quinta-feira, agosto 28

Parabéns, Flipper!!!
Agosto foi o mês com número de recorde de postagens no ano e você nem anda escrevendo todos os dias!

Mais uma de amor

E então meu namorado veio pedir para ler as coisas que eu escrevo.
Em dez meses de namoro, além de umas ou outras cartas melosas (porque eu sou adepta de cartas melosas clichê démodé piegas), ele nunca leu os meus outros textos.
Ele me viu sentada aqui escrevendo e quis ler, eu disse que com ele pendurado em mim eu não ia conseguir continuar a escrever. Ele reclamou, ficou bravo mesmo. Me acusou de esconder o jogo e ficou me rodando que nem mariposa em volta da lâmpada pra ver se conseguia ler uma coisinha qualquer (esse já é o terceiro compilado de baboseiras que sai esta noite; coisa rara, mas muito bem vinda).
A verdade é que eu tremi nas bases.
Uma coisa sem explicação razoável.
A única que ocorreu, é que se ele lesse, não gostasse e me dissesse, talvez eu ficasse bloqueada pelos próximos meses, quem sabe até anos – e eu preciso escrever.
Escrever pra mim é vomitar um monte de pensamentos soltos que vão se juntando e crescendo dentro da minha cabeça e que, eventualmente, acabam dando em alguma coisa – uma conclusão, uma descoberta, um relato de nada com nada – que, então, cede um pouco de espaço a novos pensamentos desconexos e me descarrega um pouco do peso que eu carrego de pensar em tanta besteira junta ao mesmo tempo; e pensar muito cansa, exige energia, dedicação, prática, ocupa um espaço terrível dentro do corpo da gente. Por isso que eu fico ruim quando não escrevo, quando perco pensamentos em pensamentos – é energia mal utilizada!
Quando eu escrevo, escrevo pra mim, apesar de quase sempre dialogar com um suposto leitor que se interesse pelo sei lá o quê que eu penso. Constantemente, não gosto do que eu escrevo, e o pouco que eu gosto, reescreveria à exaustão ao longo dos anos se resolvesse de fato me apaixonar e aprimorar esses textos. Tampouco acho que essas minhas egotrips e conclusões pouco lógicas da vida ao meu redor tenham qualquer relevância a quem quer que seja.
Mesmo assim, eu preciso escrever.
É a válvula de escape que eu uso hoje em dia, que já foi o desenho pra mim um dia.
Na verdade, eu acho que se existe alguém que lê isso aqui de fato, esse alguém deve estar com uma séria falta de coisas a fazer na vida. Posso até indicar uns escritores ótimos, uns livros fantásticos, histórias que realmente vão mudar a vida de alguém.
E mesmo essas explicações continuam a me parecer pouco razoáveis.
Eu submeti e submeto professores aos meus textos. Amigos. Parentes. Pessoas até que eu não conheço.
De nenhum deles nunca tive esse pudor literário todo.
Nem medo da crítica deles.
Críticas podem ser construtivas, certo? Ainda que eu mande elas todas às favas.
Aliás, medo é a palavra que menos se aplica – a melhor palavra eu encontrei ali em cima: é pudor.
Pudor, sim. Pudor de mostrar um lado meu que eu não tenho o costume de mostrar às pessoas ao vivo e à cores. Um lado meu mais livre, mais personagem; onde as pessoas lêem uma pessoa, mas não estão olhando pra ela. Vêem uma pessoa, mas não estão me vendo – porque eu sou tímida, apesar do que a maioria acha.
Deixar que ele leia é equivalente a tirar a roupa, mas numa escala muito pior, onde eu vou me sentir embaraçada, vou torcer para ser aceita, para ser satisfatória. É como perder a virgindade de novo, correndo o risco de não gostar da coisa e nunca mais abrir as pernas de novo.
E eu não sei por que esse pudor existe.
Outros homens com quem eu estive envolvida no passado já leram esse bando todo besteira que passa pela minha cabeça. A pior conseqüência foi ter que convencer a todos eles que nem sempre, quando eu me referia à figura masculina ou a um interlocutor ou a um outro personagem qualquer, não era necessariamente com eles (não sei porque, mas todos eles achavam que eu só escrevia sobre eles, como se eu não tivesse mais o que pensar na vida); ou dar alguma satisfação de um texto vomitado em algum momento de mágoa profunda pós-briga – o que era um saco e eu detestava. Ainda assim, eu não tinha pudor.
Talvez eu não queira que acabe o mistério.
Sem mistério, o interesse diminui, o encanto se perde.
Eu deixo de ser um ser mítico – ou, pelo menos, essa minha parte deixa de ser.
Ele já me viu pelada, doente, chorando com meleca no nariz, gozando (não tem gente que diz que se conhece realmente uma mulher pela cara que ela faz nessa hora?), furiosa no meu nível mais atômico, feliz de explodir. Já dorme comigo e encara a coisa mais pouco glamourosa do mundo que é a minha cara de manhã, com mau hálito, cabelos desgrenhados e remela nos olhos. A gente troca fluidos, pelo amor de Deus!

Com ele, eu não sei explicar muita coisa.
Essa é mais uma delas.

(De repente, eu me lembrei daquelas mulheres que apareciam nos desenhos do Pica-pau, que eram todas lindas e usavam sempre um véu no rosto, que quando ele tirava mostrava que elas tinham os piores rostos do universo. Minha professora de Teoria da Comunicação ia ficar orgulhosa se soubesse disso!).

Por isso que dá errado...

