quarta-feira, outubro 24

Anteontem eu desenhei.
Quatro páginas, frente e verso, dobradas ao meio.
Lembrei de quando costumava passar meus dias desenhando.
Desenhos sempre tão secretos, tão cheios de sonhos e esperanças - viagens.
Tinha vários dias já que a vontade estava aqui, mas eu não sentava e botava ela pra fora.
Foi tão bom quanto costumava ser.
Ela deu amor demais a quem não merecia.
Quebrou, ficou estragada.

terça-feira, outubro 23

Tem chovido um pouco aqui e um pouco ali.
A essa altura eu já deveria ter comprado um guarda-chuva novo - o meu está moderadamente quebrado e o da criança sumiu no meio da bagunça que impera no nosso lar.
As semanas têm sido frenéticas.
Pequenas vitórias a serem comemoradas.
Uma passada de vassoura, dias de academia, um freela mixuruca que vai cobrir parte do rombo orçamental, uma meia dúzia de palavras de alguém que sequer me diz bom dia.
Lá fora raios e trovões se fazem presentes e anunciam a tempestade.
Acho bom que ela caia hoje.
Nos últimos meses a vigilância sobre a previsão do tempo é uma companheira constante.
Neste momento, um enjôo significativo toma conta do meu ser a cada avião que passa voando por cima da minha casa. Tudo que consigo pensar é como estaria eu, dentro do pássaro de ferro, se uma tempestade se fizesse anunciar.
A última viagem foi desconfortável.
Apesar de pouco balançar, do dia não estar feio, tudo o que eu queria era descer logo dali, sair de lá de dentro.
Se um trovão estourasse ao meu lado, com a força que estourou agora lá do lado de fora, talvez, provavelmente, nem os poderosos e milagrosos calmantes seriam capaz de me trazer paz de espírito.
Penso em cada uma das pessoas que têm medo como eu.
Que o que mais desejam é pisar em terra firme e ver os filhos, amantes, maridos e namorados.

Não tenho pensado em amantes, maridos e namorados.

Tenho pensado em contas correntes, trabalho e compras de mercado. Juros.

Todos subjugados pelo som ribombante que vem lá de fora e passa mais alto, cheio de outros sons, a cada vez ou outra.

sexta-feira, outubro 12

Amanhã - hoje, se a gente considerar que já deu meia noite - é Dia das Crianças.

Vai ter lanche, presente, uma série de firulas em torno da minha pequena criança.
Ela está que não se aguenta, já me arrancou um dos presentes dela.

Eu, por outro lado, não consigo ficar feliz.
Faço contas, bolo cardápios, e bem sei que não sou mais criança, mas, lá no fundo, tudo que eu queria era ganhar um presente também.
Um abraço só já me bastava.

quinta-feira, outubro 11

Ir na rua é preciso.
No caminho, carros não respeitam o sinal, pedestres não respeitam...tudo.
Uma bicicleta me dá uma cortada, um pombo quase me faz tropeçar em sua indecisão de ir ou vir, uma mãe brinca com uma criança lambuzada de sorvete, outro pombo me dá um rasante, pedestres demais no caminho.
Na loja parece véspera de Natal.
Muita gente, vendedores frenéticos que sobrem, descem, passam e não pedem licença.
Esbarro nos mostruários, começo a ficar tonta.
Minha agonia demora a passar, mas passa.
Tudo resolvido.
Não quero mais sair de casa.

terça-feira, outubro 9

É isso.
Dia de fúria.

(Re) começou quando eu lembrei da desfeita que uma das coleguinhas fez ao convite da festa de aniversário da criança ontem. Mesmo depois de uma aula de bullying por parte da minha psicanalítica mãe, não melhorou em nada a minha vontade de mandar ela dizer pra menina que ela só tinha sido convidada por educação.

Depois, soube que a escola programou um passeio pro dia da festa.
Fiquei com ódio.
Não só a menina vai perder o passeio, como pode ser que muitos coleguinhas desistam de ir por causa dele.

Aí, finalmente comprei as passagens para visitar meu irmão, depois de um mês tentando retirar as mesmas usando milhagens. Me deu vontade de ligar pro programa de milhagens e dizer que eu tinha comprado as passagens e eles podiam enfiar todas elas no cu.

Meu ex-chefe me dizendo que quando o projeto dele engatasse meu emprego estava garantido também não contribuiu em nada para o sentimento de inadequação financeira que me assola.

Aí pego um livro novo para ler e descubro que o final (trilogia) só deve sair em 2015.
Nunca mais compro uma porra duma saga literária que já não esteja totalmente publicada. Saco.

Odeio todo mundo, tá tudo errado e eu voltei a ter 15 anos.
Tem épocas em que ser adulta não é nada, nada divertido.
Tipo quando você não tem um puto no bolso, tá devendo a um monte de gente, não consegue emprego...
...E assume que está profundamente deprimida.

segunda-feira, outubro 1

...Numa outra definição, ser obrigada a virar esta página, me deu uma estranha sensação de liberdade, de poder cavar um novo começo, uma nova história, que tenha mais a ver com o que eu preciso.
E aí outro dia eu pensei como ia ser o dia em que ele arrumasse uma namorada.
Hipótese perfeitamente plausível.
Hipótese ontem confirmada.

Achei que fosse sofrer demais, demais, demais.
Triste, sim.
É o clássico da minha vida.
Mas sofrendo? Não.

Acho que ele precisa ser feliz, se dar outra chance.
Mesmo que não seja comigo, que já andava pensando em tirar meu time de campo de vez.
Por mais que a gente goste das pessoas, às vezes elas não gostam da gente do mesmo jeito; é preciso saber reconhecer quando tentar, insistir, não traz benefícios ou muda coisa alguma.
Por mais que a gente goste das pessoas, às vezes é preciso deixar elas irem embora, abrir espaço dentro da gente; se libertar de histórias que nunca vão ser resolvidas.

Eu tenho problemas com esse espaço, mas...
...