sábado, outubro 23

O Meu Silêncio

Eu gosto muito da minha casa.
Inclusive por que ela parece uma casa de fato.
Mas, nos últimos meses, o que acontece fora da minha da minha casa anda perturbando tanto a ordem natural das coisas, que, às vezes, eu tenho que sair da minha casa para poder ter um pouco de paz.
Primeiro foi a obra da vizinha.
Uma obra interminável, coitada.
Começou em abril, se eu não me engano, e ainda está correndo.
Era tanta pancada de martelo, máquinas barulhentas trabalhando sem dó, que teve um dia em que uma outra vizinha ficou aos berros de "eu não aguento maaaaaaaaais!!!" aqui do lado.
Ninguém aguenta.
Só que agora não tem mais quebra quebra.
Assim que terminaram de quebrar lá, o prédio do lado começou a quebrar alguma coisa.
E vieram mais dias de barulho.
Assim que o prédio terminou de quebrar sei lá o quê, alguém, que eu não sei quem - se CEG, se Light, quem - começou a abrir um fosso na rua de trás com britadeiras.
Uma experiência nada agradável se você fica em casa durante as tardes, tentando trabalhar ouvindo coisas.
Teve um dia que as britadeiras assassinaram o asfalto até às 23hs.
E, quando eu pensava que meu martírio sonoro estava perto do fim, que o silêncio que me é direito se aproximava a passos largos, que poderia desfrutar da quentura e do conforto da minha cama num sábado, eis que acordo com um zumbido alto, alto: resolveram lavar com uma mangueira de alta pressão a área de serviço do prédio.
Sim, eu sei que a obra da vizinha é necessária (o consolo é que depois dessa, ela só vai martelar meus miolos daqui há uns 10 anos); imagino que houvesse algo caindo no prédio ao lado; troca de fios, tubulações ou sei lá mais o quê que eles estão enfiando nas valas abertas no meio da rua, são um sinal de cuidado; lavar a área de serviço é uma coisa extraordinária, nada como um prédio habitável...
...Mas, e eu, caramba?
Que ando precisando tanto de silêncio?
Por que eu saio de casa para não ouvir os barulhos daqui, mas o que me espera lá fora é um mundo de gente, carros que buzinam, uma outra cacofonia.
O lugar do meu silêncio sempre foi dentro da minha casa.
Especialmente uma vez a cada 15 dias, quando eu tenho um silêncio meu, a ser preenchido ou não conforme meu bel prazer.
Há muitos meses, o meu silêncio me é negado.
E eu quero, desesperadamente, ele de volta.

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