Olha, eu juro que quando eu escrevi que estava me tornando um Mestre Zen, eu realmente me sentia como um. Infelizmente, o Universo resolveu que eu não vou ter esse privilégio.

Eu não agüento estudantes de 18 anos que não entendem a noção de respeito a um professor. Não agüento que eu perca pedaços importantes, interessantes e necessários para o meu funcionamento de vida, na vida, fazendo trabalhos de faculdade, quando eles não perdem. Não agüento ter que explicar as coisas 20 vezes pra ninguém.
Não agüento gente burra. Não agüento aquele bando de gente que anda na rua, pega ônibus, anda de metrô, enfim, vive no mesmo planeta que eu e não tem a mínima noção de educação. Não agüento aquele bando de gente que vive no mesmo planeta que eu e que nunca pensa como agiria se fosse com eles, com as mães deles, as esposas deles as faltas que eles cometem com as outras pessoas.
Não agüento com as pessoas que têm boca pra falar, mas são virtualmente incapazes de pronunciar palavras tão bacanas como “obrigada”, “por favor” e “com licença”.

Eu tento.
De verdade.
Até não carrego mais o bloquinho que tinha na bolsa para escrever reclamações de civilidade aos outros.
Conto até dez.
Tento achar lindos os passarinhos.
Cantar musiquinhas.
Levar em consideração todas as reportagens e tudo aquilo que eu ouvi sobre o poder do bom humor sobre as pessoas.
Me convencer de que essa coisa de monstro é da idade e, que, um dia, eu vou poder voltar a dormir feliz e contente.
Até de sol eu passei a gostar agora que comprei um par de óculos escuros!

Mas aí, sempre vem alguém e faz uma dessas coisas.

Mãe de mim mesma

Hoje eu virei a minha mãe.
Tomou um susto?
Eu também.

Para quem já tinha tido uma epifania esse mês, ter outra logo em seguida é foda.

Aconteceu quando eu estava entrando em casa.
Com a graça de Deus e mais uma ajuda extra, minha cupincha de faculdade me ofereceu carona pra casa duas vezes por semana. A carona é muito mais que bem vinda uma vez que voltar pra casa no final do dia, carregando duas mochilas e uma criança tão cansada quanto eu pra casa, num trânsito caótico e na alegre companhia das pessoas tão bem educadas que andam e dirigem os ônibus da cidade é matador; fora que ela é minha melhor amiga lá dentro e é sempre uma delícia poder voltar conversando mais com ela.
Sendo assim, cumpri eu o meu ritual de saída frenética da faculdade e fui buscar a minha filha bufando e correndo para, enfim, na volta pegar a carona. Assim como eu ando exausta e meu ritmo de vida frenético, o ritmo da pequena também anda, então logo que chegamos ao carro, ela resolveu tirar um cochilo durante a viagem. Nós viemos batendo um papo super animado, debatendo questões...políticas!
Quando eu desci do carro, veio.
Me lembrei da minha infância, onde os adultos – em especial a minha mãe – conversavam muito sobre política. Me lembrei de como eu achava aquilo um saco. Eu não entendia nada e não conseguia participar da conversa – muitas vezes, era até preterida da conversa. Sempre existia um “É? Que legal! Agora fica quietinha, filhinha, que a mamãe ta conversando com a tia...”.
Eu cresci e continuei a achar política uma coisa muito chata. Resolvi entender pouco do assunto (Freud explica) e tirando uma queda pelos vermelhinhos quando era adolescente (Tão passionais! Tão bobos! Tão bonitinhos!) e saber de cor os direitos do cidadão e consumidor, sustentei por muitos e muitos anos (até agora, para ser mais precisa) a bandeira dos apolíticos.
E então eu vi a minha filha no banco de trás do carro, com um olhar que suplantava o tédio, que de vez em quando tentava se meter na conversa para ouvir um “É? Que legal! Agora fica quietinha, filhinha, que a mamãe ta conversando com a tia Madê, ta?” e que, admitindo a derrota, resolveu dormir todas as vezes em que entra no carro junto com aquelas duas adultas chatas que falam sem parar sobre assuntos que ela não entende.
Me vi, de novo, fechando a porta do carro e terminando um ponto de vista sobre ditadura e afins – que anda tão em voga.
Aí, eu vi a minha mãe.

A pior parte é que a gente realmente não fica igual às mães da gente. A pior parte é que bate uma sensação terrível de que você é uma espécie de edição revista e ampliada – o que, no seu caso, quer dizer alguns adendos e um bocado de erros.

Até agora, eu ainda não resolvi se fico chocada ou orgulhosa porque realmente virei uma pessoa adulta, maçante, responsável, que gosta de ouvir música baixinho, tem cabelos brancos, cuida de plantinhas...

...Tem tempo já que a minha visão de futuro é uma casa no meio do mato, bailinhos de bolero no clube, aprender a fazer tricô, pintar os cabelos que me restarem de violeta e ter um bom par de chinelinhos com estampa de oncinha e pompons em cima.
Isso são sinais, não são?

