terça-feira, maio 19

I Had a Dream

Exausta, mal consegui ler meia dúzia de parágrafos do livro da vez, o corpo quando encostou no travesseiro deu aquele revertério de corpo cansado, can-sa-do.
Então eu sonhei.
Tinha uma aranha, que não era uma aranha, era uma Maria Farinha, mas era uma aranha, e ela estava lá na minha estante de livros tecendo uma teia. Eu fui fazer aquela coisa que as pessoas fazem de enfiar o dedo pra ver se a bicha pára com o serviço e então ela caiu em cima de mim; que acordei com o coração na boca, que nem a gente vê em filme e fica se perguntando "Ah, qual é! Quem acorda desse jeito?".
O medo que o sonho me deu e a adrenalina que ele me despertou, fez com que eu saísse da cama e demorasse mais três horas e um filme ruim a valer para conseguir pegar no sono de novo.
Agora fui procurar na internet:

"Sonhar com aranhas é muito desfavorável. Ver uma aranha tecer a teia representa uma armadilha preparada pelos inimigos. Ver-se preso numa teia deve-se deduzir que certas pessoas espreitam o primeiro erro que se cometa. Mas matar aranha significa libertação de um obstáculo. Comer aranha é presságio de ruína completa. Deve-se acrescentar que a aranha representa também o medo da sexualidade. Grandes e negras- é um sinal de mau agouro; traição e rivalidade; cuidado com mulheres morenas. Pequenas- sua situação financeira melhorará, com a ajuda de parentes próximos."

Como era uma aranha-carangueijo, eu fui ver se tinha carangueijo. Tinha sonho com ânus, mas não tinha com carangueijo. O mais similar era:

"ANIMAIS
Grandes - boa sorte, em tudo. Pequenos- grandes felicidades estão por acontecer. Fugir deles- você terá boas notícias, sobre assuntos comerciais e financeiros."

Então, deixa eu ver se eu entendi...
Vou ter grandes felicidades, melhorar um pouco da miséria, mas estou com medo da minha sexualidade e alguém vai arrumar algum mosquito pra vir me amolar.

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Então, às 8 da manhã, voltava eu pelo meu caminho, tinha acabado de deixar a criança no colégio e estava louca por um café e uma nesga de sol que pudesse me aquecer um pouquinho. Um pouco mais adiante, um cara, beirando os 50, sentado num degrau da rua, bem vestido, olhava com uma cara assassina pros passantes.
Quando eu passei, o semblante mudou, a voz se tornou chorosa e "moça, compra uma coca-cola pra mim?". Os tempos mudaram... Antes era um pão com manteiga, um café... Agora o cara pede coca-cola. Mesmo sendo solidária aos bebuns, nunca fiquei sentada em calçada pedindo dinheiro pras pessoas; e, mesmo que eu quisesse não poderia mesmo atender ao pedido do cara porque saí de casa sem um centavo sequer.
Quando o meu abanar de cabeça tomou lugar, veio a resposta "vai tomar no cu, sua puta!".
Meu primeiro reflexo foi de perplexidade. O segundo foi a vontade de voltar lá, olhar pra ele e "vem cá, mermão, por acaso você me conhece? Quem você acha que é pra me chamar de puta assim?". Minha filha, que não merece uma mãe morta de porrada no meio da rua e meu metro e pouco de altura, trouxeram o bom senso de volta à minha cabeça.

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Não foi a primeira vez.
Semana passada eu ouvi "eu vim de um relacionamento problemático" e perdi a cabeça.
"Vem cá, e você lá sabe como foram os meus? Me conhece o suficiente para lançar essa afirmação extremamente egoísta? Sabe você como foram os meus?".
É o tipo da afirmação que anda me tirando do sério.
Como é que as pessoas podem ser tão autocentradas assim? Assumir sempre que os problemas delas, que o passado delas, que elas são maiores e mais importantes que qualquer outra pessoa?
Não é uma competição de qual desgraça é maior, mas eu ando com muita preguiça dessa coisa individualista demais que as pessoas têm hoje em dia.
Juro que estou.

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Eu relativizo, hora bolas.

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E na parte que dos quereres, eu sou uma pessoa que realmente tem uma lista diminuta de coisas que realmente quer e serão indispensáveis à minha morte, no sentido de plena realização pessoal. E são coisas muito bobas até.
O resto é dispensável.
É consumo.
Quero, mas não preciso.
Ser amolada por terceiros ou quartos, realmente não faz parte da lista de quereres, mas é uma coisa, infelizmente, que acontece bastante quando se é vivo.
A minha sexualidade não me dá medo, mas eu ando lá analisando certos aspectos dela. São anos e anos de auto análise - final de semana passado mesmo descobri e decidi uma série de coisas que eu não quero e hoje não estou num momento ser mulher é muito bom - e ainda serão anos e mais anos até pôr todas as descobertas e decisões em prática, eu sei. É difícil perder certos (maus) hábitos...
Melhorar financeiramente, eu acho que não conheço nem uma só alma no mundo que não queira. Ajuda no que a gente quer, mas não precisa. Se bem que a casa anda precisando de várias pequenas coisas mesmo...
E pequenas felicidades?
Não só eu quero, como descobri que mereço.
Ah, se mereço!

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