuster, nunca fui sócia da blockbuster, mas não disse isso pra ele com medo de ser expulsa do clubinho.
Comecei a me coçar toda.
Devolver mais cedo é mais honesto com os outros leitores, afinal, eu já li, não preciso mais do livro dentro da minha casa - até porque corro o risco de me apaixonar por ele e resolver incorporar o cara à minha coleção ou realmente esquecer de devolver pra biblioteca - mas, e se eu puser na caixinha e alguém pegar? Como é que eu vou provar que pus, de fato, o livro na caixinha? Eu não confio em caixinhas!
Foi meu dilema do dia.
Só não foi maior porque o porre da noite anterior, onde pipocaram mensagens bêbadas para quem eu não devia ter mandado mensagens bêbadas, dividiu espaço dentro desta minha cabeça ocupada.
Resolvi o dilema dizendo a mim mesma que eu deveria deixar de ser old school, caretona e desconfiada e confiar no raio da caixinha; que eu só poderia estar fisicamente no balcão novamente mais para o fim da semana e que isso ia privar uma pobre alma do prazer da leitura e não era justo.
Devolvi.
Do meu lado tinha um cara olhando a vitrine (sim, a biblioteca do metrô tem vitrine!), e, imediatamente eu pensei: "e se esse cara enfiar a mão ali dentro e pegar o livro?", que foi imediatamente substituído pelo: "será que amassou o pobrezinho?"; que foi substituído pelo: "vou ter que dar um jeito de vir aqui antes ver se o moço achou o livro direitinho senão não vou conseguir dormir o resto da semana".
Não tem jeito, não confio na caixinha.
Definitivamente sou do tipo que prefere gente para essas coisas.
Mas, tirando isso, não é um luxo?
"Documento com foto, por favor, senhora"...
(Odeio, odeio, odeio, mas hoje me chama de senhora todos os dias e assinalar que é 'senhorita' já deixou de pegar bem...)
...E a senhora aqui vai e tira a carteirinha da biblioteca!
Luxo!
Adorei!
Hahahahaha
Fora que, com livro, a senhora aqui vai praonde nêgo cavar o buraco na maior felicidade!
Não tem muita coisa ainda, mas eu recomendo do mesmo jeito. :)

quarta-feira, abril 15

O atraso

Às quartas-feiras meu dia começa 5:30 da manhã.
Apesar de só precisar pôr o pé na rua uma hora e vinte minutos mais tarde esse tempo é o que eu preciso para despertar, tomar minha garrafa térmica de café, comer alguma coisa qualquer, tomar um banho (em nome da boa higiene e dos narizes das pessoas que vão estar ao meu redor durante todo o dia), arrumar a mochila da criança, acordar a criança, dar alguma coisa para ela comer e vestir a nós duas.
Há mais ou menos um mês, com todas as coisas todas que têm acontecido na minha vida, essa tarefa ficou difícil e eu tenho acordado com algo em torno de uma hora de atraso. Ainda é cedo e tem ficado escuro às 6:30 da manhã.
Prever o tempo é uma tarefa impossível e, freqüentemente, eu mando a criança de short quando chove ou calça comprida quando faz um sol nigeriano.
É uma rotina puxada pra caramba.
Meu sono tem sido mais forte justamente quando o despertador costuma dar sinais de vida - que costuma ter o som incorporado ao meu sonho corrente - e o resultado é um despertar caótico, onde só me falta vestir meias na cabeça e é comum que eu esqueça alguma coisa que ela precise levar para o colégio e pentear os cabelos de ambas é artigo de luxo quando um bom par de grampos dá conta do recado (Amém à moda dos cabelos cuidadosamente despenteados!).
Hoje, porém, me dei ao luxo de atrasar um pouco. O mundo todo se movia rápido demais pra mim e cada vez que eu ia olhar o relógio, depois de ter feito qualquer coisa, haviam se passado dez minutos. Assim, acabamos saindo bem mais atrasadas que a encomenda.
Nestes dias, ambas saímos segurando uma maçã que comemos enquanto vamos caminhando rua abaixo.
Hoje, meus olhos mal se abriam. Parecia que eu estava numa ressaca fenomenal - daquelas que têm me feito falta à alma e que anseio para o próximo sábado como se não houvesse amanhã.
No fim da rua, uma família muitas vezes maior que a minha, com cerca de uma dúzia de pessoas entre adultos e crianças ainda de colo, ainda despertava preguiçosamente, confortavelmente refastelados sobre seus pedaços de papelão e cobertores puídos.
Meu espanto foi por ver que eles, que a esta hora já costumam estar frenéticos, ainda estavam por ali - também atrasados.
Na outra esquina, porém, o casal já estava na porta da padaria.
Ela não deve ser mais que uma adolescente. Magra, despenteada. Ele é mais velho, deve estar em torno dos 25 anos.
Todos os dias eles e o cachorro estão na porta da padaria - deduzo eu que esperando por um pedaço de pão ou algo parecido.
Nunca incomodam os passantes e normalmente já se foram quando eu faço o caminho de volta. Nosso encontro é muito rápido, mas nunca desapercebido.
Eles não estavam atrasados.
Na frente do colégio, ao invés de carros de variadas formas, cores e marcas também estavam atrasados e não estavam lá. A rua parecia ainda adormecida, as professoras, coitadas, pareciam ainda adormecidas.
Mal registrei ter entrado dentro do ônibus e o percurso que este fez, mas quando bati o olho na Lagoa e no sol brilhando entre as árvores floridas ali em volta, toda a beleza da vida veio - inteira.
Lembrei porque tudo isso vale a pena e esqueci totalmente do atraso.

