quarta-feira, agosto 26

Essa noite eu morri

Era noite numa cidade com toques coloniais, meio Paraty (Centro histórico), meio Salvador (Pelourinho). Um grupo grande de amigos, dos quais eu só me lembro de dois, e que um eu não revelo nem sob tortura, havia acabado de sair de algum evento meio sarau, meio cinema, meio show e procurava um bar, algum outro lugar em que pudessem beber e continuar as risadas e alongar a noite que estava muito divertida e agradável.
O lugar escolhido era um casarão, daqueles meio estilosos com móveis coloniais e lustres grandes e brilhantes. Numa mesa bem grande, no meio do salão, um farto bufet de frutas e outras coisas. Havia um par de candelabros em cada ponta da mesa também, com velas brancas e aquela luz de vela - fraca no meio dos lustres.
Tudo começou a ficar estranho quando todos escolheram beber taças de vinho e o garçom era o Lafayete, de True Blood.
(Sim, eu ando vendo tv demais, mas foi quando eu notei que as coisas estavam estranhas.)
Antes que o vinho chegasse, pela janela entraram dois insetos.
Um de cada lado da mesa.
O do lado de cá, meio lagosta pré-histórica, não se mexia.
O do lado de lá, uma espécie de filhote de libéluba gigante criada a base de geléia de mocotó, era frenético.
Minha fobia de inseto e coisas que possuem exoesqueleto começou a se manifestar com força total, enquanto o grupo de rapazes - 3 - ria muito e corria até o lado de lá para espiar de perto "o bichinho".
Este ("o bichinho"), a esta altura me olhava com grandes olhos de mosca, de um azul bem azul, cheio de olhinhos pequenos juntos num mesmo olho, todos emoldurados por uma longa e fragmentada antena de mariposa.
Quando os rapazes chegaram perto - rindo do meu medo - de repente, a mosca libélula mariposa superalimentada, criou um bico. Um bico que abria e fechava sem parar e de onde saía um zumbido alto.
Ensurdecedor.
Logo, o monstro inseto from hell também tinha penas e abocanhou o primeiro rapaz. Todinho. De uma só bocada. E, enquanto comia os outros, ia crescendo numa rapidez espantosa, ficando cada vez maior a cada corpo que engolia.
Ainda com medo do outro monstro - o monstro lagosta do lado de cá - não consegui ir pro outro lado da mesa, então resolvi me enfiar debaixo da mesa.
Acontece que outra amiga também tinha tido a mesma idéia e, num remake muito ruim de Alice do País das Maravilhas, embaixo da mesa era um lugar pequeno para nós duas, como se ambas tivessem resolvido crescer e a mesa diminuir.
Nisso, o monstro inseto-passarinho, que a esta altura era um ser gigante, resolveu ir para cima da mesa, quase esmigalhando as duas com o seu peso e procurando as duas últimas iguarias do seu jantar.
Naquela hora, apertei a toalha, de veludo verde escuro, de encontro ao meu rosto, fechei os olhos e tive certeza que ia morrer.
Acordei com o coração aos saltos, o corpo todo doído e precisei de um bom tempo para conseguir pregar os olhos de novo - ainda com medo de ser devorada.

Nenhum comentário: