terça-feira, julho 20

Estupefata

Ontem eu tive um daqueles ataques que eu odeio de desejos materiais.
Começou a me dar vontade de viajar, de comprar roupas... Desejos de futilidades.
Futilidades caras.
E isso me irrita.
Me irrita porque a gente deve viver como pode, não deveria sentir necessidade dessas coisas, sociedade de consumo, blablabla...
Então, me peguei fazendo conta.
A Idade Adulta ainda me deixa estupefata - ainda que eu esteja nela, de fato, há quase 6 anos.
Pensa bem, durante a semana, você consegue um emprego de 8 horas, leva uma pra ir, uma pra voltar (em se levando em consideração que você não trabalhe na Barra, por exemplo), conta aí mais uma hora de banho e troca de roupa, mais uma hora para comer, já são 14 do seu dia. Se você dormir 8 horas por noite, sobram duas horas para falar com as pessoas, ver um seriado, namorar, conversar com os filhos, ou seja, quase nada.
Ou seja, um adulto médio vive para trabalhar.
Ele tem dois dias de suposto descanso - isso se ele não tiver filhos, família, ou mesmo trabalhar aos sábados ou estudar.
Mais um mês ao longo do ano.
São 22 dias de trabalho, se o mês tiver 30 dias, todo mês, durante onze meses.
Isso tudo para poder consumir as coisas que ele tem desejo de consumir.
Ou é obrigado, por ser um ser urbano.
E é isso que me deixa estupefata na Idade Adulta.
Que as pessoas vivam assim.
Que achem que isso é normal.
Que elas sejam, achem lugar para serem felizes vivendo assim.

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Aí de noite eu vi "Preciosa".
E fiquei de novo estupefata.
O filme foi uma porrada.
Pra mim, aquilo é mundo muito, muito distante.
Ontem eu escrevi que tinha gritado com a Olívia, mas meus gritos são gritos de "olha a bagunça", "sofá não é lugar de roupa suja", "abaixa a televisão".
A minha filha é a pessoa que eu mais amo nesse mundo.
O amor que me transborda de culpa por cada grito, que me enche de angústia quando ela quer alguma coisa que eu não posso dar, que aquece meu peito cada vez que diz um "eu te amo" e me acorda de manhã, que esvazia meu peito cada vez que ela não dorme em casa.
É uma coisa inimaginável pra mim o mundo de ódio, de abuso, de total e absoluta pobreza que existe naquele filme.
É um mundo ao qual eu não pertenço e que jamais vou entender de verdade.
Aqui, a gente não se bate, não se abusa, tem educação e uma situação econômica e social bemmmmm melhor.
Mas doeu fundo lembrar que existem muitas garotas como a do filme.
Doeu lembrar o quanto as pessoas podem ser cruéis, más.
O quanto outras pessoas pagam pela maldade dessas pessoas.
Porque isso também é uma coisa que me deixa estupefata na Idade Adulta - como as pessoas podem esquecer que já foram criança um dia, do que elas gostavam, de como é bom dar e receber carinho; de como o coração de alguma pessoas endurece, e sequer brilha qualquer brilhinho.

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