quarta-feira, abril 8

Olhar alienígena

Estava eu lá, sentada na minha maravilhosa poltrona de balanço que eu ganhei há duas semanas e pela qual estou imensamente apaixonada, quando um casal começou a dançar no seriado que estava rolando na tv e eu estava vendo só por ver para poder ficar sentada mais um pouco no meu ninho.
Aquela cena me fez realizar o quanto o ato de dançar é uma coisa ridícula.
Como o ser humano é ridículo.
Pensa bem: fica um bando de gente sacudindo o corpo quando ouve um barulhinho (ou barulhão). Alguém já reparou nas caras das pessoas? Alguém já reparou nos passinhos? Alguém já parou para pensar na peculiaridade que é essa coisa de gente dançando, além de eu mesma, é claro?
Eu fiquei vendo lá o negão cheio de sorrisos, jogando os braços pra lá e pra cá, enquanto a parceira dele se sacudia que nem uma minhoca com dor de barriga na frente dele. Os dois no meio de mais um monte de gente pipocando em volta, espremido, sem espaço, só porque algum outro alguém resolveu brincar de tocar piano ou violão ou saiú por aí cantando sobre o último namoro que deu errado - aliás, cantar também é uma coisa estranhíssima!
Fiquei imaginando se um alienígena visse aquela cena.
Fiquei imaginando esse ser pensando exatamente como eu penso grande parte do meu dia dentro do universo acadêmico: "Muito manés...".
Meu pensamento acava de uma forma totalmente diferente, mas quando sentei para escrever, começou a me dar pena.
Eu gosto de dançar.
De certa forma eu sempre tive noção do quão ridículo é o ritual - tanto que eu detesto me ver dançar - mas gosto.
Gosto de cantar.
Estranho. Estranho demais essa coisa da gente fazer som e pôr pra fora e isso ser legal, mas gosto.
E se, depois de começar a observar essas coisas, estranhar e achar um ritual profundamente patético, eu implicar comigo mesma e resolver bloquear qualquer tentativa que meu corpo faça de poder ser esquisito?
Porque eu já não ando querendo falar. Falo. Quando bebo continuo falando pra caramba, inclusive. Mas no dia a dia passo horas e horas e mais horas sem dar um pio. Só falo em caso de necessidade, de um interlocutor me enchendo o saco. Então só o que me falta é resolver parar de cantar e dançar, não é, não?
Próximo passo: morar em algum lugar isolado, pelada e peluda e passar a fazer parte de uma família de cabras selvagens.
Ai se os alienígenas olhassem para mim!

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