sexta-feira, dezembro 21

Ser mãe não é a morte

No início vai parecer que sim.
Adeus, noites de baladas frenéticas! Adeus, fechar todos os botecos! Adeus, namoricos fugazes! Adeus, noites de fofoca com as amigas! Adeus! Adeus!
Você vai pensar que, por sorte, aproveitou bem a vida, namorou bastante e foi à quase todas as festas que queria, ou, que não aproveitou nada, namorou pouco e deveria ter saído mais.
E, por um tempo, realmente, seu filho vai exigir demais do seu tempo, sua conversa vai girar entre cocôs, babas e outras coisas nojentas, assustadoras e nada interessantes aos seus amigos sem filhos (ou com filhos já crescidos) de forma geral.
Fisicamente também. Não vai existir tempo de se depilar, pintar os cabelos ou as unhas, por mais vaidosa que você seja. Você vai regredir à condição de primata – com direito a macaquinho pendurado e tudo!
Mas o tempo vai passar.
De todas as coisas que a sua mãe te disse, omitiu ou enfeitou; essa talvez seja a verdade mais absoluta de todas: o tempo passa. E rápido.
Em pouco tempo, você vai poder voltar a ver filmes que não incluam personagens da Disney ou dinossauros roxos. Vai poder (tentar) confiar em uma terceira pessoa para cuidar do seu lindo rebento e tomar um chopp com os amigos, saber das fofocas sobre as pessoas que você não sabe mais nem quem são. Vai poder se meter a sair para dançar e descobrir que você não conhece mais ninguém “na noite”, nem as músicas que os seus djs preferidos (agora meio grisalhos – ou eles já eram assim?) tocam. Vai poder a ler não só os livros novos dos seus autores preferidos (que, a essa altura, já lançaram mais uns três livros inéditos, olha que maravilha!), como descobrir novos autores. Vai poder voltar a freqüentar o salão de beleza e descobrir que agora existe um novo tratamento para os seus cabelos a base de placenta de cabra alpina ou um esmalte à prova de acetona que são uma maravilha. Vai poder voltar a comprar roupas que estejam de fato na moda para você.
Também vai descobrir que aquele terror que você tinha de ser amiga das mães da pracinha é real. Você vai ser amiga das mães da pracinha; e, muitas vezes, vai levar o seu filho para passear porque quer encontrar a mãe da criança – não a criança. Vai descobrir que colégio é a melhor invenção do mundo, porque a sua criatividade nunca vai dar conta de tudo que eles podem e devem aprender e você vai poder respirar e ter uma vida adulta com adultos que falam “adultês” nesse meio tempo. Vai descobrir que trabalhar, produzir e estudar são coisas essenciais à sanidade humana e fazem muito, muito bem. Vai descobrir que vai preferir, em muitas sextas-feiras à noite, ficar em casa vendo o último dvd da Barbie com o seu filho que sair para a farra e acordar com uma ressaca sinistra que vai fazer você se arrepender de ter nascido. Vai descobrir que tudo que o seu filho faz é mesmo uma maravilha – até as pirraças – e que a companhia dele é melhor que a de muita gente que você conhece.
Vai descobrir que é possível, sim, coexistir como mulher e pessoa com o mito que você tem na sua cabeça sobre a maternidade – e ser uma boa mãe.
Duas coisas, para finalizar. Lembre-se sempre que a sua mãe e a sua avó e a sua bisavó, todas, passaram pela maternidade e sobreviveram, logo, você também vai. Depois, ser mãe não é a morte; é o início da sua nova vida. E ela é boa.

(Texto escrito para o meu projeto final de Projeto Editorial - Outubro/2007)

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