quarta-feira, outubro 29

Uma lembrança

Eu não sou uma garota muito chegada em primeiras vezes.
Não me lembro do primeiro livro do Stephen King que eu li, do primeiro disco que eu comprei, do meu primeiro porre... E essas lembranças esquecidas são parte, definitivamente, do que eu gosto hoje, da minha história e de como eu me tornei quem eu sou (eu e todo mundo).
Por isso é tão especial quando, de repente, eu consigo me lembrar de alguma delas.
Assim que eu acabei de ler o livro aí do lado sobre as mitologias africanas, passeando numa livraria qualquer de um lugar qualquer, namorando todos aqueles livros todos que as pessoas escrevem e que eu cobiço diariamente, me deparei com um volume de “Tenda dos Milagres”, do Jorge Amado.
O lance é que eu nunca li nada do Jorge Amado – e eu gostava do cara, achava simpático e quase tudo que eu já sabia de Bahia foi tendo ele como professor. É uma lacuna da minha longa lista. Conheço a maioria das histórias pelo relato de outras pessoas ou pelas versões cinematográficas ou televisivas que foram feitas.
E quando eu me deparei com “Tenda dos Milagres”, lembrei.
Lembrei que foi por causa da adaptação dessa história que eu vi pela primeira vez, na tv, um orixá. Um terreiro. Aquelas danças, com aquelas pessoas paramentadas de saias e contas, que cantavam, entravam em transe. E aquele povo que acreditava naquelas coisas.
Pra mim, era um conto de fadas novo.
Foi a partir desse romance que eu nunca li que eu passei a pesquisar mais sobre o assunto, que eu fui procurar aquilo em alguns dos lugares onde eu andei. Nunca foi minha intenção me juntar àquele povo, mas ver aquilo acontecer, me maravilhar com aquele espetáculo que eu passei a achar tão bonito.
Porque é bonito pra caramba.
Foi ali que eu quis saber quem eram aqueles personagens, qual era a etiqueta, quais eram as suas histórias. Dali, tirei várias superstições e conheci várias coisas.
Estou longe de ser Phd no assunto – ainda tenho muito a aprender; mas me deu uma alegria imensa lembrar de onde saiu essa parte do meu gosto por essa história, essa cultura, que eu não lembrava.

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