quinta-feira, janeiro 31

As Listas.

Findo o mês de Janeiro, meu primeiro ano enquanto mulher obsessiva que anota as coisas e faz listas chega ao fim.
Em um ano eu li 47 livros, dá uma média de 3,916666666666666 livros lidos por mês. Quase um por semana.
Assisti 92 filmes, o que dá 7,6666666666666 por mês, ou quase dois por semana.
Só precisava ter ido a mais shows e mais peças de teatro. Nestes quesitos a média foi uma vergonhosa freqüência de 1 evento a cada dois meses. Já fui melhor nisso...

New Lists from now on!!!

"Ah, é assim mesmo..." - ou A Novela Do Gás

A sua mãe te contou todos os perrengues que você ia ter que passar para conseguir se mudar?
Os seus amigos te contaram todos os perrengues que você ia ter que passar para conseguir se mudar?

Coisa boa assim, ninguém conta!

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Primeiro, eu caí na besteira de romantizar a pintura com aquele papo de “ah, meu primeiro apartamento fui eu que pintei!”; no papo dos meus amigos que me disseram que já haviam pintado suas casas sozinhos; de que na Europa é muito comum... Bem que na hora que fui comprar o material de pintura a moça perguntou se era eu mesma que ia pintar com uma cara de quem não estava levando muita fé! Só depois de algum tempo fui realizar que sou uma pessoa incapaz de realizar linhas retas à mão livre; que fita crepe quando descola, descola também pedaços de tinta e que rodapé duplo é a pior invenção do planeta! Lixar rodapé, minha gente!
O que é lixar rodapé?!?

Foi aí que eu ouvi pela primeira vez:
“Ah, é assim mesmo...”.

Depois meu apartamento é antigo. Aquela coisa bonita, de pé direito alto, com sanca no teto, espaçoso... O que ninguém te avisa é que se você cutucar alguma coisa, aquela coisa vai cair! Essa parte começou na varanda da Olívia onde tinha uma infiltraçãozinha que eu resolvi raspar para passar massa e ficar bonito. Acontece que do pedacinho pequenininho onde eu enfiei a espátula, a coisa foi subindo, crescendo, descascando e daqui a pouco eu tinha metade da parede aos meus pés e só conseguia repetir freneticamente “putaquepariu”. Aí o Seu Moço lá foi futucar o meu banheiro e descobriu que os meus canos de água quente estavam nas últimas, completamente entupidos.
A essa altura, já resolvi tudo. A varanda está emassada, os canos trocados, mas ao longo do caminho, enquanto eu esperneava:
“Ah, é assim mesmo...”.

Então eu descobri que o povo que morava lá antes de mim fez o favor de resolver se mudar bem na época que a CEG, a nossa incrível Companhia Distribuidora de Gás, estava fazendo o raio da conversão para gás natural. Sobrou pra quem?
“Ah, é assim mesmo...”.

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E a minha Novela do Gás ainda está em curso!

Todo o resto da casa – a pintura das paredes supra coloridas que parecia ter sido feita pelos colegas de classe da Olívia, os canos do banheiro, o chão de salão de baile depois de maratona do beijo, a varanda podre, tudo! – já está funcional, já está ok para que a gente possa habitar finalmente a casa. Só falta o gás.

