quinta-feira, setembro 18

Sabedoria e Melodrama

Essa coisa de virar adulta de fato me deu a compreensão de vários fatos cacetes da vida.
A uma hora da manhã, eu compreendo que a minha monitoria vai acontecer e que eu vou ter que estar lá daqui a pouco, chova ou faça sol, dormida ou insone – como é o caso. Compreendo que a previsão do tempo errou feio ao declarar que a quinta-feira seria de sol, porque chove pra caralho ininterruptamente e eu já estou de saco cheio de andar pelas ruas molhando os sapatos e passando meus dias sentindo um frio de doer os ossos. Compreendo que eu vou ter que ir até onde o vento faz a curva na hora do almoço, num lugar longe, bem longe mesmo, onde eu não sei nem chegar, debaixo de chuva e rilhando os dentes. Compreendo que um tempo desses faz ser muito mais tentador ficar na fossa e que as minhas tentativas de rir, brincar e fingir que a vida é azul e que eu estou feliz estão numa escala super reduzida. Eu compreendo que o dia será negro e que eu vou me foder.

Talvez não tanto como hoje.
Eu compreendo que a gente nunca deve dizer que não pode ficar pior, porque sempre pode, sempre pode. Compreendo que ainda existem um milhão de coisas que eu tenho que aprender e erros que eu não deveria repetir, como pôr a mão no fogo por causa de qualquer outra pessoa que não seja eu. Compreendo que as pessoas sempre podem te decepcionar mais do que você algum dia esperou que elas te decepcionassem. Eu também compreendo que não é tão ruim assim, visto que eu já passei por isso algumas vezes e continuo insistindo, acreditando e ficando mais teimosa, difícil e neurótica a cada ano que passa; mas vivinha da Silva e ainda achando coisas cor-de-rosa.

Compreendo que melodrama é chato pra caralho, mas também compreendo que eu posso me dar ao luxo de dramatizar um pouco neste momento – mesmo tendo a plena compreensão de que vai passar e de que, provavelmente, ainda vai acontecer de novo. Compreendo que ando sendo lobotomizada, e com muito orgulho, mas quase caí pra trás ao ler o vienense analisando as pessoas com mania de limpeza e tendências artísticas e sua inserção na civilização – desisti quando cheguei no amor.

Compreendo que hoje desisti quando cheguei no amor. Compreendo que, de repente, me bateu uma pilha de que eu estou me sentindo uma espécie de Lady MacBeth pós-moderna; a diferença é que eu compreendo que por mais que eu limpe e lave e troque, as imagens não vão sumir da minha cabeça. Compreendo que eu entrei na fase do enjôo; onde músicas vão me enjoar, programas de tv, comidas, que até a pequena sereia, coitada, vai levar a sua parte nisso.

Compreendo que hoje tenho todo o direito a melodrama que eu quiser. Que o coração parece que vai explodir dentro do peito. Compreendo versos de Vinícius, expressões adolescentes. Compreendo que o mundo não vai parar por causa disso. E compreendo que vou levar um tempo a base de paliativos até que consiga chegar à parte do amor de novo.

Foda é que ser praticamente um clone do Mestre Shi-Fu não me ajuda em nada.
Não hoje.

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