segunda-feira, agosto 13

Como nasce uma festinha de criança

Tudo começou quando o gênio da minha filha (porque ela é um gênio) começou a ser uma criança que pede coisas. Todas as coisas, coisas demais, qualquer coisa que ela bata o olho - como toda criança normal. E eu, do alto da minha sapiência materna - que engloba totalmente o abandono daquele conceito do "vou fazer tudo diferente" - comecei a olhar pra elazinha e dizer o famoso: "pede no seu aniversário".
A partir de então, todas as coisas do mundo ela me dizia que ia pedir no "veversário" dela. A lista está enorme! Uma coisa que se fosse escrita chegaria até o Pólo (qualquer um deles, isso é realmente irrelevante) com uma facilidade incrível. Por dia, eu ouvia a frase num barato umas dez vezes.

Então veio o meu aniversário.
Neste dia ela soprou todas as velas de todos os bolos e ainda ficou profudamente aborrecida porque era o meu aniversário e não o dela. Chegou até a brigar comigo!

Aí eu parei, pensei, elaborei uma estratégia, e, com muito tato fui sugerir a idéia de uma festa à minha mãe. Idéia dada (com justificativas!), idéia aceita e lá fui eu trabalhar.

Quando eu era da idade da Licas a vida era mais simples; as pessoas chamavam os coleguinhas em casa, passavam a tarde na cozinha assando bolo, enrolando doce, fervendo salsichinha viena e enchendo bola de gás. A mãe de uma amiga minha (até hoje, diga-se de passagem) em vez de cachorros-quente fazia sanduichinhos de carne moída, pra mim, o ponto alto da festa!
Mas hoje, vivemos num mundo moderno onde a gente paga tudo e só aparece na hora da festa para se refastelar sobre o esforço alheio.
Casas de festas, já fomos a uma bela variedade ao longo do último ano. É uma ótima escolha para pessoas que não possuem plays nos seus prédios. Algumas até possuem, mas ele é detonado e tal e coisa e preferem pagar por elas (as casas de festas). Eu sou uma mãe meio, uhmmm, não sei bem definir, o fato é que eu, particularmente, não gosto das casas de festas porque acho que as nossas crianças ainda são muito minúsculas para brinquedos tão ousados e perigosos e sinistrões. Frequentamos porque amigos são tudo no mundo e eu acho lindo que elas os tenha já tão cedo, mas não é a minha. Fora que o prejuízo total da coisa, para um dia de festa, extrapola o meu limite moral e social de gastos.
Assim sendo, lá fui eu catar algum amigo que tivesse playground, já que eu não tenho.

É uma coisa complicadíssima achar um playground!
Primeiro, você tem que achar alguém, dentre as suas intimidades, que possua esta facilidade da vida nem tão moderna assim; depois, essa pessoa tem que ser muito íntima mesmo para ter a boa vontade de ir ver se existe a possibilidade de que você (então no papel de irmã, prima, até avó do pobre morador) alugue a área de eventos - e ainda assim pode ser que você não consiga porque existem prédios que possuem a tal comodidade, mas não deixam seus moradores darem festas, que tal?
E então, enquanto as suas pessoas se movimentam, você resolve orçar o resto das coisas que você, enquanto mulher moderna, vai pagar para que alguém, que não você, execute.

Neste momento, realizei que precisava fazer uma lista de convidados para que pudesse saber a quantidade das coisas todas. Coleguinhas do colégio. 16 na turma, mais uns 4 de outras turmas e mães... com pais! Pai e mãe. Okay, eu bem sei que raramente o trio vai completo, mas quando eu vi que só do colégio iam sair algo em torno de 40 convidados, comecei a suar frio. E isso porque eu só contei criança na hora de calcular o número de lembrancinhas (40, cara, 40)! Aí tive que parar e pensar nos meus amigos, nas amigas da minha mãe, da minha tia, na família... Neste ponto da operação comecei a ter dores de cabeça e devo ter ganho mais um belo punhado de cabelos brancos; então me consolei dizendo a mim mesma que várias pessoas faltam às festinhas, porque se for a lista eu vou me estrepar de verde e amarelo.