(Só para que fique claro, minha mãe tem cabelos vermelhos, não vai a bailinhos, não faz tricô, não gosta de oncinha, ouve música alto, me acha uma cafona e usa roupas bem moderninhas, ou seja, dentro em breve, eu também serei a mãe dela – e duvido que essa constatação seja no bom sentido.)

segunda-feira, agosto 25

Epifania do Mês

Voltar às aulas tem aquilo, horário que muda e faz você ter que se reorganizar de uma forma quase que enlouquecedora e se transmutar numa mulher que corre todo dia o dia todo de cima pra baixo e de baixo pra cima e que não tem mais tempo de limpar a casa naquele nível psicótico que sempre te deixa feliz e a casa cheirando a qual for a fragrância mágica da vez e ter que aprender a fazer almoço todo dia, o que leva você a ter que ter coisas de almoço em casa todos os dias, o que leva você a ter que lavar uma cacetada de louça todos os dias – fora ficar com o coração absolutamente apertado de chegar no colégio e a sua filha ser uma das últimas a sair do estabelecimento.
Mas também tem rever os amigos queridos e pôr o cérebro pra trabalhar em algo mais edificante que plantio de marias-sem-vergonha. Ficar afogada em textos e trabalhos e monumentalmente amolada porque já está já lendo o mesmo livro (e não importa se o tal livro tem mais de mil páginas) há mais de duas semanas.
O momento máximo da minha volta às aulas neste semestre foi passar de novo por uma atividade que todos os professores praticam e que eu acho que devia ser proibido por lei, mas, que como eu já fiz à exaustão, se a gente levar em conta todos os meus anos de má e boa estudante, até que eu ando me aprimorando e achando muito divertido: o quem sou da primeira aula.
Na boa, perguntar prum cara que está entrando ou está no meio de uma faculdade quem ele é pode terminar em internação. Enquanto está dentro da faculdade e sem estágio e sem saber direito em que ele pensa que vai se especializar é maldade. O cara pode ter uma crise. Fora que, poxa, quem sou eu?
Sei lá quem sou eu! Já fiz anos e anos de análise guiada e auto-induzida tentando descobrir. Estou cá com uns livros que prometem me explicar o Big Bang, as moléculas; já sei que não vim duma cegonha ou de um pé de alface, mas com 15 anos eu era uma pessoa, com 20 outra, hoje, com 31, sou outra, entende?
Como esses caras iam se sentir se eu olhasse nos olhos dele e perguntasse “Quem é você?”. “Não, amigo. Quem É você? Qual a sua meta de vida? Porque você escolheu dar aulas aqui se você é tão maravilhoso assim?”. Aposto que ia ter suicídio coletivo ou licença médica por tempo indeterminado. Provavelmente eu ia criar uma nova geração de Profetas Gentileza.
Mas, enfim, mais uma vez, essa seção teve seu lugar na volta às aulas.
E eu fiquei muito feliz porque dessa vez eu assumi, descobri o que eu realmente quero na vida. Não que eu ache que isso vai acontecer mesmo. É mais provável que eu ganhe na Mega Sena do que consiga realizar isso, mas...
Dentre o meu conjunto de manias habituais (eu preciso ter umas 4 ou 5 ativas para sobreviver feliz), novamente estou com aquele ataque de que eu preciso ler, preciso ler e preciso ler mais. Que existem muitos livros, muitos mesmo. A minha lista de livros a comprar só faz aumentar – coisa de 9 ou 10 novos desejos toda semana. Eu brinco que eu e a Olívia ultimamente estamos brincando de cobiçar. Ela cobiça ter todos os brinquedos das Lojas Americanas, eu cobiço ter todos os livros do Mundo (ta bom, todos não porque eu não acho que vá ler várias coisas do tipo “Neuroanatomia funcional” ou “Gossip Girl” ou...). É saudável, ainda que bastante pecaminoso.
Assim, eu descobri que o emprego dos meus sonhos seria que alguém de fato resolvesse me pagar para que eu lesse coisas. Que ia ser uma maravilha muito maravilhosa ser paga para ler livros ao invés de só gastar dinheiro com eles!
Porque, apesar de existirem alguns livros na minha casa que eu mesma ainda não li, de existirem centenas na casa da minha mãe que eu ainda não li, de estar tentando terminar o tratado nipônico e já ter mais uns três livros que eu preciso ler para a faculdade na fila esperando, ainda assim, hoje encomendei mais 4 livros.
Estou morta de felicidades! Mal posso esperar pela caixa chegando aqui em casa e eu pegando neles e sentindo o cheiro de novo deles! Livro novo é uma coisa tão, tão linda! Vai ser uma espera deveras dolorosa e lá se vão mais vários dinheiros e eu tenho certeza de que, quando eles chegarem, já vão existir mais vários outros livros na lista tomando o lugar deles. Por um lado, respiro aliviada porque existe leitura para vários meses – inclusive aqueles em que eu não vou poder comprar nenhum livro; se bem que ultimamente eu ando deixando de fazer algumas coisas para poder comprar pelo menos um todo mês.
Mas não ia ser genial? Me pagam para ler um livro (que pode até ser uma bomba, eu não ligo; uma pessoa com o meu passado de leitura não morre infeliz com nada na vida) e eu ainda ganho o suficiente para comprar mais livros legais! Não é genial?
Agora que eu descobri isso, vou rezar todas as noites pra que aconteça.
Enquanto isso, vou convivendo com essa doença tão angustiante e maravilhosa que é gostar tanto de livros.

O Gato


Tô apaixonada pelo Yoda - sim, ele que é o gato de 4 orelhas a que eu me referi no post anterior.
Até lancei campanha: se alguém achar outro com 4 orelhas, eu adoto e ainda chamo de Yoda também. Hehe

E então, fim de semana...

