segunda-feira, dezembro 22

Lindo e triste (Nua)

...Essa coisa de ter passado um bom tempo do meu ano dedicada aos contos de fadas - lendo, estudando, pesquisando, entendendo - provavelmente me deixou um pouco (mais) pirada.
Depois daquele dia em que questionei que direito tinha eu de segurar a criança para que ela não saísse voando na ventania, impedindo que, assim, ela pudesse ter aventuras fantásticas, dei para ter as mesmas fantasias em torno do ralo da banheira.
Eu explico.
Todas as vezes em que ela toma banho de banheira eu brinco que ela tem que tomar cuidado para não ir pelo ralo. Logicamente, eu sei que isso não é possível. No início ela tinha até bastante medo disso acontecer de verdade, mas o medo foi embora e deu lugar à curiosidade pelo dito ralo. Hoje, a diversão é ver a água indo embora, pôr o dedo lá. E eu brinco: "Então tá bom, boa viagem, quando voltar me conta tudo, tá?".
E então lá fui eu...
E se ela fosse mesmo? E se isso fosse possível?
A cada banho eu penso nisso.
Dava uma história...

...Assim como "A Mulher Que Vendeu o Natal".
O título não é meu - deram pra mim.
É a história que eu estou vivendo agora.

Essa e as outras...

Períodos de descontrole têm isso.
A última vez que me lembro de ter um enredo pessoal tão cheio de tramas paralelas foi quando fui parar na Bahia. Ao mesmo tempo existiam muitas histórias acontecendo. É uma administração difícil.
Tenho me lembrado constantemente de uma pessoa que conheci há uns anos atrás que me disse que eu estava perdida. Ando me achado um pouco perdida.
Não que coisas ótimas não estejam ocorrendo. Estão.
Amigos de longe, amigos de perto, felicidade bombante em contraste com tantas outras coisas. Não posso reclamar, ainda que ande sentindo cada dia mais a saudade de ter um bicho de estimação que durma comigo e me aqueça nas noites mais vazias, ainda que tente compensar o que eu sinto ou deixo de sentir com plantas novas e barris de cerveja.
Cancerianos.
A gente gosta de rotina. Gosta de saber aonde vai. O que vai fazer.
É um período de espera. Não muitos dias. Menos de um mês.
Mas, o quê que a gente faz quando tá esperando?
Pra que lado a gente segue?
Como se preenche isso?
Como a gente escolhe direita, esquerda ou no meio?
Ou não escolhe?
Detesto não saber. Ter que esperar para resolver as coisas da minha vida. Só saber que existe uma viagem, existe uma volta e que aí, sim, vou poder andar, decidir, fazer, produzir, esperar. Tranquila.
Não posso reclamar, mas este fim de ano está um fim de ano.
Engraçado. Bonito. Cheio de encontros.
Mas, ainda assim, um fim de ano.

Outro dia quase chorei depois de um passeio com a minha filha.
Bati os olhos numa vitrine - coisa raríssima - e...
"Olha, filha, quantas camisolas lindas!!!"
"Mãe, você já tem uma camisola de oncinha."
"Eu sei, mas eu quero outra, o quê que tem?"
(Ando numa fase terrível. De repente oncinhas me parecem o que há em termos de estampa, dourados passaram a existir entre as minhas coisas e nos tons em que pinto as unhas, meu desejo ancestral de possuir um par de tamancos com plumas voltou com força total e conjuntos de lingerie com detalhes floridos e laços que eu não possuo passam a ter lugar na cobiça. Uma coisa assustadora, mas eu estou adorando cada minuto.)
"Tá bom, quando eu receber meu dinheiro, eu vejo pra você. Calma, tá?"
(Eu falo assim com ela.)

Mais tarde, meu pai resolveu fazer uma visita e deu umas moedas para a Olívia, que no mesmo instante me olhou e disse: "Pronto, mãe, agora eu tenho dinheiros para comprar a sua camisola de presente de natal".
Lindo e triste, né?

Tô assim, achando tudo lindo e triste.

De noite é pior.
Até porque, meu silêncio, que é meu e eu amo, é um silêncio completo..
Lindo e triste.

Os beijos.
Os encontros.
Tudo dura somente o que tem durar.
Me agarro às pessoas querendo que elas não me deixem, não vão embora. Uma coisa quase antropofágica.
Todas.
Você, você e você também.
Tudo muito lindo e muito triste.

Eu queria que fosse fácil explicar, que fosse fácil entender.
Não anda mais cabendo tanta beleza e tanta tristeza no meu coração.

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