Então foi preciso passar à dolorosa etapa de procurar um buffet com preço acessível, que me desse tudo o que eu precisava. Foi doloroso porque a minha relação com dinheiro é complicadíssima. Pra início de conversa, eu não tenho. Pra segundo de conversa, qualquer coisa que passe de dez reais eu já acho caríssimo. Passar uma tarde toda pendurada no telefone recebendo orçamentos que variavam entre 1000 e 4000 reais foi uma experiência que avacalhou com todo meu bom humor de vida. Acabei marcando uma reunião com uma senhora que me pareceu o retrato da antipatia pelo telefone, mas que me daria a fartura que uma boa mãe que não nasceu judia por enquanto precisa ter como garantia.

Chegamos no ítem animação. Porque crianças de 3 anos de idade - uma turba delas - precisa de festa com animação. Aquela coisa de ligar um sonzinho na sala já era e não existe nada mais ameaçador que uma turba de criancinhas entediadas. O must em animação nas festinhas que a gente frequenta é um composto de som aos berros (Xuxa, axé, essas coisas com x muito perigosas...) comandada por um bando de marmanjos gritando e pagando micos inacreditáveis. Meu lado indefinível cismou por "a" mais "b" que na festa da minha filha a animação ia ser adequada a idade dos convidados e da aniversariante. Musiquinha, historinha, violãozinho... Coisinha mais light. Saí catando panfletos, indicações, preços...ao mesmo tempo, achando que um violãozinho não segura essa turma, mas dadas as minhas 4 opções, escolher uma não foi tão difícil.

Tive a reunião com a moça não muito simpática - coisa que ela realmente não é, não foi impressão - e saí decidida a fechar com ela. Não me interessa a simpatia dela e sim que ela faça um serviço impecável.
Tive que ligar para duas mães do colégio pedindo uma troca de data no parto. Este ano, o dia do parto em si a mocinha vai passar na casa do pai, o que eu nem estou achando uma coisa terrível já que eu estou aqui todos os dias mesmo e que vai ser bem no dia do Tim Festival (hehe), mas aí me sobrou o dia seguinte ao parto, quando existiam duas criancinhas aniversariando também. Pedido feito, pedido atendido, foi a parte mais fácil de toda a negociação.

Só então a minha angústia com a falta de um lugar disponível para a realização do evento do ano acabou. Consegui um play. Habemus festum!
...E eu já de saco cheio dessa minha idéia, quis logo é fechar tudo, deixar tudo pronto e esquecer disso. Aparecer no dia como convidada e pronto.

Ainda assim, ainda existia a porra da lembrancinha.
Não interessa se vai ter violão, docinho, bolo, bola; tem que ter um bagulho qualquer pra criancinha sair carregando na saída da baladinha. E eu já estava legal de gastar dinheiro (mesmo que à prestação), o que me fez estabelecer um limite de gastos com essa coisa de lembrancinha, o que acabou limitando meu meio de campo. Mas, pensa comigo: multiplica aí 4 reais por quarenta. É dinheiro pra caralho em besteira! Idéia de jerico que eu fui ter de fazer festa... Resolvi que vou ao Saara comprar um monte de bolas de plástico vagabundo pras crianças quebrarem os vasos das mães e pronto.

Muito de saco cheio e mau humorada consegui organizar a bagaça.
...Então contei a novidade pra ela, que já contou pros amigos e fica ansiosa, cheia de sorrisos, esperando este dia que ainda demora mais de dois meses para acontecer...
...Então vai valer - já está valendo - muito a pena ver a felicidade dela!
Filho é foda, faz a gente ficar feliz até com os perrengues mais perrengues do mundo...

(continua)
(não acabou a saga)
(mas eu tenho que dormir)

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