Eu comprei o aquecedor novo, bonitinho, automático à pilha (seja lá como for isso) preu poder tomar meus banhos quentes e merecidos sem morrer de explosão. Comprei um fogão espacial cheio de coisas que eu, muito provavelmente, nunca vou usar.
Primeiro passo: instalar o aquecedor. Alguma coisa precisa estar instalada fisicamente para que a Fabulosa Companhia Distribuidora de Gás vistorie o imóvel e religue o gás.
O rapazinho da loja chegou cedinho, contrariando a máxima que diz que você provavelmente vai passar o dia inteiro sentada esperando para que um técnico venha até a sua futura residência e realize um serviço que, geralmente, não dura mais que 15 minutos para estar finalizado. Muito simpático, pisou no meu incrível banheiro azul e disse a uma descabelada e, então, à beira das lágrimas, Renata que não ia poder fazer a instalação porque o buraco da chaminé era muito pequeno e eu precisaria não só abrir um buraco maior, que ele sugeriu ser no vidro.
O vidraceiro me deu um trabalho enorme. Primeiro para achar, já que eu não tenho (ou tinha) a menor intimidade com esse tipo de serviço ou endereço; depois, me dizendo que eu teria uma série de riscos para fazer o sugerido, todos estes incluindo a frase “aí a responsabilidade é sua”.

“Ah, é assim mesmo...”.

Resolvi, então, me rebelar e chamar um “faz-tudo” para quebrar o raio da parede e aumentar a porcaria do buraco. Um sonho para quem não queria ter que quebrar nada mais que copos durante a mudança. Por uma despesa de meio aquecedor novo, o buraco foi aumentado (e foi aí que nós descobrimos o lance dos canos do banheiro).
Reparem que, todas essas coisas foram sendo vistas e agendadas em dias diferentes, numa saga que começou antes do Natal e já dura até o Carnaval, que para quem é vagabundo, já começou, mas, no calendário, começa sábado.

“Ah, é assim mesmo...”.

E lá veio o rapazinho simpático de novo, que pelo preço de mais meio aquecedor novo, desceu o aparelho sensacional e essencial à altura mínima exigida pela Fabulosa Companhia de Gás para que a instalação fosse aprovada.
Beleza. O aparelho no lugar, liguei eu para a FCG marcando a vistoria no imóvel, toda (boba) esperançosa de que meus problemas de origem natural estariam resolvidos.
Os pobres moços da FCG bem que tentaram, mas descobriram então, que minha tubulação, por estar muito tempo sem uso, apresentava vazamento.
Você sabia que tinha isso? Nem eu.
Solução? Pelo preço de mais um aquecedor novo, aplicar resina na tubulação.
Coisa bem rápida e fácil pra mim, segundo o pobre moço trabalhador da FCG.

“Ah, é assim mesmo...”.

O outro moço simpático que aplicou a tal da resina, não me garantiu que fosse funcionar de fato, mas...
Feito o serviço, eu ligo de novo pra Fabulosa Companhia a fim de agendar a segunda vistoria – e isso já sabendo que deveria ligar uma terceira vez caso estivesse tudo “nos conformes” para adequação da minha porta do banheiro e os pregos nas janelas para que ninguém morra por inalação de gás...natural – e a Dona Moça me disse que a visita seria feita em dois dias, mas que eu ligasse no dia seguinte para confirmar.
Dito isto, no dia seguinte, às 9 e meia da manhã, lá estava eu, ao telefone, ligando para confirmar a visita, que, não só não foi confirmada, como seria adiada para depois do Carnaval!!!

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O que se segue:

“Tudo que eu preciso na minha vida, para poder me mudar, é que o gás da minha casa seja religado.
Seguindo as exigências da CEG, comprei um aquecedor novo e o instalei. Comprei um fogão novo - que só poderá ser instalado após o gás ser ligado. Chamei a CEG para realizar a vistoria do imóvel.
O técnico me disse que a minha tubulação estava com vazamento e que eu deveria chamar alguém - que a CEG me indicaria - para aplicar resina na mesma. A CEG não me indicou ninguém, tive que procurar sozinha. Mas achei e cumpri a exigência da CEG, mais uma vez.
Liguei, então, ontem, para agendar uma nova vistoria, que foi marcada para amanhã (31/01), sendo que eu deveria ligar hoje de novo para confirmar! Não entendi, mas liguei. Comecei a ligar às 9:30 da manhã.
Já foram 6 ligações. Primeiro me disseram que ainda não estava confirmado, mas em análise. Eu pedi que me esclarecessem qual era a dificuldade em marcar a vistoria. Para falar com um supervisor. Na primeira vez, a menina que me atendeu, pegou meu telefone e disse que o supervisor retornaria minha ligação - fato este que não aconteceu até agora. Agora, da útima vez, a menina me deixou em espera por quase 15 minutos até a ligação cair. Foi-me dito que o meu pedido já havia sido passado ao setor responsável e estava em análise em caráter de urgência, que alguém entraria em contato comigo em até 3 dias úteis!!!
Peraí! Eu cumpri todas as exigências feitas até agora! Liguei hoje para confirmar a vistoria de AMANHÃ! De repente, fiquei na espera de uma ligação para agendamento de visita que pode vir a acontecer somente quinta-feira da semana que vem, já que o carnaval vai ocupar todo o início, e assim, os dias úteis do início da semana! Eu, assim como todo o resto da população, e você mesmo que está lendo este e-mail (se é que ele vai ser lido e levado em conta) não possuo disponibilidade de tempo para ficar esperando várias vezes a CEG resolver ir até a minha casa entre 8 e 18h para que meu gás possa ser religado, dentro das exigências da própria CEG e eu possa começar a poder pagar a própria CEG!!!


Meu nome é Renata Roxo XXXXXXXXXX, meu CPF é XXXXXXXX e eu não sei meu o meu número de cliente porque ainda não possuo uma conta paga ou a ser paga (coisa que estou achando dificílima de vir a ter) e nesta confusão toda ninguém fez a caridade de me informar.

Gostaria de ter meu problema solucionado e não obtive, até agora, nenhuma resposta satisfatória.
Obrigada,
Renata Roxo”

“Ah, é assim mesmo...”

E eu aqui, em angústia profunda...

Mais:

“São 16:30.
Desde as 9:30 venho ligando para a CEG a fim de resolver o meu problema, de conseguir uma resposta satisfatória às minhas questões e ainda não consegui obter sucesso.

No site da CEG está escrito:
"Na Ouvidoria, qualquer cidadão pode apresentar sua reclamação quando considerar que não foi devidamente atendido pelos canais habituais da Companhia.
A Ouvidoria, no entanto, não pode nem deve substituir canais primários de comunicação já existentes, tais como o teleatendimento, as agências ou mesmo o furgão, este, especificamente no caso da revisão e conversão.
O direcionamento de problemas, reclamações, opiniões e sugestões através do Ouvidor visa garantir a expressão dos direitos do cidadão, fortalecendo-o, enquanto destinatário de bens e serviços prestados. É esse nosso objetivo."
Pois bem, cá estou eu, mais uma vez, expressando meus direitos de cidadã. Não consigo entender como uma vistoria que deveria ser realizada amanhã (31/01), de repente foi para análise e, diz-me a atentedente, só será efetuado contato comigo após 3 dias úteis, ou seja, depois do carnaval. Não considero que estou sendo ou tenha sido bem atendida pelos canais primários, nem por esta ouvidoria que já recebeu um e-mail meu no dia de hoje. De qualquer forma, como já são longas 7 horas de insatisfação, estresse mental e gastos telefônicos (que a CEG certamente não vai cobrir), resolvi, mais uma vez expor minha situação e o andamento do descaso de vocês, que me negam a prestação de um serviço essencial ao qual eu sei que tenho direito de usufruir.
De novo:
Meu nome é Renata Roxo XXXXXXXXX
Meu CPF é XXXXXXXXXXXXX
Meu número de cliente não me foi informado até o corrente momento, mas, de qualquer forma, eu não consigo virar cliente da CEG, então tudo bem.
E meus telefones de contato são (21) XXXXXXX/ XXXXXXXX.
Já desistindo de obter alguma solução, atenção ou tratamento digno,
Renata.”