terça-feira, abril 14

Velha desmazelada

Hoje eu queria deixar aqui registrado que faziam anos que eu não tinha um semestre tão ruim dentro de uma instituição de ensino.
Ando me sentindo uma retardada completa.
Meu novo vício é um joguinho online num site dedicado a adolescentes imberbes, o coelho da Páscoa me deixou de presente um novo "Banco Imobiliário", que eu andava super de olho, mas tinha uma vergonha imensa de comprar pra mim cada vez que olhava na caixa que é um jogo destinado a crianças de 8 anos em diante; a nerd que habita meu ser, que geralmente fica em polvorosa nos primeiros semestres porque já existe a ida a FLIP programada e paga e as "provas finais" sempre coincidem com a data da viagem, descobriu que as datas este semestre não vão se encontrar e resolveu tirar férias, me deixando sozinha e empurrando com a barrigada cada trabalho que me é passado até a véspera da entrega, quando são feitos com o maior desmazelo do universo; a Bree que também habita meu confuso ser multipersonálico (se é que existe essa palavra), também entrou em greve, só emergindo vagamente quando os poodles de cabelo passam a ser visíveis pelo chão da casa e ao ponto da minha filha reagir com surpresa dia destes: "Nossa, mãe, não tem louça na pia!!!".
Ainda que eu saiba o motivo real de tudo isso, queria deixar registrado que de vez em quando faz bem e que eu deveria, mas não estou nem aí.

(...Enquanto isso, a monografia manda lembranças, mas a pesquisa tem me sido deveras instrutiva... Assunto para outra hora, claro.)

