terça-feira, janeiro 13

23 de Dezembro

Acordei 5 horas da manhã.
Acordei com aquela sede que a gente só sente quando uma ressaca cavalar se prepara para começar.
Nada no celular.
Do meu lado, a criança dorme um sono tão profundo que eu chego a ter uma pontada de inveja.
Levanto para pegar a água com a certeza de que uma boa convivência entre eu e a ressaca é afogar a mesma em litros e mais litros d’água. Ensinamento que nem Dalai seria capaz de me passar (Pensando nisso agora, será que Dalai tem ressacas como a minha? Duvido.).
Na noite passada fui me encontrar com uma amiga para trocarmos presentes de Natal e nos despedirmos de nós mesmas por este ano e o que seria rápido e inocente acabou v irando um papo de horas, risos, lágrimas e chopps a perder de vista. O resultado disso é que fui, mais uma vez, uma mãe permissiva (eu tenho sido permissiva de uma forma geral, mas isso é outra história) e deixei a criança dormir, mais uma vez, na minha cama (eu tenho regras); e, fui perceber que, do alto da minha sapiência etílica, resolvi dormir com as janelas do quarto abertas.
Dormir com as janelas do quarto abertas só estando de porre mesmo, porque volta e meia aparecem bichos estranhos, pré-históricos, cascudos, voadores e bizarros na minha casa. Só Deus sabe que espécie de dinossauro poderia ter invadido meus lençóis de madrugada. Uma náusea profunda me invadiu junto com esse pensamento. Fechei as janelas e deitei de novo.
De repente, me veio na cabeça a imagem das contas que eu tenho para pagar. Elas sempre me tiram o sono, mas acabam sendo sentidamente pagas pela minha pessoa.
Que raio tinha eu que pensar em conta às 5 meia da manhã?
O próximo passo foi levantar, pegar a calculadora, achar um boleto perdido entre o meus rios de papel e respirar aliviada chegando à brilhante conclusão de que eu nada poderia fazer àquela hora da madrugada – além de dormir.
Mas, para minha alegria, o sono não morava mais aqui.
Resolvi ver televisão.
Desde que o advento da NET chegou à minha humilde casa, sinto-me na obrigação de assistir à televisão. Já tinha desacostumado; me desintoxicado com sucesso dos anos e mais anos de fidelidade serial. Parei de achar graça e cheguei à conclusão de que não quero mais ter o compromisso de ter que ficar todo dia x, hora tal, por sei lá quantos anos a fio sentada no sofázão, perdendo tempo hábil da minha preciosa e tão curta vidinha. Uma espécie de circuito inverso.
Mas, acabo me sentindo na obrigação de justificar o investimento alheio.
Fiquei olhando sem absorver nada.
Passei um tempo distraída por um saco plático que passeava pela sala levado pelo vento do ventilador de teto, comecei a planejar mentalmente a faxina que se tornava necessária ao lar (na tela, a doente do seriado vomitava sangue de uma forma bonita mesmo), prestei atenção num reflexo de luz que passou pelo canto do meu olho e me fez pensar se teria sido mesmo apenas um reflexo, pensei no problema que eu tenho por ser tão chata e caxias ao ponto de ficar aborrecida com as pessoas só porque elas dizem que vão me ligar às 10 da manhã para se um dia todo fosse pouco para planejar...
Toda essa torrente foi gloriosamente interrompida por um dos dinossauros: preto, voador, cascudo que entrou voando pela minha sala com a mesma velocidade com que eu dei um pulo e saí desabalada do recinto. Sem nem querer saber o que seria o tal dinossauro, tranquei a porta do quarto acreditando piamente que quando saísse aquele monstro não estaria mais do lado de fora me esperando e sentindo toda a minha dignidade se esvair ante à minha atitude sóbria e nada corajosa, em menos de 30 segundos, graças a um inseto.
Mas o sono tinha mesmo ido embora. Começava a brilhar lá fora um sol brilhante de filme de amor de seção da tarde. E meu dente começou a doer.
Resolvi, então escrever.
O computador, resolveu, então, não ligar.
Resolvi nem pensar no pânico de perder todos os anos de fotografias estocados lá dentro que esperam há anos serem finalmente reveladas em papel.
Então o dente dói de novo, uma leve sinusite se insinua, a boca começa a ter “aquele gostinho de cabo de guarda-chuva” e eu começo a sentir um desejo meio kamikaze de “encarar uma prainha”.
O entregador do jornal toca o interfone – que eu não atendo de pirraça, porque acho inconcebível que alguém toque meu interfone antes de meio-dia sem que tenha sido convidado a isso – e o que me resta é fazer mais um penico de café, descobrir se o mundo já acabou e esperar o resto do mundo que resta voltar à vida e começar, ele, seu dia.

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