sábado, dezembro 16

Sobre o Natal - II

Uma questão de Justiça.
Houve, sim, um tempo natalino muito feliz pós-infância.

Uma época em que, antes da noite de Natal, eu tive uma brilhante idéia.
Juntei meus amigos, que sempre foram minha família mais querida e que, em sua maioria, não possuíam obrigações familiares pelos mais variados motivos e ficavam tão macambúzios quanto eu no Natal, e instalei uma festa.
Instalar é é a melhor palavra neste caso.
Nós chamávamos a festa carinhosamente de "Pré-Natal", e, por anos a fio (uns cinco, se não me engano) ela aconteceu religiosamente no dia 23 de dezembro. Todos nos reuníamos, fazíamos um amigo oculto, bebíamos, comíamos...fazíamos a nossa festa de Natal.
Eu me ocupava.
Tinha como tarefas reunir todo mundo um mês antes para tirarmos o amigo oculto, o recolhimento da grana (depois de inúmeras festinhas, todas as nossas festinhas passaram a funcionar no esquema "pague antes" para evitarmos estresses futuros), a compra da decoração da casa (a casa eleita era do Felipe, meu amigo amado que casou e hoje mora na Espanha, o primeiro a debandar de nós e o suspeito de ser o grande responsável pelo nosso divórcio coletivo), a escolha, compra e preparo das comidas.
Ou seja, eu fazia a festa e trabalhava feito uma cavala.
Claro que, um ou dois, ofereciam ajuda, e, às vezes, ajudavam mesmo, mas o grosso era eu que fazia.

Lembro até hoje do primeiro "Pré-Natal"...
Felipe tinha acabado de se mudar, então foram aqui de casa pratos, garfos e afins para a casa dele. Na véspera fomos juntos ao supermercado comprar os quitutes. No dia, eu precisava ir ao Hortifruti. Fazia um calor canino e chegamos a conclusão de que o melhor seria um menu leve, light, cheio de frutinhas e quitutes leves.
Até aí excelente, né?
Mas, quando eu chegava ao prédio do Lipe, surpresa!
Acabou a luz do prédio e o cara morava na cobertura - tipo 11º andar ou algo do gênero. Foram umas três viagens de escada para levar todas as frutas e pães e enlatados e cervejas...
As cervejas!
Como é que a gente ia gelar aquilo sem luz???
E a luz? Vela.
Saí eu desabalada para comprar velas.
Uma sala, cheia de gente, a luz de velas, com cerveja quente e naquele calor, prometia ser um desastre!
Na hora de abrir a lata de atum para fazer a "que não pode faltar" pasta de atum, o moço, na época solteiro, não tinha abridor em casa. Tivemos que abrir as latas com um facão de camping e um martelo...
Hora de tomar banho.
Acabou a água também.
Imundos, exaustos, a luz de vela...
Nós demos um jeito qualquer com o lance do banho que eu não lembro agora...
Mas aí as pessoas foram chegando, a festa começando...
Parecia uma sucursal do inferno de tão quente, e nossas opções eram vinho ou cerveja quente - que nós tomamos de qualquer jeito.
Em algo de uma hora depois, a luz voltou.
A cerveja gelou, mas eu obriguei todo mundo a continuar a luz de velas porque eu tinha tido o trabalho ir comprar.
Trocamos nossos presentes, conversamos, rimos, bebemos e foi um dos melhores natais ever!

Naquela época, eu também era uma dessas pessoas que costumam namorar, então quando o 24 chegava, tínhamos a minha casa, a casa da mãe e a casa do pai dele para irmos, arrematávamos indo a casa de um amigo, que era para onde todos os amigos iam depois de suas respectivas ceias.
Nesssa época, o Natal era legal.
Havia essa coisa do sentido real dele, de ser um dia para ver as famílias e confraternizar até cair.

Este ano, me inscrevi para ajudar na ceia na casa de uma amiga. Três amigos amados, dos quais eu sinto muita, muita falta estão chegando para as festas. Já chorei horrores levando Olívia para ver o Papai Noel do Banco de Boston.

Desconfio que estou ficando mais amolecida e começando a gostar da idéia do Natal de novo...

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