domingo, junho 6

(Antes de pensar nele, tive tempo, tenho tido muito tempo, de pensar em outros. Tenho descoberto tanta coisa, pensado tanta coisa. É um longo currículo de decepções, algum de alegrias, permeado por certezinhas fraquinhas, pequenas. Pensar nas pessoas, em você e nas pessoas, nas pessoas em você, é sempre um processo cansativo emocionalmente. A pergunta recorrente tem sido "será que ele ainda iria me achar atraente?" - obviamente, não com estas palavras, mas isso é um blog de família. Pensar nessa pergunta, nas pessoas, em mim e nas pessoas e nas pessoas e em mim, tem tão a ver com esse momento esforço x recolhimento que eu ando vivendo. Eu sempre quis saber se alguém já me amou tanto quanto eu amei alguéns, se alguém já teve desejos antropofágicos em relação a mim. Eu sempre soube meu lado, minhas razões, meus sentimentos, mas nunca soube de fato - desconfio que jamais saberei - o lado do outro. Talvez se soubesse, não fosse capaz de acreditar. Também tenho pensado bastante nos 33 anos que se aproximam. Ainda que eu esteja com um delay de pelo menos 10 anos em relação à maioria das pessoas que têm, efetivamente, a minha idade, são 33 anos. Muito tempo, pouco tempo, muita coisa, pouca coisa. O quê que eu consegui? O quê eu ainda quero? Minha mãe, outro dia, disse que a Isabel Allende parecia comigo - nestes termos - porque escrevia umas boas histórias, mas de repente enchia o saco e resolvia terminar com elas. Ela disse que não gostava disso. Eu posso dizer que também não gosto. Que ando procurando um final bonito. O problema é que para chegar no final bonito, a gente precisa pensar no quê aconteceu aos outros personagens, e até achar uns novos. Eu ainda estou nos velhos, rezando para daqui a pouco achar os novos. Criar. Responder às perguntas. É tão difícil ter força de vontade. Tão difícil seguir em frente, às vezes. Bate mau humor, bate vontade de mandar tudo às favas. Desligar telefone - que já não toca mesmo. Seria fácil não tentar mais nada. O que pega é que eu sou teimosa. Eu insisto. Eu preciso saber o que vai acontecer. Preciso entender. Preciso ter. Preciso do fim da história. Queria saber contar histórias, como não sei, vivo. E, por isso, tenho pensado tanto. Porque, por mais que eu me agonie com isso, não tenho vivido. As únicas histórias que eu tenho tido, são aquelas que me dão, no papel, ou as que eu me lembro. E não é que eu seja ingrata, Deus bem sabe o quanto de gratidão existe em mim pelas histórias dos dois tipos. O problema é a sensação de rascunho que eu ainda carrego comigo.)

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