terça-feira, outubro 14

Oh, S%$t!!!

E então depois de duas semanas de festa, farra, alforria, gritos de Elisabeth não é mais uma Fritzel, manhãs brindadas com cachorros-quente debaixo do braço, porres nada elegantes para uma senhora mãe de família, aquela enorme sensação de liberdade e três dias achando que a alma, enfim, abandonaria meu corpo dentro de um banheiro qualquer e pediria a aposentadoria pelos anos de maus tratos e abusos; a festa acabou.
Um dia acaba.
Assim como a grana e o fígado.
A vida chama, os filósofos chamam, todas as obrigações chamam você de volta e você percebe que crescer é de fato uma coisa muito chata – nada lúdica. Que, na sua adolescência – que, no meu caso, foi estendida bem por uns 10 extras além do prazo – as noites eram realmente sem fim e que na vida adulta isso é balela; elas acabam antes que você esteja preparada.
Porque são elas que não te deixam ver o outro lado da cama vazio, que fazem as noites sem telefonemas passarem numa boa porque existe sempre algo mais a fazer, que te tiram de casa para que você não esbarre naquele programa que vocês sempre viam naquela hora. São elas que te impedem de olhar outras mulheres na rua e pensar se aquela ali será a vadia vagabunda, que te impedem de olhar pro lado quando calha de você pegar um ônibus que passe por ali, que matam a tristeza que te come por dentro quando a sua filha pergunta por ele.
Porque você nunca se prepara para essas coisas, mesmo sabendo que, mais cedo ou mais tarde, elas vão bater na sua porta tão certamente quanto vendedores de bíblia.
Nas noites, tudo isso a gente afoga.
Afoga numa dúzia de copos, numa dúzia de risadas, numa dúzia de conversas absolutamente estúpidas e nada filosóficas, afoga nas caminhadas, afoga nos olhos e nos sorrisos dos outros náufragos que estão sempre em volta.
Morte por afogamento.
Difícil é a sobriedade.
Admiro por demais essas pessoas, os sóbrios.
Admiro a coragem que eles têm de passar por tudo isso sem se esconder em algum lugar ou alguma coisa.
Eu sou uma covarde assumida.
Só sou sóbria por força das responsabilidades, mas fujo na primeira oportunidade.
E volto...
E fujo...

Ao mesmo tempo, no meio da festa, chega um convidado que há muito rondava, sondava, cheirava...
E ele chega.
E ele está lá.
E é de uma ironia absurda que, desta vez, vocês tenham trocado de lugar.
Absolutamente.
E você só pode imaginar como vai ser aquela conversa.
De novo.

Porque, a bem da verdade, não é a hora de nada disso.

Só o que deveria interessar era um casamento que vem e um aniversário – O Aniversário Mais Importante Do Ano. Roupas, comidas, bolas, bebidas, maquiagem, jóias. Deveria ser um tempo de grandes despesas e pequenas futilidades e felicidades. De pensar em dourados, cachos soltos ou presos, na volta pra casa, na encomenda de doces, na sandália perfeita, em coca-cola ou guaraná e pendurar quadros na parede, sem esquecer de um engov e outro depois pra não ferrar a festinha da mamãe.

Ao invés disso, existem noites em que eu me sinto uma menina muito nova brincando de morar com outra menina mais nova ainda. Existem noites em que eu realmente acredito que é uma loucura que a gente possa viver sozinha – que eu me sinto muito incompetente e desprotegida. Existem noites em que eu queria colo – de novo. Que alguém entrasse e pusesse pra fora os monstros do meu quarto. Em que um raio duma carência babaca aparece e destrói anos do intensivão de terapia.

É você, seu coração ingrato, me amolando quando eu não preciso, quando eu não quero! Quando escolhi não pensar e não sentir. A vida é inevitável – seja de dia ou de noite. E eu vou passar por ela. Você só podia não atrapalhar, justo agora, que eu estava tão bem... Não quero nada, nada disso...
Não é a hora...

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