sexta-feira, maio 24

"Não tem nada mais ridículo do que uma pessoa tentando convencer outra. Trabalhei com persuasão minha vida toda, a persuasão é o maior câncer do comportamento humano. Ninguém nunca devia ser convencido de nada. As pessoas sabem o que querem e sabem do que precisam. (...) Não tenta me dissuadir. (...) Não tenta me persuadir. Persuadir uma pessoa a não seguir o coração é obsceno, a persuasão é uma coisa obscena, a gente sabe do que precisa (...)"
Daniel Galera, Barba Ensopada de Sangue.

quinta-feira, maio 23

Uma pessoa que, de repente, entra na sua rotina à fórceps.
Você ama, ela faz parte da sua vida, mas agora ela está ali, no meio da sala, quando você dorme, quando você acorda, quando você come.
É por pouco tempo, mas você pensa se não há de enlouquecer.
Você não sabe mais viver com outra pessoa.

Uma pessoa que, de repente, se encanta com você.
Você acha ela legal, mas não caiu dura de alucinação quando esteve com ela.
Você não sabe se são as cicatrizes que deram queloide, se foi o longo tempo na clausura, só sabe que toda essa vontade não é partilhada por você.
Você desaprendeu a se relacionar com outra pessoa.

Uma pessoa que, de repente, atrapalha a sua vida.
Você pediu, ela faz parte da sua vida, a culpa é toda sua e dos deuses que te armaram essa e ainda não explicaram por quê.
É a pessoa mais difícil com a qual você já topou na sua vida toda, que te obriga a ser a maior tocadora de castanhola do Brasil.
Uma pessoa que faz o que bem quer e acha que você pode fazer mágica, que nunca pensa que você tem outra vida também.
Você aprendeu a sufocar a vontade de matar outra pessoa.

terça-feira, maio 21

Era de manhã.
Fui tomar café ao som das marteladas devastadoras da obra do apartamento ao lado.
A cozinha meio que tremia e eu resolvi espiar a parede.
Já andava com medo dela cair.

Nessa manhã ela tinha caído.
Não toda, mas um buraco que não estava ali no dia anterior agora a adornava.
Compunham o quadro os pedaços de tinta e cimento que caíram no chão e um olho que me olhava do outro lado.

No meio de todos os pedidos de desculpas e paciência, desabei a chorar.

Chorei como não chorava há mais de um ano.
Chorei andando na rua, chorei andando no metrô, chorei digitando no computador...
Chorei por 5 horas ininterruptas.

Eu sabia, desde o início, que aquela água toda não era por causa do buraco.
O buraco era a cereja do bolo.
A água era por minha causa.
Eu chorava por mim e todas as coisas ruins que andavam acontecendo na vida.

De noite, uma dor de cabeça quase terminou o serviço de explodir com a minha cabeça.

Foi preciso um buraco para que meu buraco se abrisse e saísse de dentro dele tudo de Mal que havia no mundo.

quarta-feira, maio 15

É um conjunto muito grande de coisas.
Tratamento pra doença, tratamento pra emagrecer, tratamento pra parar de fumar, tratamento pra desencantar...
Hoje eu tive "alta" de um dos médicos que está me acompanhando. Isso foi bom.
Ainda falta uma parte, infelizmente.
Tenho tentando seguir a dieta, mas a falta de grana, a falta de amor, a falta vem atrapalhando.
Tudo bem, daqui a pouco tudo se estabiliza.
Comecei bem o primeiro dia tentando parar de fumar - no caso, por enquanto, policiar e diminuir; o parar vem mais à frente - mas falhei também, epicamente agora à noite graças ao ciúme, esse monstro que eu tento dominar há tantos anos, mas que sempre acaba me assolando quando eu menos espero.
O desencanto também vai mal, obviamente.
E o prognóstico é que as coisas não melhorem nas próximas semanas.
Tudo isso devia me desanimar, e desanima, mas, mesmo assim, tem essa estranha calma, essa vontade de continuar, essa certeza de que tudo vai melhorar.
Nos últimos 6 meses eu fui lá embaixo, eu quase fui, mas resolvi voltar.
Voltar, ficar e esperar tudo ficar bem de novo.