sábado, setembro 26

Círculo Vicioso

E então você passa um bom tempo sonhando com alguma coisa.
Estabelecendo padrões, definindo o que voce quer, acendendo velas pra Santo Antônio - eu não roubo mais o menino ou afogo a imagem depois que me chamaram a atenção de que o Santo até manda alguém depois, mas alguém horrível, só vingança.
E começa a procurar.
No meio do caminho, tropeça em vários pessoas que não são o que voce espera; até que um dia, tropeça no cara que você esperava.
O que acontece depois não fica bem definido, porque voce não sabe direito se é porque ele te dá a atenção que voce queria, se é porque ele tem vontade de verdade de estar perto de voce, mas a coisa acaba não acontecendo como voce esperava que acontecesse.
Perde noites em claro pensando na surrealidade da situação.
Sem querer acaba machucando alguém.
E termina com um sentimento mau dentro do peito.
E frases más no celular.
Os dias vão passar.
E voce vai voltar ao Santo, vai voltar a treinar dormir no meio da cama sozinha; daqui a pouco vai voltar a procurar - mesmo achando que as chances de um acerto diminuem a cada dia.
Não sem um pouco de tristeza.
Não sem xingar um pouco o Tio Segmundo.
E continuar sobrevivendo.

terça-feira, setembro 22

Duas Datas, Um Ano.

Em 2008.
19 de setembro foi sexta.
19 de setembro foi a segunda vez na minha vida que eu botei um homem pra fora de casa.
A bebedeira, que seguia sem grandes novidades, descambou pruma discussão - que começou no meio da rua, testemunhada por olhares tão ébrios quanto os das pessoas que gritavam entre si, e foi acabar num quarto. Pra sempre.
Não só o homem e as coisas que eu consegui pegar e enfiar dentro de uma sacola de mercado (camisetas, cuecas, bermudas) enquanto gritos se misturavam com lágrimas.
Quando eu fechei (bati) aquela porta - a minha porta - muito mais coisa foi junto com aquele homem.
Naquela madrugada, um Amigo me consolou, me abraçou, ouviu, bebeu comigo e ficou todo ensopado de lágrimas.
Um Amigo que, há anos, faz dessas de atender telefone no meio da madrugada e vir correndo me socorrer, mas que também não faz só isso - a gente também ri muito há muitos anos.
Eu fui dormir bem mais calma, mas com uma dor que quase não cabia dentro do peito.

Em 2009.
19 de setembro foi sábado.
Guardei bem os dias da semana e a data porque uma Amiga faz aniversário dia 20; e, no dia 20 do ano passado ela havia dançado no dia do próprio aniversário, e as danças só acontecem aos sábados.
Neste ano eu também fui ver Amigas dançarem.
Duas outras Amigas.
Não era aniversário de nenhuma delas, mas, nos últimos anos, essas duas Amigas saíram das almofadinhas que ficam no chão para a mesa dos adultos dentro do meu coração.
No caminho, dentro de um 569, sem querer olhei pro lado, vi o homem.
Meu coração não bateu como costumava bater, mas ele ainda é uma lembrança ruim.
Ele ainda está no mesmo lugar, com a mesma cara.
Eu ia para o mesmo lugar que havia ido há um ano atrás.
Mas eu não estou mais no mesmo lugar ou tenho a mesma cara.

Em 2008
20 de setembro foi sábado.
Como se eu não tivesse chorado a alma - como só fui chorar apenas uma vez depois e por motivos em nada semelhantes, ainda que ambos digam respeito ao abandono - levantei.
Me banhei, me arrumei, me enfeitei como não fazia há tempos.
E fui ver, pela primeira vez, minha Amiga numa apresentação de dança do ventre.
Uma mesa enorme me esperava, cheia de Amigos e amigos.
Todo mundo muito feliz, comemorando.
Eu, louca para ir embora - observando a felicidade alheia e rindo da desgraça alheia.
Quando a dança acabou e eu achei que já poderia ir sem fazer desfeita ou algo do gênero, voltei pra casa e chorei olhando pruma sandália havaiana, até dormir.

