domingo, abril 18

Um pequeno passo para um homem...

No meio da minha gripe malvada, impulsionada por só restarem no barraco um rolo de papel higiênico e um filtro de café, tive que encarar o mercado.
Até então, nunca havia me ocorrido pensar em como a gente vai fazer pra se virar o dia em que não existir mais papel higiênico no mundo.
E eu ando bebendo café em doses elefânticas - não são nem mais cavalares - para aguentar o tranco de dias tão pesados.

Eu fiz uma lista no início do ano de coisas que eu precisava comprar para a casa, antes de começar a enfeitar a casa. Dessa lista, fazem parte um novo escorredor de louça, que o meu está bastante enferrujado, mas eu ainda não consegui me livrar dele, tenho um certo apego emocional; uma escada que não ofereça perigo ao usuário, que geralmente não sou eu, então não fica exatamente no topo da lista; almofadas novas para a sala, que só tem uma até hoje e toda casa precisa de mais que uma almofada, mas eu namoro, namoro e não compro; o orçamento da retirada do insulfilm da varanda e um carrinho de feira. Todas coisas que não são exatamente baratinhas, e, por isso, demoram a ser devidamente resolvidas. Mas serão.
A mais necessária de todas era o carrinho de feira.
Todo mês, quando chega a época de compras de mês, eu me divido entre ou quatro supermercados diferentes, dependendo da minha disposição para com a humanidade e para com o meu bolso. Acontece que o grosso das coisas de limpeza e empacotadas eu sempre compro no Mundial, que é algo longe aqui de casa. Sempre voltava eu com uma quantidade absurda de sacolas penduradas nos braços, que iam ficando roxos no caminho, e me arrebentava toda.
Todo mês, eu jurava que ia comprar um carrinho de feira, que ia ser a saída.
Mas, como o evento só acontece uma vez por mês, eu esquecia do assunto.
Então minha mãe perguntou o que eu queria de Páscoa.
Resistindo bravamente ao desejo por um vestido novo ou mais um sapato para os meus 28 pés, bati o olho na lista.
E ganhei o famigerado carrinho.

Assim sendo, movida pelos papéis e de posse da longa lista de compras que, depois da louça na pia, é o item que mais se multiplica e nunca acaba dentro de uma casa, saio eu toda pimpona para estreiar meu carrinho novo.
O primeiro pensamento foi que este era uma passo importantíssimo rumo ao acalentado arquétipo de dona de casa suburbana que me persegue (por mais que eu more na Zona Sul). Já existem pinguins na geladeira, uma manta de oncinha, flor na janela e briga de condomínio pra deixar qualquer um no chinelo. Agora eu estava virando uma daquelas "do lar" que sai de lencinho, munida do seu carrinho de feira, para dentro de um supermercado baixo nível o qual você sequer pode parar por mais de 10 segundos diante de uma prateleira sem correr o risco de ser atropelada por alguém mais idoso que você.
E ia caminhando, pensando "este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade", quando dei de cara com a mamãe...!
Que, se esborrachou de rir da minha cara e disse que eu era a perfeita encarnação de "Dona Nenê", da música dos Titãs.
Sim, suspeitas confirmadas.

E, realmente, chegando lá, comecei a reparar que o acessório figurava em uma quantidade recorde de carrinhos alheios. Existem senhorinhas que levam até ganchinhos para pendurar o seu carrinho do lado de fora do carrinho do mercado! Achei uma droga não ter pensado nisso.
Sim, um pequeno passo para uma mulher, mas, quer saber?
Funcionou.
No pain.
Bacaninha, molezinho.
Nunca mais ir às compras será como era antigamente!

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