terça-feira, novembro 1

Também quando eu era mais nova, uma pessoa me disse que, todos os dias, deveríamos agradecer pelo que ainda não tínhamos. Era uma maneira de mandar boas vibrações pro universo, e que ele responderia enviando o que estávamos agradecendo.
Eu, que acredito em quase tudo, passei anos da minha vida agradecendo por desejos não realizados.
Obviamente, isso só veio a gerar toneladas de frustações para com o universo de minha parte.
Hoje só agradeço pelo que tenho no dia que tenho e quando eu tenho.
Mas, por mais que acredite piamente estar virando uma mulher cada vez mais "dura", de vez em quando a Pollyana, que eu odeio tanto, aflora.
Ela veio, por exemplo, ao passar por uma moça na rua outro dia que chorava enquanto esperava o sinal fechar.
Minha vontade foi dizer pra ela: "Chora, não, gata. Podia ser pior".
Nem eu, nem nenhum dos outros pedestres falou coisa alguma - apenas seguimos nossos caminhos sem saber o que foi da garota que chorava.
Mesmo assim, não pude deixar de lembrar de quando agradecida por graças não alcançadas, ou de pensar "que pensamento escroto esse meu agora".

É que lembrando dessas coisas - coisas que me assaltam, coisas que eu acredito - me toquei aqui da minha loucura.

De um mês pra cá, não pude deixar de pensar como é curioso que minha vida sexual tenha caído no ostracismo logo depois de comprar um suprimento de guerra para cavalarias intensas.
Assim como, a partir do momento que ganhei o voucher para uma cama nova, que a culpa deste ostracismo é da cama velha.
Ganhei a cama ainda adolescente, na época do primeiro namorado, passaram-se mais de 15 anos e não tivemos sucesso no meio de campo amoroso - culpa de quem? Da cama.
A cama por onde passaram o primeiro, o segundo, homens que amei muito, homens que não significaram nada.
Mas lá fui eu embutir a culpa no móvel.
E cá estou, de novo, prospectando um futuro excitante e sensacional, esperando a chegada do móvel novo, virgem, desprovido de bad karma, com uma ansiedade adolescente.

Os anos passam, e eu só pioro.

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