Ando às voltas com vários textos e trabalhos de filosofia, então eu estava aqui pensando – como todo mundo sabe, eu penso muito; penso tanto que até esqueço de coisas que pensei e achei que faria alguma diferença no meu mundo escrever – e me toquei que eu tenho dois amigos filósofos, o que por si só já é um feito e tanto, convenhamos.
Quantos amigos filósofos você tem? Com doutorado e o caralho? Que são, assim, amigos do coração? Que valem horas de papo em qualquer birosca podre de beira de estrada? Então, é um feito que eu tenha logo dois.
E percebi que ambos os dois (ai, é feio, mas eu adoro!) foram morar fora do Rio, em cidades escondidas no Centro-Oeste do país, contratados por faculdades dessas cidades escondidas. No caso de um deles, a escolha foi feita simplesmente porque ele não conseguia vaga em nenhuma faculdade pública do Rio.
Aí me veio uma idéia muito doida na cabeça de que o centro-oeste está de complô contra o pessoal do Sudeste levando embora os filósofos todos para que a gente nunca aprenda a pensar sozinho em várias coisas super importantes, continuemos a ser governados por pessoas com apelidos vexatórios e afundemos-nos em merda e eles possam passar a ser as verdadeiras metrópoles do país.
Assim, eu saco muito pouco ou quase nada de política. Eu só fui saber que estamos tendo campanha para prefeito essa semana e ainda assim porque fui obrigada. Eu sabia que tinha campanha, sabia quem eram os candidatos, mas é um assunto que eu acho tão chato (e nessa parte eu aceito todo o mea culpa que me cabe) que me é muito mais divertido saber que existe um gato de 4 orelhas chamado Yoda morando nos Estados Unidos. Só não morro de culpa porque os caras em quem eu voto nunca vencem (a exceção do nosso senhor presidente da república, que só me dá alegrias – isso foi uma ironia – e talvez seja o grande culpado deu não querer mais saber pra que raio de cargo o próximo fazedor de besteiras concorre) e porque eu sei bem dos meus direitos mesmo que eles me sejam garantidos, na maior parte das vezes.
Mas, assim, é muita viagem da minha da minha parte supor que existe um complô para emburrecer geral além da salvação ou é só porque eu sinto muita falta deles?


Eu queria escrever mais.
Dizem lá meus ídolos... Ai, pára! Ídolo é demais...
...As pessoas a quem eu admiro, que a gente deve escrever um pouco todos os dias. Sobre qualquer assunto. O gato da vizinha, a filha que canta atirei o pau no gato enquanto vai ao banheiro – ou seja, as coisas que eu faço mesmo.
Agora, essas pessoas que eu admiro só não me disseram até hoje como é que a gente pode escrever todos os dias se tem que dormir, arrumar a casa, estudar, cuidar de filho, terminar de ler “Xogum” e outros milhões de afazeres de mundanos (além de manter a beleza da cútis) e fazer sobrar tempo para conseguir sentar e escrever, ainda por cima!
De novo, cá estou eu brigando com o tempo, naquela minha fase que eu acho que ele é um canalha e que eu precisava de um dia bem maior pra poder dar conta de tanta coisa junta, junta.


Além dos meus trabalhos, quando me sobra um tempo, tenho tentado escrever a alguns amigos que estão longe de mim. Hoje em dia, infelizmente pra mim e felizmente pra eles, são vários. Então, hoje saiu isso – é só um pedaço do e-mail mais comprido que escrevi nos últimos meses...

“Felicidade pra mim é isso; meus amigos perto, bem, aparecendo de vez em quando; minha família numa boa; meus livros lindos e cheios de histórias bacanas; meus textos que eu nunca gosto e que nascem sozinhos; fazer almoços longos aos domingos de novo; o sorriso da minha filha – que é, de longe, uma das crianças mais felizes e bacanas que eu conheço.
Enquanto eu escrevo esse e-mail super longo para mandar segunda-feira, é sábado de madrugada, a cidade lá fora ferve, coisas acontecem, pessoas se conhecem e se beijam e nada mais disso me incomoda. Num quarto, minha filha dorme, no seu quarto todo cor-de-rosa, como ela escolheu, afogada no meio de um monte de brinquedos; na sala, Arnaldo está vendo o último jogo de vôlei das Olimpíadas e eu, no quarto de hóspedes, posso dizer que hoje eu estou feliz e preciso comprar beterrabas. :)”

Por mais surpreendente e demagogo que possa parecer, eu realmente não sinto mais aquele comichão do sábado à noite, aquela sensação de que existe algo sendo perdido. Um dos meus amigos filósofos bem disse hoje que eu pareço estar satisfeita. Satisfeita não é bem a palavra; neste momento de epifânia eu gostaria de declarar que estou me sentindo quase que um Mestre Zen.


Sim, Mestres Zen têm que encarar longos caminhos para chegar ao caminho da iluminação. Esta semana tive vários embates com a minha quase adolescente de apenas 3 anos, envolvendo legumes e bichos-papão. Como me é peculiar passei pela conversa, pela gritaria, cheguei no choro e saí com a sensação de ter sido atropelada por um trem. Me consola ter uma mãe psicanalista que me diz que essas coisas são normais e que passam quando a minha filha fizer uns 45 anos. Não é nenhum Paulo Coelho, a D. Maïsa, mas bem que quebra um galho. Hoje, o dia foi só de alegria e amor!


Talvez eu mude o meu nome pra Yoda.

Aprender a falar como ele eu já sei e essa semana aprendi sofismas. Talvez eu comece a trocar as minhas redundâncias por eles.

- O cão late.
- O cão (constelação) é uma estrela.
- Logo, a estrela late.

Genial.

