quinta-feira, setembro 18

Pedido de Desculpas (nem tão) Público Aos Amigos Amados Pelos Anos de Zoação

(...Diretamente de duas semanas atrás...)

Eu tenho vários amigos jornalistas.
Acontece que quando eles estavam na faculdade, eu estava correndo atrás de peitos meio cabeludos, músicas barulhentas e romances de Stephen King. Enquanto eles discutiam apaixonadamente as coisas que aprendiam e descobriam e o novo mundo que se abria para eles, eu adorava rir de me acabar e sacanear dizendo que eles eram todos muito cabeçudos.
Os anos se passaram e o amor entre nós continuava assim. Renata e os Cabeçudos.
Quantas vezes eu não saí correndo de um programa cabeçudo! Quantas vezes não quase fui atacada a tapas por algum deles (na verdade, essa foi uma vez só, mas eu tenho certeza de que existia mais gente querendo)!
E então, lá em cima, alguém lá em cima resolveu que ia ser deveras engraçado e recompensador aos pobres cabeçudos sofredores meus amigos, se eu pagasse pela minha língua em vida. Deve ter olhado lá de cima, o safado, e dito:
- CONTINUE A DAR TUA RISADA, Ó HEREGE! TU TAMBÉM HÁS DE FAZER JORNALISMO! TU TAMBÉM HÁS DE VIRAR UMA CABEÇUDA! MUWAWAWAWAWA!!!
E aí, dito e feito. Cá estou eu. E cá estou eu, encantada de estar fazendo o que tanto desdenhei por anos e anos a fio, depois de procurar em todos os lugares possíveis por uma saída de um destino tão impossível de se sair.
Peço perdão.
À força, tenho sido obrigada a me confrontar com temas e autores que jamais veria, leria, pesquisaria e aprenderia se não fosse a faculdade. E isso tem sido encantador.
Peço perdão.
Assim sendo, tenho me flagrado em situações de discussão destes temas e autores em público e com outras pessoas.
Peço perdão.
Eu virei um ser tão cdf, mas tão cdf, que eu perco as noites do meu final de semana fazendo trabalhos, enquanto minha filha e meu namorado ficam na beiça – que eu vou dar monitoria para um professor!
Peço perdão.
Hoje, consegui, mais uma vez, me sentir um pouquinho mais inteligente ao sacar que ando sacando tudo de Platão (ainda que precise dormir com alguns livros debaixo do travesseiro por uns dias pra ver se a coisa toda entra por osmose*, já que tempo hábil pra ler todos os volumes que eu peguei emprestado, nem se eu nascer em outra vida). É maravilhoso quando a gente consegue se sentir mais inteligente, mais hábil. Fico extremamente orgulhosa de mim mesma!
Peço perdão de novo.
E de novo.
E de novo.
E quantas vezes forem necessárias.

Não que tenha adiantado de alguma coisa entender de Platão, assim que a luz acendeu no meu já prejudicado de várias maneiras cérebro, ouvi aquela voz: “Aula que vem eu começo Aristóteles”. Aí senti vontade de sair correndo gritando.

Dentre esses amigos, dois em especial, merecem pedidos de perdão eterno de minha parte por todos os anos de sofrimento, chacota, zoações e toda a sorte de sacanagens verbais das quais eu me utilizei ao longo desses mais de 20 anos do amor que eu tenho por vocês.

Ainda assim, prometo não discutir tudo isso em público a não ser que seja extremamente necessário e declaro para os devidos fins que, sim, posso estar sendo atacada por um vírus mutante do cabeção, mas continuo perseguindo meu peito cabeludo, ouvindo músicas barulhentas e tentando ler todos os romances de Stephen King (coisa impossível, porque o homem escreve mais rápido do que eu posso bancar pelos livros dele, ainda faz o favor de procriar escritores igualmente palatáveis a minha pessoa e; se eu só o lesse, como ia ler as outras coisas cabeçudas?).


De vez em quando ainda uso trancinhas!

Lá em cima, alguém gargalha, rola e sente vingado.

*Como todo mundo sabe, eu acredito em muitas coisas. Bruxas, filipetas, jornais, Papai Noel, Duendes, Elfos, Fadas, Santos, simpatias e por aí vai... Então um dia eu li em algum lugar qualquer que se a gente quisesse decorar alguma coisa, bastava ler rapidamente, pôr debaixo do travesseiro e dormir, que as palavras ficariam gravadas. Eu acredito nisso até hoje. Não sei se funciona, mas é lírico pra mim e eu gosto da liberdade poética da coisa.
(Que comentário mais cabeçudo esse meu!)

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