Às 17h30min tive um ataque de choro no telefone.
Às 18h55min eu só conseguia gemer e minha sinusite ameaça destroçar meu belo rostinho as we know it.

“Ah, mas é assim mesmo...”.


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Eu pensei – olha, pensei mesmo - nos meus amigos que trabalham com telemarketing. Visualizei toda a seção de atendimento, no intervalo do café, conversando sobre “a maluca que está ligando pra cá aos berros desde manhã”; em como eu, certamente, viraria um causo de trabalho.

Teve uma mocinha que me disse que entendia minha insatisfação – o que é absolutamente irritante quando você está do lado de cá e ela do lado de lá, porque, certamente ela só entende essa insatisfação quando está também do lado de cá.

Pensei cá comigo que só Deus saberia o tamanho da minha insatisfação, mas cheguei à conclusão que nem Deus sabe uma coisa dessas já que lá onde ele mora eu duvideodó que exista a Fabulosa Companhia de Gás e Ele tenha problemas deste tipo, até chegar também à conclusão que a invenção da tal Companhia é uma espécie de penitência em vida que a pessoa é obrigada a experimentar a fim de poder usufruir de prazeres mundanos como banhos quentes no inverno e comida quentinha saída do forno sem que seja preciso fazer uma fogueira.

Imaginei como seria a vida vivendo à base daqueles fogareiros medonhos de camping...

"Ah, mas é assim mesmo..."

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Hoje, de manhã, lá fui eu de novo.
Em mais uma ligação malcriada e num tom de voz nada educado, esbravejei minha insatisfação ao bairro inteiro, registrei e anotei o protocolo de outra reclamação. Tenho tantos números de protocolo que faria inveja a qualquer burocrata safado.
Exigi que resolvessem meu problema ou chamaria um advogado – ameaça em que nem eu acreditei, diga-se de passagem.
Fui resolver a minha vida.
Quando voltei, fui surpreendida por um telefonema da Empresa Prestadora de Serviços me pedindo, por favor, para agendar para amanhã a visita do rapaz no horário da tarde!!! Até horário, cara!!!
Logo depois, recebi um e-mail me dizendo que o outro técnico deve visitar minha futura residência também amanhã, mas dessa vez sem horário.
Respondi que ficava muito feliz, agradecida e esperançosa, mas muito infeliz ao perceber que as coisas só funcionavam quando alguém esperneava.
A expectativa é grande e lá vou eu madrugar pra esperar o pobre trabalhador da Fabulosa Companhia de Gás.

Mas,
“Ah, é assim mesmo...”

E nêgo só me avisa isso agora...

sexta-feira, janeiro 18

Momento

(Ontem, no consultório do pediatra da minha filha.)

"- E ela está respirando bem?
- Ai, eu não sei nem se ela respira! Ela fala sem parar o dia inteiro!"

Ele morreu de rir.
Eu estava falando sério.

Eu tenho sorte.
(Apesar de não me sentir muito sortuda nos últimos dois dias.)

Sol na casa 11, lua na casa 4

"No período que vai de 18/01 a 20/01, o Sol se encontrará na Casa 11 e a Lua na Casa 4 do seu mapa, Renata. Seu sentimento de bem-estar emocional estará associado aos seus amigos queridos, mas de uma forma mais introspectiva: bom momento para selecionar quem é mesmo seu amigo, passar uma peneira fina! Este é um momento particularmente propício para fazer reuniões em casa com as pessoas mais queridas, ou mesmo visitar amigos-irmãos. "

quarta-feira, janeiro 16

Um Quase Manifesto Feminista

(Antes de mais nada, gostaria de esclarecer para os devidos fins que: duas ou três coisas nesse texto são puramente hipotéticas, fantasiosas e não condizem com a realidade e que não era isso que eu tinha pensado em escrever ontem. Obrigada.)