Registro

Ponto Alto Das Minhas Férias:

...Cheirei até o cangote...

Minhas Férias (Escrito quase no fim delas, há mais de um mês atrás)

As pessoas me lançam olhares de inveja – dentre outras coisas – cada vez que eu digo que estou de férias.
Bom; eu tenho mais uma Verdade Absoluta para revelar: 85% do tempo não existe nada digno da inveja – dentre outras coisas – por parte das outras pessoas.
Minha fabulosa e amada rotina continua basicamente a mesma. Eu acordo, ou sou acordada; providencio a tão conhecida e mais importante refeição do dia, o café da manhã; leio o jornal, ou apenas passo o olho pelas manchetes conforme a relevância das mesmas para a minha vida e sabedoria latente ou meu estado de humor diário, que anda sendo bastante volúvel nas últimas semanas; boto a criança no banho, entro no banho, arrumo a criança, me arrumo, levo a criança pro colégio, volto pra casa; me vejo afogada entre roupas a lavar, casa para limpar, uma luta que já dura bem uns dois meses com a roupa para passar que parece crescer e tomar conta do quarto de hóspedes por mais que eu ande me esforçando um pouco que seja para dar conta dela, a louça para lavar que faz a gentileza de crescer de tamanho mesmo que eu insista em só me alimentar de “coisas em pacote”; depois eu busco a criança no colégio, venho pra casa, faço o jantar – quando faço – para encarar mais um capítulo da novela “é hora de dormir” e caio dentro do livro da vez; o que me lembra que meus olhos não andam lá grandes coisas. Os cabelos estão cada vez mais cabelos brancos; as unhas não sabem o que é uma profissional balizada há Deus sabe lá quanto tempo, as sobrancelhas só hoje foram receber um alôu da pinça. Fora o fato de que só a nomenclatura “férias” engorda.
Na maior parte do tempo eu continuo bastante cansada e cada vez mais sem o glamour que outrora me pertencia.
Ou seja, nada que seja digno de olhares enviesados.

Mesmo assim, uma ou outra coisa é capaz de me tirar da rotina e fazer destes dias, dias de férias.

Como quando eu cheguei de viagem, por exemplo.
(E paciência porque eu vou passar pela viagem em algum momento.)
Desde a minha chegada venho tentado me dar alguns momentos de relaxamento – coisa bastante difícil para uma pessoa tensa e ansiosa, ainda que em férias. Então, resolvi, logo no primeiro dia, que iria levar a criança ao colégio (O colégio dela não tem férias de meio de ano. Como mãe o primeiro impulso é achar uma maravilha e pensar no tanto que eu ia conseguir descansar, mas a prática não é bem assim. De qualquer forma, ainda é bem melhor do que deixar a bichinha em casa todos os dias e ficar quebrando a cabeça pensando em atividades ou gastar tubos de dinheiro com programas supostamente divertidos ou ficar me roendo de culpa por não ser tão criativa nem tão rica.) e depois aproveitar o sol que havia resolvido dar o ar da sua graça e dar um mergulho na praia. Fazer reverências, fotossíntese, sentir a energia, aquela areia toda podre no meio dos dedos dos pés e todas as outras dobrinhas que eu raramente sei que tenho pelo o corpo e todo esse papo hippie todo.
Assim sendo, lá fui eu, com a minha sacolinha plástica de praxe. Nadei pra cá, nadei pra lá... Achando ótimo ter a sacolinha que acabou me servindo de bóia em algumas ocasiões, tentando não pensar que bem que podia aparecer um tubarão com uma bocarra imensa aberta numa daquelas ondas sem que tivesse ninguém por perto pra me acudir, achando ótimo ficar à deriva... E então, uma hora eu cansei de brincar de náufraga e resolvi sair da água e me mandar, quando olhei em volta e percebi que tinha uma multidão parada na beira d’água e, virando de costas para ver o que era tão magnífico, tinha lá um pingüim. Amarradão. Totalmente banhista. Nada parecido com os do zoológico ou aqueles que a gente lê no jornal que chegaram exaustos e feridos e semimortos. Ele nadava, botava a cabeça pro lado de fora, espiava em volta, parecia que dava uma conversada com as pessoas atônitas que estava ainda dentro d’água e nadava de novo, repetindo o processo por algum tempo. Depois eu acho que ele encheu o saco e se mandou.
Eu também enchi o saco e me mandei.
Mas naquela tarde eu vi um pingüim na praia.
E isso não é uma coisa que eu vejo todos os dias.

Eu tinha algumas “resoluções de férias”.
Sabe, que nem quando a gente faz aniversário ou chega o ano novo que a gente faz uma lista com coisas e diz que vai fazer aquilo ou não vai mais fazer isto. A lista de férias é quase igual, com a diferença de que é uma compilação das coisas que a gente quer fazer nas férias porque no resto do ano não sobra tempo. A minha lista nem era uma coisa tão enorme assim, já que antes das férias meu único desejo vigente era poder dormir um pouco. Tudo bem que eu ainda não consegui dormir as 48 horas seguidas que sonhava, mas até que eu ando sonhando um bocado.
Enfim, a lista.
Além de modesta, muito lentamente eu ando conseguindo dar conta dela.
E foi assim que externei meu desejo de plantar umas flores nas minhas janelas. Externando este desejo, acabei ganhando duas mudas de presente, além de duas jardineiras. E, assim, toda e qualquer desculpa para não plantar as flores foi por água abaixo.

