sexta-feira, setembro 19

A Viagem (que nem deu em novela)

Tá bom.
O GPS não falhou. E nem deu tempo de curtir o submundo.
Submundo? É. Ontem tive que me aventurar a ir até a Cidade Nova.
Ah, Renata, qual é o mistério?
Pra você, que se acha, nenhum.
Pedi mil indicações, olhei mapa na internet, tudo para tentar garantir com 100% de certeza que eu não ia padecer perdida em algum lugar bem além dos quais eu estou acostumada a ir. Mas, o que aconteceu foi que eu peguei um ônibus, fiz uma viagem de uma hora e meia de ida - onde tive tempo de ler TODO o jornal e depois me peguei namorando o cu da Lapa e pensando como era uma coisa curiosa ter tanta funerária no mesmo quarteirão até me deparar com o IML, que, se eu não tivesse visto em toda a sua grandeza, jamais teria a menor noção de onde era a sua versão física - aí saltei direitinho, reconheci um prédio, olha que maravilha!, achei o que eu queria, atravessei a rua, peguei outro ônibus e fiquei mais uma hora inteira lá dentro olhando a paisagem e pensando na vida.
Carioca adora reclamar de trânsito, de engarrafamento e tal, mas eu gosto. Dá tempo de ler as coisas que eu preciso, de pensar em todas as coisas que eu não preciso, de admirar as ruas, os prédios, as pessoas - e eu gosto um bocado de admirar as coisas. É um bom passatempo.
Um bom passatempo que não pra fazer toda hora, claro, porque gasta-se tempo e eu não disponho mais de tanto tempo quanto costumava dispôr.
A única coisa ruim é que eu me lembrei de um comercial que eu vi há muitos anos atrás, onde aparecia um rapaz de pé e fazendo cara de dor enquanto andava de ônibus e aí a câmera mostrava que o ônibus estava vazio e vinha o anúncio de um remédio de hemorróidas. Eu não tenho hemorróidas, mas que a minha bunda ficou bem doída, isso lá ficou. Bancos de coletivos já foram mais confortáveis.
E, contrariando todas as regras, eu não me perdi.
Submundo porque a área tem um quê de submundo. É suja, é pobre, é velha. Eu acho um charme. É bacana observar os sobrados, onde nascem plantinhas do nada e que têm lojinhas de badulaques enfeitadas com estrelinhas do lado de funerárias da época da vovó do lado de verdadeiros pés sujos com neguinhos sovaquentos que ficam do lado de barbeiros que ainda usam navalhas e jalecos, saca? Sem definição melhor, é kitch, é bonito. Mas eu não deixo de ter um medinho bem grande de ficar perdida entre as ruelas do lugar sozinha, penteada, cheirosa e fina do jeito que eu sou.
Acho que semana que vem até vou fazer de novo!
Hehe

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