Homens.
Homens adoram alardear que as mulheres reclamam demais. Que “nós mulheres” (uma das aspas que eu mais odeio no vocabulário testoterônico) passamos a vida batalhando por direitos iguais, iguais condições, igual isso e igual aquilo, mas, que na hora de arcar com as conseqüências, “nós mulheres” não sabemos segurar a barra.

Eu conheço um cara que uma vez veio me dizer que tinha a impressão de que as mulheres, após a maternidade, ficavam todas meio loucas e descompensadas. Eu concordei. Realmente, meu nível de loucura em escala subiu de forma alarmante – mas, até esta data corrente, entre mortos e feridos, estamos todos a salvo e eu não fui morar ainda em Doutor Eiras.

Uma coisa complementa a outra.

“Nós mulheres” lutamos por igualdade, sim. Pela queda de barreiras, preconceitos, essa coisa toda de acharem que a gente vai chorar toda hora, não tem neurônios, não tem desejos.

Fato: homem nenhum iria agüentar parir uma criança. Todos os homens que eu conheço, TODOS, ao menor sinal de gripe já ficam manhosos, leitosos, chatos e inúteis; enquanto “nós mulheres” não podemos, na maior parte das vezes, nos dar ao luxo de pensar em passar um dia inteiro enterradas na cama. Eu mesma, a Rainha da Somatisação, estou amargando há um mês uma gripe que não me abandona. Olhei na agenda um dia e disse “tenho que segurar a onda porque eu só tenho tempo livre na terça-feira da semana que vem e só então eu vou poder ficar doente”. Agüentei, esperei, caí doente na dita terça-feira e na quarta já estava de volta aos meus afazeres. Homem nenhum faz isso. Imagina passar pela chatice de noves meses de gravidez, o pré-parto, o parto e pós-parto... Não é à toa.
É preciso ser muito mulher fisicamente pra parir uma criança.

O voto era negado porque, mulher votar?! Mulher não pensa, não sabe dessa coisa de política, não tem neurônio. Quer assustar um cara? De verdade? Fazer ele correr bem rápido e pra bem longe? Diz que já leu Kant, melhor, diz que já leu! Que seu programa preferido é ler! Corrija ele quando ele estiver fazendo alguma coisa no computador, mostre que você é melhor que ele nisso, dê uma surra nele no joguinho preferido de Playstation dele! Discuta filosofia, religião! Mas, desculpe, estudar é preciso. Ler é preciso. Previne morte neuronal, imbecilidade, ignorância dentre uma série de outors males à civilidade assim como eu concebo.

“Nós mulheres” queimamos sutiãs em praça pública, mas morremos de vergonha de andar com os peitos caídos por aí e somos discriminadas abertamente se a força das circunstâncias nos leva a ser usuária do famoso sexo casual. Um cara pode viver tranquilamente levando putas pra casa para satisfazer suas necessidades fisiológicas, mas se uma mulher faz algo do gênero vira logo a “vagabunda” do prédio e, muito provavelmente, vai encontrar o vizinho do 303 batendo na porta oferecendo os serviços dele de graça.

“Nós mulheres” batalhamos muito por direitos iguais, mas temos uma penca de obrigações que são vistas como exclusivamente femininas. É uma obrigação cuidar da estética. O básico pelo menos. Cabelos, unhas, perninhas raspadinhas. O que custa tempo (e dinheiro). E ai de nós se não! Já os homens passam uns dois meses sem cortar as unhas dos pés ou limpar as orelhas e a gente enfia a língua lá dentro sem reclamar numa boa.

Se uma mulher resolve passar uns dois dias na cama doente, quando sair, vai encontrar a filha descalça, de calcinha, almoçando biscoito de chocolate depois de ir para o colégio com um pé de sapato de cada cor meleca no nariz, sem agenda assinada; o marido vai sair com a camisa desgrenhada porque ou não sabe passar roupa ou passa mal – porque isso é tarefa de mulher. Se o marido precisar ir ao mercado nesse meio tempo, pode esquecer as coisas realmente necessárias à casa, ele vai trazer supérfluo atrás de supérfluo. Vassoura? A casa vai estar com bolotas de poeira pelos cantos, a louça vai ter procriado na pia numa dimensão quase arquitetônica e as roupas usadas vão estar emboladas em algum canto obscuro, se não estiverem espalhadas por todos eles. Se “nós mulheres” não fizermos, ninguém mais vai fazer.