É que eu sempre achei que me faltava aquilo que as pessoas precisam ter para ter plantas em casa. Não basta sol e água. Tem que ter “mão” e eu nunca tive antes.
A minha glória – até agora – é um vaso de violeta que eu ganhei de uma das minhas melhores amigas logo no dia em que peguei as chaves de casa. Essa violeta sobreviveu à sinteco, pintura, poeira, mudança e, até agora, à mim.
Dos meus seis vasos de tempero, só três cismam em sobreviver – e ainda assim com um galhinho mais guerreiro em cada vaso. Nada que dê para fazer uma caçarola.

Mas aqui perto de casa tem uma casa (casa mesmo) que tem nas janelas duas jardineiras super floridas de maria-sem-vergonha. Eu sou uma admiradora de flores simples. Meu barato é a florzinha branca que nego bota de enfeite em buquê e que os floristas nem vendem avulso de tão renegada que ela é enquanto flor. E maria-sem-vergonha. Eu me lembro da minha felicidade quando era criança em ir a um jardim perto de casa e ficar catando aqueles casulinhos de sementes que elas têm para apertar! Nos últimos meses eu comecei a sentir uma inveja de doer das jardineiras naquelas janelas.
São lindas e eu queria pra mim também. Enfeitando as minhas janelas!
Minha confiança na empreitada aumentou quando me disseram o porquê do nome da florzinha com olhares que me garantiam que até uma retardada folial como eu poderia ter sucesso no plantio da mesma.

No dia seguinte ao meu aniversário (que foi quando eu ganhei as mudas), vim toda feliz contente e carregada pelas ruas trazendo nos braços as duas e pesadas jardineiras.
No dia seguinte, lá fui eu ao bazar aqui do lado para fazer a feliz compra da terra. Como havia sido instruída comprei dois tipos de terra, pedras para pôr no fundo do vaso e um adubo que eu achei simpático, além de poder ser uma bela ajuda. Segui todas as instruções que minha tia, minha mãe, o florista e o rapaz do bazar me passaram e plantei as mudas.
Na hora, fiquei com o desejo de que a vida fosse que nem desenho animado, onde a gente planta as coisas e elas imediatamente começam a dar flores e cantar e sorrir de felicidade. Mas, me convenci de que essas coisas levam tempo e de que eu precisava ter alguma paciência na vida.
Para meu espanto, ontem de manhã, a maria-sem-vergonha já tinha aberto uma flor. Hoje, mais duas.

A outra jardineira recebeu uma muda de beijo, uma parenta mais chique da m-s-v. Hoje de manhã ela estava deprimida, com os galhos baixos... Eu já estava achando que essa aí não ia dar em nada, que o lance era encher as janelas de m-s-v mesmo e me dar por feliz. Mas aí eu fui lá, falei pra ela que o lugar dela era destaque na casa, que ela era a estrela da minha janela e não podia ficar triste daquele jeito. Fiz um carinho. Totalmente retardada mental.
No fim da tarde eu fui lá ver ela de novo. Estou me sentindo de novo mãe de recém-nascido, que a gente fica olhando de dez em dez minutos pra ver se está respirando. Não é que as folhas deprimidas e os galhos baixos dela estavam de pé?!?
Fiquei embevecida com a natureza!
A natureza dos meus vãos, vá lá, mas ainda assim a natureza.
Foi imbecilizante e fantástico ver aquela planta toda em pé no fim do dia só porque levou um papo...!
Fiz a dancinha da felicidade e estou toda orgulhosa da minha casa ganhando forma, enfeite e cor.

Talvez pensando secretamente que nem tudo que a gente acha que não tem jeito é realmente tão sem jeito assim.

Okay.
Passaram-se dois dias desde que eu escrevi a parte de cima.
Retiro o que disse. O Beijo da minha janela não passa de uma planta chantagista e vil. Passei um dia inteiro fora de casa e hoje já estava ela deprimida novamente. Minha consultoria em jardins e afins levantou a hipótese de que ela seja o tipo de planta que precisa ser regada diariamente e por isso a depressão.
Há mais de um mês considero a hipótese de me livrar da saudade que assola o peito, me render e adotar um novo bicho de estimação nesta casa. O que me impedia era a sensação de que já tinha coisas e pessoas demais para cuidar, que um pouco de liberdade não faria mal a ninguém. Aí me arranjam o Beijo. Maldito Beijo deprimido que exige regadas diárias e conversas estimulantes! Se eu quisesse estimular alguém diariamente certamente teria escolhido outra profissão! Ai dessa planta se ela não crescer e ficar exuberante!

As Maria-Sem-Vergonha, sim, são meu orgulho e já florescem na minha janela.

Que nem nos desenhos animados.

Pela primeira vez desde que eu entrei de férias e tenho sido refém de todo o trabalho braçal das alegrias do lar, fico feliz em anunciar que não existem roupas na fila da máquina de lavar.
Pelo menos até amanhã.

E já há algum tempo, meu namorado perguntou qual era a cor do meu cabelo.
Não aquela que eu desfilo, mudo e as pessoas vêem na rua, mas a cor de cabelo que Deus me deu e que eu saí da barriga carregando comigo.
“Castanho”.
“Claro, escuro? Que tom de castanho?”.
Me fugiu.
Não lembro mais. Mais pro claro? Não sei.
“Então porque você não deixa de um pintar um tempo pra gente descobrir?”
“Porque vai ficar cheio de cabelos brancos. Eu não agüento os meus cabelos brancos.”
“Bobagem... Aposto que vai ficar lindo...”

