sexta-feira, fevereiro 26

Todo dia ela faz tudo sempre igual

Meio dia.
A essa hora, eu já acordei, tomei e dei café da manhã, li o jornal, tomei e dei banho, levei a criança pro colégio, fui à ginástica, fui ao mercado (e esqueci do sal), lavei a louça, lavei a primeira leva de roupas (a segunda só depois que a Pequena chegar do colégio com a toalha molhada), lavei a lixeira do banheiro, tomei outro banho, fiz as unhas e tomei uma aspirina porque me veio uma sinusite - isso porque não tive aula hoje.
A essa hora, tanta coisa já meio na cabeça e eu me lembro de quem acha que eu não faço nada. Outro dia mesmo fui achacada por uma moça que ficou espantada em saber que eu fazia tudo sozinha porque ela achava que eu tinha vida de madame.
Vida de madame eu nem queria, mas delegar uma ou duas tarefas bem que não seria mal...
Ainda vou trabalhar, sair para buscar a criança, fazer o jantar, conversar com ela, ler história para dormir, trabalhar mais.
As únicas coisas que me balançam são as contas que eu faço o dia inteiro, a falta de tempo para ver filmes (fevereiro foi um mês nulo nesse sentido), o livro que já está na cabeceira há mais de uma semana e ainda não foi terminado e a sensação de que eu virei uma "daquelas mulheres", com o plus de fazer um pouco mais.
Uma mulher adulta no termo da palavra.
Com contas em dia, participativa na vida filial, com um paninho na mão nas horas vagas e que ainda arruma tempo para sair, beber, beijar e ser mulher como as mulheres deveriam ser.
A sensação de perceber essa vida me é esquisita.
Não deixa de ser prazerosa, mas, é isso então que é ser adulta? O que a gente espera tanto quando é criança?

Essa semana a Pequena perdeu seu primeiro dente.
Foi um momento supra especial.
Até agora eu ainda não sei se choro de felicidade ou se lamento que ela esteja crescendo, virando uma moça.
Ela fez sua primeira incursão ao dentista porque o raio do dente não quis cair sozinho, foi raçuda pra caramba - ela sempre me impressiona no quesito ir ao médico, eu sou medrosa - saiu de lá com um tremendo sorriso banguela no rosto e com uma mãe que quase desmaiou ao ver a conta do dentista, à beira das lágrimas, à tiracolo.
Então é isso que é ser adulta?

Eu resolvi comprar um diário.
Nem tudo se pode escrever aqui.
Queria deixar alguma de concreto, de palpável para Ela, para que ela soubesse quem a mãe dela é, pudesse me entender.
(Mesmo que eu desconfie que o conteúdo não vá ser muito apropriado para menores em alguns trechos.)
Ela cresce - rápido - e eu volto.
Me espanta, porque mais da metade do tempo, eu ainda não me sinto tão adulta.
E o tempo passa.
E amanhã, ao meio dia, eu já vou ter feito coisa à beça, o dia vai estar apenas começando e, ainda assim, vai me faltar tempo...

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