E trabalho? Não importa o quão boa seja uma mulher naquilo que ela faz, o quanto ela trabalhe; o pagamento por isso e o reconhecimento jamais serão os mesmos de um homem realmente bom naquilo que faz.

Então dizer pra mim, que uma mulher que estuda, trabalha, cuida de uma casa, dos filhos, que tem uma vida social e que ainda tem que estar gostosinha pro maridão, namorado, companheiro ou o caralho que o seja, não arca com as conseqüências do que buscou; não segura a bara; ou é uma doida descompensada é uma tremenda sacanagem, não é, não?

Muita coisa se conseguiu, muita coisa mudou, mas hoje, a mulher tem muito mais coisas para administrar – e é cobrada para que administre bem – então, é óbvio que em algum momento essa mulher vai dar uma pifada, uma enlouquecida, uma descompensada. É um direito dela!

É de direito que “nós mulheres” possamos gozar da TPM em toda a sua plenitude e tentar atirar qualquer pessoa que chegue perto pela janela.
É de direito que “nós mulheres” possamos sair com as amigas de vez em quando para encher a cara e dançar Britney Spears numa boate.
É de direito que “nós mulheres” possamos dar um ataque de ciúmes ou carência sem que isso seja visto como sinal de fraqueza.

Direitos iguais o cacete!
A gente fala em direitos iguais quando eu conhecer um homem que faça tudo o que eu faço e depois ouça que “você não faz nada mesmo” e consiga não perder a linha depois disso.
...Eu tinha uma coisa pra escrever, mas as horas passaram, o dia passou e eu perdi a linha do pensamento. Já tinha "escrito" dentro da minha cabeça todo o inicinho da coisa. Estava fantástico. Agora já nem lembro qual era o assunto - o que o torna ou de pouca relevância ou a minha pessoa numa pessoa senil.
Terceira vez que isso acontece.
Depois nêgo não quer que eu me sinta uma anciã aos 30 anos, ou que diga que os radicais livres estão comendo soltos...

domingo, janeiro 13

Das coisas que a gente nunca pensa

Ontem eu estava aqui em casa reclamando que com "o calor senegalês que anda fazendo" eu não estava conseguindo nem pensar em ir para a rua - para desgosto da minha jovem filha - quando a minha mãe bem observou:
- Eu queria era saber se lá no Senegal eles dizem que está fazendo um "calor brasileiro"...

E não é...?

Sobre a Idade... (De novo) (Ainda)

(Ando meio aficcionada.)

O Grande Lance é você descobrir como você vai ser quando ficar velho.
É mole. Aprendi bem antes de ficar grávida, quando via aquelas mães cheias de sacolas, com crianças penduradas debaixo do braço e achava o máximo da falta de glamour. Não deu outra: fiquei igual, se não pior.

Aí eu fico vendo a minha mãe, que está chegando aos 60 e diz que agora pode fazer o escândalo que ela quiser no mercado porque ninguém vai prestar atenção numa velha louca, e que isso é libertador.