Eu ainda não decidi se ele quer que eu fique mais bagulha do que eu já sou pra que outros homens não fiquem espichando o olho e tentem me comer e tal; se ele tem uma queda pelo lado bizarro da vida; ou se ele realmente não se importa e gosta de mim como eu realmente sou. Normalmente eu apostaria na alternativa “A”, mas juro que não sei o que pensar dessa vez.

De qualquer forma, resolvi tentar.
Assim como não me lembro o tom, não me lembro quando foi a última vez que encarnei a cabeleireira em mim e fiz aquela lambança de lama preta no meu banheiro.
Também não desisti daquela história de deixar os cabelos crescerem até os pés e serem meus amigos de fé e irmãos camaradas eternos.
Passei pelo dia dos 31 anos – um dia muito sem propósito, aliás – ostentando orgulhosamente 4 dedos de fios brancos e um tom de marrom nos cabelos que obviamente ainda não era o marrom virgem que eu esperava que fosse surgir. Meus amigos, muito educados e polidos, não deram um pio a respeito. Todos eles, ao longo dos últimos meses.
E então eu parei na frente do espelho.
Sou a primeira pessoa a dizer que bem orgulho dos peitos caídos e todas as mudanças todas que a idade trouxe pro meu corpo, mas sou um ser incapaz de superar a barreira dos cabelos brancos.
Nada me abala tanto.
Nem a monocelha, nem unhas desfeitas, nem pernas cabeludas, nem peitos caídos ou coxas moles. Cabelos brancos são a única coisa que eu ainda não consigo encarar, adquirir e viver em paz com. Com eles, meu ar, ar mesmo, fica mais lento, mais descuidado, mais pesado. Eu não sou pesada e descuidada – ainda que um pouco lenta mesmo.
Quanto mais tempo eu passei na frente do espelho esses últimos dias, mais apática fui ficando quando olhava e passava os dedos por aquelas cintilantes raízes brancas. Muito eu lutei. Queria não ligar.
Mas liguei.
Liguei, levantei da cama, passei na primeira farmácia que encontrei, comprei e mandei ver.
E, realmente, é impressionante o poder que existe num cabelo de cor uniforme! Passar o pente para dividir um cabelo que é todo preto feito as asas da graúna é quase tão orgástico quanto o próprio orgasmo em si. É completamente diferente de passar o pente pelas madeixas da sua avó (que Deus a tenha).
Não lembro do tom de castanho.
Não sou capaz de ser tão (escolha a sua palavra aí).




E após cinco meses de mudança, ainda existem umas três caixas estrategicamente malocadas pela casa, mas a adaptação não poderia ser mais perfeita!
Eu, que desde muito antes da minha filha sonhar em ser minha filha, reclamava que precisava mudar de ares, que morei a vida toda no mesmo prédio e na mesma rua e nunca tive um número tão abundante de vizinhos, estou perfeitamente adaptada.
Tudo bem, falta conhecer mais uns bares, provar alguns restaurantes novos e me enfurnar nas galerias sinistras; mas pela primeira vez, presenciei coisas nunca dante vistas. Hoje, quando saía para buscar a criança no colégio, quase vi uma batida entre um ônibus escolar e um cidadão que dirigia um pusta carrão achando que estava em um rali bem na minha frente! Teve cantada de pneu, sinal avançado e, por pouco, não voa vidro em cima de mim.
Não que eu nunca tenha visto uma batida antes; até fui coadjuvante em umas duas ou três, mas, como espectadora in live action foi a primeira vez.

Outro dia também, estava saindo, indo pro meu ponto de ônibus habitual (sim, eu já tenho um ponto de ônibus habitual) quando uma pessoa de bicicleta passou e levou o celular da orelha de uma moça – que, coitada, tentou correr atrás e chamar um guarda, mas, como a gente bem sabe, cabine de polícia no Rio é enfeite.
Eu já tinha ouvido falar, tenho uma amiga com quem aconteceu isso, meu pai passou por isso, mas em live action...

Eu já descobri que sexta-feira é dia do lixo.
Não lixo saquinho de lixeira de pia, mas lixo, lixo mesmo, daqueles responsa. Então, sexta-feira à noite, toda aquela população de rua toda sai de onde quer que eles se escondem - não que não tenha população de rua, tem; mas são poucos e morando por aqui a gente conhece todos eles, desde o velho esfarrapado que xinga todo mundo, ao outro velho que não tem o menor pudor de se aliviar no meio da rua no meio do dia – e a praia de Botafogo, que já é um lugar bastante movimentado ganha novas cores.

Notem bem que isso não é de forma alguma uma reclamação ou a pintura de um retrato feio, sou eu maravilhada com esse Novo Mundo!

Além disso, tem o pessoal do bazar que sempre morre de rir quando eu entro lá pra comprar alguma coisa, visto que eu sempre desempenho o papel de mulher atolada querendo se meter em alguma presepada quando isso acontece; a vagabunda da chinesa que eu sinto ganas de embolachar porque deu uma cantada no meu namorado; as caixas do mercadinho que riem de se acabar com a Olívia; as vizinhas que me param na rua para fofocar...
Um Mundo Novo!
To maravilhada!