Em 2009
20 de setembro foi domingo.
A Amiga que dançava ano passado hoje amamenta um lindo e robusto bebê faminto. Continua aniversariando, mas hoje não dança mais.
Os Amigos naquela casa, neste dia, sentam todos à Grande Mesa; e a casa me é muito mais familiar e querida do que era no ano que passou.
No dia anterior, a mesa do bar era mesma, mas não eram as pessoas que lá estavam ou sentavam conosco.
Muitas se separaram, algumas encontraram um novo par, novas amizades se formaram, novas crianças nasceram - as pessoas que dançam não são mais as mesmas.

Ainda me espanta a quantidade de coisas e pessoas que podem acontecer no período de um ano. Me espanta a quantidade de pessoas que entram, que vão embora; como há dois meses atrás eu me treinava para aprender a dormir no meio da cama, aceitando a inevitabilidade da solidão; como há apenas um mês atrás, sentia que ocupava muito espaço no mundo à toa e hoje me falta espaço para ocupar tudo o que devo.
Perceber o passar de um ano todo e tudo o que aconteceu neste ano me espanta.
Coroei a passagem com tantos beijos e abraços e Amigos que dentro do meu peito, hoje, não cabe mesmo, nenhuma dor.

quarta-feira, setembro 16

Facinha, facinha...

Meu Mundo por uma manicure, uma faxineira e um passaporte pro Festival do Rio.


...Alguém...?

quarta-feira, setembro 9

Do You Realize?

De vez em quando eu escuto muita música.
É uma coisa que varia com o humor, com o tempo, com aquelas coisas todas...
E, de vez em quando, quando eu escuto música, eu volto a ouvir coisas que não ouvia há algum tempo...

"Do You Realize - that you have the most beautiful face
Do You Realize - we're floating in space -
Do You Realize - that happiness makes you cry
Do You Realize - that everyone you know someday will die

And instead of saying all of your goodbyes - let them know
You realize that life goes fast
It's hard to make the good things last
You realize the sun doesn't go down
It's just an illusion caused by the world spinning round

Do You Realize - Oh - Oh - Oh
Do You Realize - that everyone you know
Someday will die -

And instead of saying all of your goodbyes - let them know
You realize that life goes fast

It's hard to make the good things last
You realize the sun doesn't go down
It's just an illusion caused by the world spinning round

Do You Realize - that you have the most beautiful face
Do You Realize
"

Ouvi.
Prestei atenção na letra.
...E lá veio o revertério!

Do dia para a noite, passei a dizer tanto para as pessoas que eu as amo que uma das amigas reclamou dizendo que nem o namorado dizia tanto isso para ela; tenho ouvido mais música e bem mais alto; não tenho pensado duas vezes antes de chutar os estudos para a monografia para cima para ficar com as pessoas que eu amo (e eu sei que vou pagar caro por isso); faxina eu faço quando eu quero e até tenho tirado fotos sorrindo.
Do dia para a noite, reservei todos os finais de semana para ir a todos os aniversários das pessoas - ultimamente comemorados em lugares onde eu não iria se estivesse no que as pessoas chama de "meu juízo perfeito"; compareci a três chás de bebê e visito religiosamente a amiga que já deu à luz ao seu pequeno moleirabanger; passei a dar presentes para as pessoas com uma determinação furiosa que não me assaltava há anos; arrastei estantes e vou pintar paredes.
Do dia para a noite, por causa de uma música, porque eu me dei conta...

terça-feira, setembro 1

A felicidade de uns...

De vez em quando eu descompenso.
Tem TPM, trabalho de faculdade, telefone que não toca, roupa pra lavar, falta de grana... Eu descompenso.
E quando eu descompenso o mundo fica ruim.
Cada defeito que eu dou ou que a criança dá nesse período é coroado por gritos - pelos quais eu pago o preço caindo em prantos no meu travesseiro quando o cai o silêncio na casa, me achando uma mãe horrenda e malvada.
Mas é quando existem manhãs como a de hoje, que eu vejo que isso acontece com todo mundo.
Às 9:20 da manhã, um vizinho gritava.
Gritava tanto e mais alto do que eu.
Ele estava descompensado.
A gritaria durou algo mais que 20 minutos e eu fui invadida por uma alegria tremenda ao perceber que existem pessoas como eu; que meus vizinhos, que sempre ouvem os meus gritos, também ouvem os próprios gritos; que eles também são gente como eu; e que isso é normal.
Por mais estranho que seja se sentir feliz com o que acontece de ruim com outras pessoas, fez com que eu começasse meu dia bem.
E perfeitamente compensada.