Aí, outro dia eu estava num ponto de ônibus. Devia ser o Dia Oficial de Cuidar das Dorzinhas de velhinhas no Rocha Maia porque eu nunca tinha visto aquele ponto de ônibus tão lotado numa manhã de sábado. Enfim, na primeira leva chegou uma velhinha daquelas que usa guarda-chuva de oncinha, que imediatamente abordou um pobre de um rapaz que com certeza estava indo pro trabalho e começou a fazer um discurso anti-tabagista daqueles que começam a me dar coceira no pulmão - como todo tabagista que se preze, diga-se de passagem. No meio do "eu fumava não sei quantos cigarros por dia", chega um casalzinho, daqueles que vivem a vida toda juntos, sabe? Ele, com um tapa olho, ela, conduzindo ele e... fumando um cigarro! Eis que a primeira senhorinha se vira pra outra e diz: "Á, lá! Outra fumando! Larga isso, minha filha, que faz mal!". Tipo uns três minutos depois, quando o casalzinho já estava do meu lado eu ouço o senhorzinho esbravejando do meu lado: "Ela disse isso??? Quem é ela? Ela te conhece? Que intimidade ela tem com você com você para dizer isso? É ela que paga o seu cigarro?". Revolta profunda. Eu estava só me divertindo e quase acendendo um cigarro também pra pôr mais lenha na fogueira quando o ônibus chegou e eu fiquei sem saber pra sempre se o senhorzinho de tapa-olho sentou o cacete na senhorinha do guarda-chuva de oncinha.

O lance é: guarda-chuva de oncinha é cafona, mas eu só não uso desde já porque ainda não comprei, não consegui romper esta barreira minha comigo, mas aceito de presente de bom grado e, certamente, quando chegar à idade dela, vou usar.
Hoje, acho de um tremendo mau gosto se meter na conversa e na vida alheias sem ser convidada (excetuando-se quando a conversa é entre pessoas conhecidas, claro), mas, vai saber... Minha filha vai crescer, vai sair de casa e ter a casa dela, vai cagar apara aa velha mãe, que vai ter que se ocupar dos vizinhos e de se meter na vida alheia, certamente.

De repente, cada vez que eu me deparo com algum tributo medonho à cafonice e ao mau gosto - e isso me incomoda - passei a pressentir que o meu futuro, que a minha velhice, será de um negrume sem igual. Eu já tenho um pé na coisa. Com 20 anos era muito hype ser cafona, dos 30 aos 40, predomina o cafona de luxo; mas depois dos 50 a tendência é ladeira abaixo.

Tem meses que eu ando com uma vontade quase incontrolável de comprar um argolão com contas coloridas penduradas, bem estilo "Caixa do Mundial" (estereotipando e sendo preconceituosa, sim), mas aos 30 isso ainda é controlável. Se eu tivesse 50 provavelmente já tinha comprado uns 3 pares.
E andaria de lenço com bobs na rua.
E tamanco 7 de salto de madeira.

Vai me dizer que a velhice não é assustadora?
Vai me dizer que eu não tenho motivos para me preocupar?

sábado, janeiro 12

2008

...E já fazem 12 dias que O Ano Novo começou.
Ao mesmo tempo, parece que tem muito mais que 12 dias.

É senso comum pela Cidade do Rio de Janeiro, que o ano só começa "de verdade" depois do carnaval - este, por sua vez, já se aproxima a passos tão largos que eu fico um pouco assustada quando ando na rua e começo a começar a perceber as fantasias penduradas nas portas das lojas - além do mais, teoricamente, é tempo de férias.

Mas, isso, colega, é na casa dos outros. Na minha e nas casas das pessoas do meu círculo de amizades, tudo isso é ba-le-la. A gente nunca correu tanto.

Esse ano não tem viagem de férias; também não tem colônia de férias, que ela bem já pode, mas quem não pode pagar sou eu, que cada vez que piso na casa nova gasto uma fortuna com pequenos detalhes dispensáveis, absolutamente indispensáveis.