Nesse meio tempo, eu tento ser uma mãe exemplar.
Claro que eu sou cheia de falhas e quebro minhas próprias determinações, mas uma delas é não ficar dando presentes sem parar para a Olívia, que eu costumo seguir direitinho, tirando um brinde de Mcdonald’s aqui e ali (quebra-cabeças e livros são liberados com uma certa parcimônia, tendo em vista o futuro intelectual da menina, assim como tintas, pincéis, lápis, papel, e tudo o mais que possa dar um empurrãozinho). Assim sendo, eu só quebro a regra do “pede de aniversário” quando ela passa uns bons 4 meses de olho num brinquedo específico – porque aí eu vejo que ela está realmente afins da parada e tento fazer um esforço para comprar pra ela; e ela, por sua vez, sabendo disso, exerce seu direito de desejar as coisas com todos os requintes. A novidade das férias é que quase todos os dias eu sou convencida a dar uma volta nas Lojas Americanas para olhar os brinquedos. Esse programa virou a saída para qualquer momento de tédio que eu possa vir a ter com ela pelos próximos anos, acredito.
Ela entra, olha, olha, olha, deseja, deseja, deseja e depois nós damos a volta e vamos embora.

Outra coisa que virou tradição diária dela, é sair do colégio, passar numa kone store que tem no meio do caminho, entrar lá dentro e dar umas reboladas ao som do que quer que esteja tocando na hora. Naturalmente, depois, viramos as costas e vamos embora.

Agora, imagina que vida fantástica não seria a nossa se bastasse desejar as coisas e rebolar em qualquer lugar, hein?

Um dos itens da minha lista de coisas a fazer nas férias era me permitir perder algumas horas de vida jogando joguinhos de computador sem ter que me preocupar em acordar de manhã cedo e cair na pauleira.
Até agora, um item esquecido e renegado.
Então, quando eu resolvi me dar este prazer, pegando emprestado um jogo novo com o meu namorado, empaquei logo no primeiro nível da parada, já morri umas 10 vezes de porrada e estou morta de ódio do jogo. Por outro lado, se adolescentes com menos da metade da minha idade (ai) conseguem matar a porcaria do monstro, sinto-me moralmente obrigada a conseguir também, mesmo que signifique o sacrifício de horas de filmes que eu poderia estar vendo ou livros que eu poderia estar lendo.
Nem que seja para desistir depois.

Por falar em livros que eu poderia estar lendo, já saquei que a minha meta de leitura para as férias não vai ser alcançada.
Baseado no princípio de que não estou nadando em grana e que existem um monte de livros que a família possui que eu ainda não li, tomei coragem (depois de visitar uma exposição sobre o Japão, claro) e peguei os dois volumes de “Xogum” na casa da minha mãe. Não sei que houve...
Só sei que eu já li uns 3 livros nesse meio de caminho, antes de pegar o próprio, e acabei de pegar mais um que eu devo terminar até o fim da semana. Eu tenho tesão por livro novo, sabe? De qualquer forma, algo me diz que duas semanas vão ser muito pouco tempo para que eu me orientalize e leia os dois volumes. Tenho duas opiniões (dadas de grátis por terceiros bem intencionados, se é que isso existe): a de que eu vou amar e a de que estou tentando cometer um haraquiri.
Pressinto uma coisa meio Dostoievski no ar...

E, para encerrar só este post, devo declarar que terei cortinas tapando o sol que bate na minha bela carinha todos os dias de manhã arruinando várias vezes as perspectivas de um dia feliz e uma dormida daquelas que vão além das 9 da manhã!

terça-feira, agosto 19

Para não dizer que não falei das férias...

...Fui à FLIP, tenho cortinas no quarto e penso todos os dias em não me levantar mais da cama, li alguns livros, vi alguns filmes, briguei com o namorado, fiz as pazes com o namorado, não escrevi muito, arrumei a casa menos do que deveria, vi alguns amigos, fiz 31 anos, plantei plantas que ainda vivem, pintei um quadro, me aborreci bastante, ri um pouco, andei, andei, andei e escrevi um longo texto já defasado que eu vou postar ainda essa semana só pra ele não se sentir mal amado.
Mas o resumo foi isso aí.
Voltei mais cansada do que fui e não foi nada demais.
Viu que bonito?
Nada de crescimento intelectual ou alguma epifania monumental.

Um e-mail e algumas considerações rápidas

"from: Felipe
to: Renata

Oiê!
Já estava pensando que você não ia me responder, que com tanta filha, faxina, faculdade e namorado já nem escrevia para os amigos... :)
Que bom, pelo visto está tudo bem por aí, você parece bem mais animada que da última vez que a gente falou.
(trecho que não lhes diz respeito)
E falando de excluída digital, você está chegando 10 anos tarde no Diablo, que já estão fazendo a versão 3!!! Eu gostava muito de jogar junto com a Dani em rede. Já passou do "The Butcher"? É o bicho mais ferrado depois do próprio Diablo. :)
Beijos e muitas saudades! Manda beijos pra Liloca e pra mamãe! E um abraço pro Arnaldo! ;)
Felipe

Date: Mon, 11 Aug 2008 17:28:59 -0300
From: Renata
To: Felipe
Subject: btw

esqueci de te contar que o arnaldo conseguiu fazer uma coisa que eu não imaginava nunca na vida: me deixar viciada em diablo!não pula ainda porque eu tô jogando o primeiro e ainda não terminei, mas penso em você toda vez que me sento no computador. :)"

...Eu descubro jogos com 10 anos de atraso, minhas bandas preferidas também já têm bem mais de 10 anos de vida, apesar disso comprei meu primeiro All Star pouco antes dos 31 anos, saí hoje pelas ruas de tranças no cabelo e fazendo a dancinha da abelha.
Sou praticamente uma velha gagá, como vocês podem ver.