quarta-feira, abril 8

Olhar alienígena

Estava eu lá, sentada na minha maravilhosa poltrona de balanço que eu ganhei há duas semanas e pela qual estou imensamente apaixonada, quando um casal começou a dançar no seriado que estava rolando na tv e eu estava vendo só por ver para poder ficar sentada mais um pouco no meu ninho.
Aquela cena me fez realizar o quanto o ato de dançar é uma coisa ridícula.
Como o ser humano é ridículo.
Pensa bem: fica um bando de gente sacudindo o corpo quando ouve um barulhinho (ou barulhão). Alguém já reparou nas caras das pessoas? Alguém já reparou nos passinhos? Alguém já parou para pensar na peculiaridade que é essa coisa de gente dançando, além de eu mesma, é claro?
Eu fiquei vendo lá o negão cheio de sorrisos, jogando os braços pra lá e pra cá, enquanto a parceira dele se sacudia que nem uma minhoca com dor de barriga na frente dele. Os dois no meio de mais um monte de gente pipocando em volta, espremido, sem espaço, só porque algum outro alguém resolveu brincar de tocar piano ou violão ou saiú por aí cantando sobre o último namoro que deu errado - aliás, cantar também é uma coisa estranhíssima!
Fiquei imaginando se um alienígena visse aquela cena.
Fiquei imaginando esse ser pensando exatamente como eu penso grande parte do meu dia dentro do universo acadêmico: "Muito manés...".
Meu pensamento acava de uma forma totalmente diferente, mas quando sentei para escrever, começou a me dar pena.
Eu gosto de dançar.
De certa forma eu sempre tive noção do quão ridículo é o ritual - tanto que eu detesto me ver dançar - mas gosto.
Gosto de cantar.
Estranho. Estranho demais essa coisa da gente fazer som e pôr pra fora e isso ser legal, mas gosto.
E se, depois de começar a observar essas coisas, estranhar e achar um ritual profundamente patético, eu implicar comigo mesma e resolver bloquear qualquer tentativa que meu corpo faça de poder ser esquisito?
Porque eu já não ando querendo falar. Falo. Quando bebo continuo falando pra caramba, inclusive. Mas no dia a dia passo horas e horas e mais horas sem dar um pio. Só falo em caso de necessidade, de um interlocutor me enchendo o saco. Então só o que me falta é resolver parar de cantar e dançar, não é, não?
Próximo passo: morar em algum lugar isolado, pelada e peluda e passar a fazer parte de uma família de cabras selvagens.
Ai se os alienígenas olhassem para mim!

segunda-feira, abril 6

Ressaca Moral

Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Porquequeeufuibeijaraquelecara, peloamordeDeus? Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Pustadesperdíciodesaliva... Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga!Porquediaboseuaindasintotantafaltadadrogadomeuex? Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Porqueétãodifícilseradulta,caramba? Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga! Porqueéqueeunãoganheiaindanamegasena? Azarnoamordeviasercompensadoseriamentecomumamegasena... Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Porquediabosagentetemquefazer4anosdefaculdadeprapoderterumsubempregodemerda? Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga! Equemfoioviadoqueinventoumonografia? Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Euqueriamuito,muitoumafaxineiraporquenãoaguentomaislimpartudosemparareestoucomcalodevassouranamão,oqueéumamerdamuitomaiorquequalquercelulite... Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga! Precisoquebraressadrogadesseencantamentovoodooquelançarampracimademimporquetáfoda. Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga! Algumacoisatemquecomeçaradarcerto. Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!Aiquedroga! Aiquedroga!

domingo, abril 5

Pirando...

Sonhar não anda lá muito possível.
Ando precisando de coisas palpáveis, reais.
Infelizmente, o real também não anda lá essas coisas.
Tudo enrolado, novidades desanimadoras, falta tudo – no sentido literal de tudo.
Meu horóscopo manda eu ter paciência há uns dois meses ou mais – e eu ando tentando ser paciente, mas agora já estou é bastante agoniada com a vida.
Então, quando até os sonhos me trazem agonias, eu resolvi ir ao cinema.

E então eu olhei lá pra cima e pensei:
“Quando será que se lavam as cortinas da tela?”.
Não sei se alguém que não seja eu já reparou nisso, mas, em volta da tela existe uma cortina. São metros e metros de tecido. Metros e metros de poeira em estado bruto. Bacana, né?
Fiquei um pouco enjoada...

E então eu percebi que durante essa última semana vi mais de 10 filmes – uma tentativa de me refugiar em qualquer outro mundo que não fosse o meu, assumida.
E então eu percebi que isso significa que eu vi 10 histórias diferentes. 10 histórias diferentes que eu guardei na memória. E aí eu pirei no número de filmes e livros que eu já vi e li ao longo da vida e que ainda vou ver e percebi o tamanho da quantidade de informação que cabe dentro de uma cabeça. Fiquei pensando que não era pra menos que a memória começasse a falhar com a idade. É impossível se lembrar de tudo.
Fiquei um pouco enjoada de novo...

E então, seguindo a lógica da estupidez, eu resolvi sair de casa.
E percebi o quanto eu me desperdiço em certas noites desnecessariamente.
Acordei enjoada.

Vou procurar um antiácido.