A mudança vai a passos pequenos. Perdi meu único ajudante (ainda que por uma boa causa) e descobri que o Maior Mistério da Humanidade pra mim, no momento, é: Como as Pessoas Conseguem se Mudar e Eu não???
Porque eu não consigo terminar!
Tudo bem que eu fui entrar numas de pintar a casa inteira, encorajada por aquelas comédias românticas xexelentas de hollywood e alguns amigos intrépidos, por assim dizer. Tudo bem que existem lugares que eu, de fato, não alcanço e preciso de ajuda - além de tudo, esta casa está fazendo maravilhas com a minha auto estima: nunca na minha vida me senti uma pessoa tão baixa. (Sem trocadilho.) Tudo bem que eu estou com a filha em casa de férias, que foi proibida pelo pediatra de ir me acompanhar às seções de pintura, o que me deixa dependendo de quem e quando alguém pode ficar com ela pra mim.
Aprendi a minha lição.
Da próxima vez, vou contratar peões. Dois de uma vez. Não! Quatro!
E vou ganhar bastante dinheiro processando os estúdios de hollywood pra poder pagar a colônia de férias.

Na verdade, eu acho que deveria fazer parte de alguma aula no colégio isso. "Como se Mudar em 10 lições". "Como conseguir ajeitar uma casa". "Como usar o faça-você-mesmo e sobreviver".

Pra mim, é um Mistério.
Cada vez que eu paro e penso, vejo que tem mais coisa pra ajeitar antes de ir.
Mistério...

Então eu me dedico a isso. Da melhor maneira que posso e quando posso.
Afora isso, ainda existe uma criança de férias em casa.
Uma criança que quase me fez empacotar de desgosto pessoal comigo mesma (é pra ficar bem claro) quando acordou um dia semana passada e me perguntou: "Mãe, pra casa de quem que eu vou hoje?"; mas, que, mesmo assim, hoje, com o sol senegalês que fez, foi absolutamente incapaz de me tirar de casa, coisa que, a esta altura, já está me fazendo retorcer de culpa e deverá ser muito bem recompensada amanhã, se eu bem me conheço.
E haja criatividade para os dias em que eu tento compensar!

Afora isso, um namorado lindo que merece um monte de atenção, um jeito, uma brecha, qualquer coisa.

Afora isso, eu, né?
Eu que fiquei a Mais Esquecida no meio dessa história toda.
A sobrancelha está uma coisa de medonha, mas não tem me sobrado nem ouro, nem tempo para dar um jeito nela; as unhas, cobertas de esmalte de parede e nem adiantam ser pintadas porque eu ainda preciso pintar mais; os cabelos: grisalhos -ainda não decidi o que vou fazer com eles.
Ou seja, em Estado de Calamidade Pública.

Resolvi me dar de presente essa semana uma saída com os amigos.
Claro está, que o Universo está conspirando e três dos que eu mais queria ver não apareceram, mas tudo bem. Eu precisava ver gente, precisava encher a cara, precisava dançar.
Fiz tudo isso e...

...E aí a idade é uma merda.
Você se pega conversando com a filha do seu namorado dizendo que "ela ainda é novinha", resolve dar trepadas violentas e depois precisa tomar uma dúzia de comprimidos porque ficou com uma dor escrota na coluna, e; sai de noite, e em vez de relaxar, cair de beber e chegar em casa com o dia nascendo, como quando você tinha 15 anos, resolve olhar no relógio sem parar e chega à conclusão de que a hora tal já é tarde demais e você precisa ir porque tem que levar sua filha ao médico na manhã seguinte - coisa que você faz, com o maior bafo de cerveja de ontem, mas cheia da responsabilidade - e ainda passa um dia inteiro amargando uma ressaca violenta por 6 horas de saída.
A idade me trouxe uma certa (eu disse "uma certa", hein) sabedoria, me deixou mais bonita (salvo esta semana), está me dando coisas e prazeres supimpas, mas também é a Mestra em estragar toda a diversão da coisa, viu?

E, em dias como hoje, eu fico meio saudosa daquela idéia de uma viagem de férias pro Caribe, que tem anos que não é Caribe, é Araruama; e este ano nem isso vai ser.

2008, hein...
Começou.
Assim, entende?
Simplesmente começou.