quinta-feira, janeiro 21

Ironias

...Aí você vê...
Eu viajei, fui viajar injuriada com o Mundo.
Na semana antes da viagem, a vida foi frenética, eu me estressei, mandei muita gente tomar o caminho da roça (em termos chiques). Na véspera da viagem choveu uma chuva bem chuvida, com trovões que duravam minutos inteiros.
Eu tinha estrada para pegar, e, nesse momento, pensei como seria o meu enterro.
É mórbido, mas como seria...?
Quem apareceria?
Você apareceria?
E você?
Você iria?
Como seria o encontro de todos vocês?
O que vocês iriam dizer de mim?
Sobre mim?
Para mim?
O que iria ser de quem ficasse aqui?
Alguém - além da minha filha, claro - iria sentir minha falta?
Iria falar de mim algum tempo depois?
Será que lá, nesse momento, que eu iria descobrir se alguma vez já fui realmente amada por alguém?

Eu peguei gosto por mandar as pessoas se fuderem.
Não nestes termos, em geral, mas peguei.
Antes de viajar, mandei 3.
E, depois de muito me analisar, pensar e sofrer, não acho que deva desculpas a nenhum deles.
Fui tão estressada, que nem percebi que o taxi pegou o caminho mais longo para a rodoviária - só quando o trânsito parou dentro do túnel e eu tive uma vontade louca de sair correndo.
Eu agora fico assim.
Túnel pra mim é sinônimo de arrastão, tiroteio...
Nunca aconteceu até hoje, mas são histórias tão difundidas que eu comprei.
Comprei e fiquei com pânico.
Meu pânico na água, no túnel, no ar, é não ter para onde correr; onde buscar socorro.
Eu gosto de chão.

Viajei achando o máximo o motorista com ares de aeromoço, que indicou as saídas de emergência e foi dirigindo devagarzinho enquanto o Judas Priest tocava no mp3 para abafar os causos da moça da poltrona do ladoque tinha resolvido abrir o coração para a pobre passageira que ocupava a cadeira do lado da dela.
Viajei de olho naquela paisagem que não me pertence.

No dia seguinte à minha chegada, já caí doente.
Escondi.
Não queria que a dupla ficasse preocupada.

Até agora, o tratamento vai bem - ainda que eu não possa ir pra boate.

As aulas começaram e eu comecei a pegar um paninho para limpar coisas a cada pausa que eu faço no meu dia - o que muito me anima, é um sinal de melhora no humor que andava tão abalado nos últimos meses.

E então feriado.
Essa noite eu sonhei que encontrava com o pai da Olívia na rua. E a gente se cumprimentava.
São Sebastião crivado.
Aniversário de um dos melhores amigos.
Dia de chopp com uma amiga.

Íamos todos sair hoje e tudo isso ficou ofuscado com a notícia de uma pessoa que se foi.
Não era um dos meus amigos íntimos.
Esse nunca ouviu de mim um "eu te amo", mas era um cara legal, que tomava cerveja comigo, sempre me tratava bem, uma pessoa de quem eu gostava bastante...
...E, que depois de sobreviver há anos e anos e anos de coisas muito barra pesada, "resolveu" tr uma morte estúpida, muito além do estúpida.
Que, mesmo nunca tendo ouvido um "eu te amo" e não sendo íntimo, conseguiu abalar as minhas estruturas com a sua partida, porque não deixa de ser estranhamente irônico que eu tenha pensado em tudo o que ele vai passar e está passando agora há tão pouco tempo atrás...
...Deixamos hoje de cuidar do amigo ainda vivo por conta do amigo que não o é mais...
...E ainda que não tenha ido cuidar de um - devia, a cada minuto que passa eu acho mais que devia ter ido - veio uma vontade louca alucinada de saber de todo mundo, de cuidar de todo mundo, de pôr as pessoas que eu amo debaixo das asas, o enorme medo que eu tenho de perdê-las!

Penso nas pessoas que perderam mais que eu hoje.

Oho os jornais querendo notícias.
E essa não é uma notícia para o mundo, apenas para um seleto grupo de pessoas - algumas que não se falam há meses q voltam a se falar única e exclusivamente por conta desta notícia, para nós, mais importante que o Haiti...

...E tudo isso só me faz pensar como a vida é, de fato, estúpida.
Mas, me consola, que a grande vingança que eu faço com ela é continuar com a minha vida e vencer essa enorme estupidez.

Até que eu escorregue.

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