terça-feira, maio 21

Era de manhã.
Fui tomar café ao som das marteladas devastadoras da obra do apartamento ao lado.
A cozinha meio que tremia e eu resolvi espiar a parede.
Já andava com medo dela cair.

Nessa manhã ela tinha caído.
Não toda, mas um buraco que não estava ali no dia anterior agora a adornava.
Compunham o quadro os pedaços de tinta e cimento que caíram no chão e um olho que me olhava do outro lado.

No meio de todos os pedidos de desculpas e paciência, desabei a chorar.

Chorei como não chorava há mais de um ano.
Chorei andando na rua, chorei andando no metrô, chorei digitando no computador...
Chorei por 5 horas ininterruptas.

Eu sabia, desde o início, que aquela água toda não era por causa do buraco.
O buraco era a cereja do bolo.
A água era por minha causa.
Eu chorava por mim e todas as coisas ruins que andavam acontecendo na vida.

De noite, uma dor de cabeça quase terminou o serviço de explodir com a minha cabeça.

Foi preciso um buraco para que meu buraco se abrisse e saísse de dentro dele tudo de Mal que havia no mundo.

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