segunda-feira, agosto 27

Combinado

Vamos combinar uma coisa aqui: é okay não me amar, é okay interpretar as coisas a seu bel prazer - afinal, Deus deu ao homem essa maravilha chamada livre arbítrio - é okay mudar de idéia, até assombrar a minha ridícula existência pode ser okay, já que essa parte é um distúrbio psicológico meu e meu somente; mas atrapalhar a minha vida não pode.
Não pode!
Eu não tenho tempo pra isso!

Quando você se mandou, na verdade me fez um favor. Ao invés de fazer o que eu fazia "antigamente" - aquele belo baile de sair, beber, urrar, chorar, perder a noção e deixar qualquer um entrar - eu me fechei. Me reciclei. Falta muito ainda, mas para me curar, me afastei das pessoas que nada me acrescentavam. Aprendi a supervalorizar amigos mais antigos e amigos não-frequentes.
Inaugurei uma fase inédita na minha vida, me dedicando a trabalhar, trabalhar, trabalhar; e isso foi e vem sendo maravilhoso! Muitas coisas andam acontecendo graças a essa dedicação, a esse novo tesão. E eu trabalhei tanto, tanto, que meu tesão mesmo se transformou em sair uma vez por semana para bater papo, estar com os meus amigos. De verdade.
Fugi disso.
Neguei chance a muitas pessoas.
Muitas vezes não quis nem que chegassem muito perto.
Não deixei ninguém entrar...por uma série de óbvios motivos.
Me descobri feliz.
Feliz pra cacete sozinha!
Descobri que é um prazer imenso poder ir e vir sozinha com quem eu quero, do jeito que eu quero e na hora que eu quero. É um prazer imenso não fazer coisas porque outras pessoas querem que você faça; dizer "não"; passar um final de semana em casa lendo e escutando música sem se cobrar a obrigação de "ter que sair".
Eu cresci.
Mudei.
Hoje, me levo muito mais em conta.

Continuo uma louca de pedra. Algumas vezes, acho que até em estado terminal. Mas amansei.

E cá estava eu...
Resolvendo a vida.
A vida está sendo resolvida.
Meu tempo é tomado por seis dias de faculdade com um sem número de trabalhos trabalhosos semanais, ginástica, terapia... Tem a filha, que é linda e companheira e de uma sensibilidade terrível porque já sacou que vem mudança por aí e que, ainda por cima, se recusa terminantemente a largar as fraldas. Tem procura de emprego. Tem uma casa nova vindo por aí.
A única coisa que não estava sendo remexida e resolvida era essa.
Então você apareceu.

Eu bambeei.
Confesso.
Tive espectativas.
Confesso.
Mas na real, na real mesmo, esperanças, não tive.
Eu queria olhar, ver, falar. Na verdade, tive esperanças, sim. De que chegasse e visse que não era nada daquilo.

A semana passou lenta.
O final de semana chegou.
Você não.

E isso me a-tra-pa-lhou.

Fiquei com uma raiva imensa dessa vez.
Quem diabos você pensa que é para vir atrapalhar a minha vida tão atribulada e funcionando? Quem diabos você pensa que é para vir bambear as minhas pernas? Quem diabos você pensa que é para ir embora sem nem ter vindo de volta? Quem diabos você pensa que é?
As pessoas não devem nunca se dar mais importância do quê realmente têm, meu bem.

Não me resta a menor dúvida de você foi mais importante pra mim do que eu jamais vou ser para você. E não faz diferença. A vida é assim. Feia e injusta.

Algumas coisas não mudam e eu saí.
Dessa vez, saí.
Me enfiei numa roupa superjusta, me maquiei, saí.
Eu estava linda. Um arraso.
A intenção era justamente ver o que ainda existe lá fora.
Que o que existe lá fora me visse.
Nada aconteceu, mas que me viram, ah, isso lá viram!

Não se dê mais importância.

Assim como da outra vez, tenho certeza de que será produtivo este próximo ano.
Mas fiquemos combinados: você não pode mais atrapalhar a minha vida.
Não tem esse direito.
Nesse caso, nem livre arbítrio a respeito.

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