segunda-feira, agosto 25

Epifania do Mês

Voltar às aulas tem aquilo, horário que muda e faz você ter que se reorganizar de uma forma quase que enlouquecedora e se transmutar numa mulher que corre todo dia o dia todo de cima pra baixo e de baixo pra cima e que não tem mais tempo de limpar a casa naquele nível psicótico que sempre te deixa feliz e a casa cheirando a qual for a fragrância mágica da vez e ter que aprender a fazer almoço todo dia, o que leva você a ter que ter coisas de almoço em casa todos os dias, o que leva você a ter que lavar uma cacetada de louça todos os dias – fora ficar com o coração absolutamente apertado de chegar no colégio e a sua filha ser uma das últimas a sair do estabelecimento.
Mas também tem rever os amigos queridos e pôr o cérebro pra trabalhar em algo mais edificante que plantio de marias-sem-vergonha. Ficar afogada em textos e trabalhos e monumentalmente amolada porque já está já lendo o mesmo livro (e não importa se o tal livro tem mais de mil páginas) há mais de duas semanas.
O momento máximo da minha volta às aulas neste semestre foi passar de novo por uma atividade que todos os professores praticam e que eu acho que devia ser proibido por lei, mas, que como eu já fiz à exaustão, se a gente levar em conta todos os meus anos de má e boa estudante, até que eu ando me aprimorando e achando muito divertido: o quem sou da primeira aula.
Na boa, perguntar prum cara que está entrando ou está no meio de uma faculdade quem ele é pode terminar em internação. Enquanto está dentro da faculdade e sem estágio e sem saber direito em que ele pensa que vai se especializar é maldade. O cara pode ter uma crise. Fora que, poxa, quem sou eu?
Sei lá quem sou eu! Já fiz anos e anos de análise guiada e auto-induzida tentando descobrir. Estou cá com uns livros que prometem me explicar o Big Bang, as moléculas; já sei que não vim duma cegonha ou de um pé de alface, mas com 15 anos eu era uma pessoa, com 20 outra, hoje, com 31, sou outra, entende?
Como esses caras iam se sentir se eu olhasse nos olhos dele e perguntasse “Quem é você?”. “Não, amigo. Quem É você? Qual a sua meta de vida? Porque você escolheu dar aulas aqui se você é tão maravilhoso assim?”. Aposto que ia ter suicídio coletivo ou licença médica por tempo indeterminado. Provavelmente eu ia criar uma nova geração de Profetas Gentileza.
Mas, enfim, mais uma vez, essa seção teve seu lugar na volta às aulas.
E eu fiquei muito feliz porque dessa vez eu assumi, descobri o que eu realmente quero na vida. Não que eu ache que isso vai acontecer mesmo. É mais provável que eu ganhe na Mega Sena do que consiga realizar isso, mas...
Dentre o meu conjunto de manias habituais (eu preciso ter umas 4 ou 5 ativas para sobreviver feliz), novamente estou com aquele ataque de que eu preciso ler, preciso ler e preciso ler mais. Que existem muitos livros, muitos mesmo. A minha lista de livros a comprar só faz aumentar – coisa de 9 ou 10 novos desejos toda semana. Eu brinco que eu e a Olívia ultimamente estamos brincando de cobiçar. Ela cobiça ter todos os brinquedos das Lojas Americanas, eu cobiço ter todos os livros do Mundo (ta bom, todos não porque eu não acho que vá ler várias coisas do tipo “Neuroanatomia funcional” ou “Gossip Girl” ou...). É saudável, ainda que bastante pecaminoso.
Assim, eu descobri que o emprego dos meus sonhos seria que alguém de fato resolvesse me pagar para que eu lesse coisas. Que ia ser uma maravilha muito maravilhosa ser paga para ler livros ao invés de só gastar dinheiro com eles!
Porque, apesar de existirem alguns livros na minha casa que eu mesma ainda não li, de existirem centenas na casa da minha mãe que eu ainda não li, de estar tentando terminar o tratado nipônico e já ter mais uns três livros que eu preciso ler para a faculdade na fila esperando, ainda assim, hoje encomendei mais 4 livros.
Estou morta de felicidades! Mal posso esperar pela caixa chegando aqui em casa e eu pegando neles e sentindo o cheiro de novo deles! Livro novo é uma coisa tão, tão linda! Vai ser uma espera deveras dolorosa e lá se vão mais vários dinheiros e eu tenho certeza de que, quando eles chegarem, já vão existir mais vários outros livros na lista tomando o lugar deles. Por um lado, respiro aliviada porque existe leitura para vários meses – inclusive aqueles em que eu não vou poder comprar nenhum livro; se bem que ultimamente eu ando deixando de fazer algumas coisas para poder comprar pelo menos um todo mês.
Mas não ia ser genial? Me pagam para ler um livro (que pode até ser uma bomba, eu não ligo; uma pessoa com o meu passado de leitura não morre infeliz com nada na vida) e eu ainda ganho o suficiente para comprar mais livros legais! Não é genial?
Agora que eu descobri isso, vou rezar todas as noites pra que aconteça.
Enquanto isso, vou convivendo com essa doença tão angustiante e maravilhosa que é gostar tanto de livros.

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