sábado, julho 31

Dizem por aí...

...Que mãe não sente nojo de filho.
Mentira.
Cabeluda.

De vez em quando mãe também tem nojinho.
Lembro até hoje do cordão umbilical - aquele negocinho que quem inventou a gente pôs lá na barriga do bebê, que hoje é tão importante e tal e coisa, que tem gente que guarda de lembrança, mas que é uma ripa de carne moribunda e feia presa num clipe de plástico com um aspecto nada agradável; e que a mãe tem que limpar metodicamente com álcool todos os dias até que ele de fato morra e deixe o corpo do seu filhote.
O da Olívia pulou em cima de mim numa tarde qualquer num pós banho.
Eu morria de nervoso.
E gritei.

E aqueles cocôs que a criança faz que saem por todos os lados do macacão? Que você fica sem saber muito bem por onde que você pega e começa a limpar?
Nojento.

E aquele dia que ela deu um espirro na rua e ficou com aquela meleca verde fosforescente pendurada até o queixo e fez uma coisa tão nojenta que eu nem vou escrever, enquanto eu procurava um papel, qualquer papel, para limpar?
Ela tinha uns dois anos e eu fui gritando ecas até o colégio enquanto ela ria muito.

Vida de mãe tem isso.

Essa semana, chegamos a um momento temido e esperado da infância: os piolhos.

Tinha acabado de sentar para trabalhar e recebi uma ligação da escola.

- Oi Renata, é que a Olívia está com piolho...
- Não...!!!
- É. Confirmado pelas professoras...
- Não!!! Ai, meu Deus...!!!

Nojo.

O primeiro dia foi de pânico.
Remédios caros - hoje, ah! a tecnologia! já existe um comprimido para piolhos, olha só que coisa! - pente fino, álcool, creme pro cabelo e sessão de catação.
Foi o estopim pruma crise de nervos.
Chorei copiosamente praticamente o dia inteiro.

No dia seguinte, estava mais calma e conformada.
A semana foi caótica.
Sem colégio, com a mãe trabalhando entre as sessões do piolho, restou à criança destruir a casa e construir acampamentos de bonecos até então esquecidos pela casa inteira - além de derreter algumas dúzias de neurônios em programas de televisão.
Minha queda pelo lado suburbano da vida foi plenamente preenchida, visto que agora, todas as manhãs sento-me na varanda, com a criança entre as pernas, para catar lendeas - essa meleca desse bichinho minúsculo que eu peno para enxergar.
A tarefa é árdua.
Eu não enxergo, ela se mexe, e, dentro de mim o que reina é o pânico de não conseguir pegar todas elas até segunda-feira.
A semana que vem vai ser mais curta e eu tenho um milhão de coisas para fazer. Não pude ir à ginástica, não pude ir à clínica, não pude ir ao curso e ainda fiquei trocando toalhas, fronhas, lençóis com uma dedicação acadêmica.

Piolho é um momento inevitável da infância.
Os dela nem chegaram aos pés dos que eram os meus.
Mas a visão de bichinhos de pelúcia com pontinhos pretos voadores por cima (não aconteceu), é um pesadelo que desperta... Nojo na mãe.

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