Ando às voltas com vários textos e trabalhos de filosofia, então eu estava aqui pensando – como todo mundo sabe, eu penso muito; penso tanto que até esqueço de coisas que pensei e achei que faria alguma diferença no meu mundo escrever – e me toquei que eu tenho dois amigos filósofos, o que por si só já é um feito e tanto, convenhamos.
Quantos amigos filósofos você tem? Com doutorado e o caralho? Que são, assim, amigos do coração? Que valem horas de papo em qualquer birosca podre de beira de estrada? Então, é um feito que eu tenha logo dois.
E percebi que ambos os dois (ai, é feio, mas eu adoro!) foram morar fora do Rio, em cidades escondidas no Centro-Oeste do país, contratados por faculdades dessas cidades escondidas. No caso de um deles, a escolha foi feita simplesmente porque ele não conseguia vaga em nenhuma faculdade pública do Rio.
Aí me veio uma idéia muito doida na cabeça de que o centro-oeste está de complô contra o pessoal do Sudeste levando embora os filósofos todos para que a gente nunca aprenda a pensar sozinho em várias coisas super importantes, continuemos a ser governados por pessoas com apelidos vexatórios e afundemos-nos em merda e eles possam passar a ser as verdadeiras metrópoles do país.
Assim, eu saco muito pouco ou quase nada de política. Eu só fui saber que estamos tendo campanha para prefeito essa semana e ainda assim porque fui obrigada. Eu sabia que tinha campanha, sabia quem eram os candidatos, mas é um assunto que eu acho tão chato (e nessa parte eu aceito todo o mea culpa que me cabe) que me é muito mais divertido saber que existe um gato de 4 orelhas chamado Yoda morando nos Estados Unidos. Só não morro de culpa porque os caras em quem eu voto nunca vencem (a exceção do nosso senhor presidente da república, que só me dá alegrias – isso foi uma ironia – e talvez seja o grande culpado deu não querer mais saber pra que raio de cargo o próximo fazedor de besteiras concorre) e porque eu sei bem dos meus direitos mesmo que eles me sejam garantidos, na maior parte das vezes.
Mas, assim, é muita viagem da minha da minha parte supor que existe um complô para emburrecer geral além da salvação ou é só porque eu sinto muita falta deles?
Eu queria escrever mais.
Dizem lá meus ídolos... Ai, pára! Ídolo é demais...
...As pessoas a quem eu admiro, que a gente deve escrever um pouco todos os dias. Sobre qualquer assunto. O gato da vizinha, a filha que canta atirei o pau no gato enquanto vai ao banheiro – ou seja, as coisas que eu faço mesmo.
Agora, essas pessoas que eu admiro só não me disseram até hoje como é que a gente pode escrever todos os dias se tem que dormir, arrumar a casa, estudar, cuidar de filho, terminar de ler “Xogum” e outros milhões de afazeres de mundanos (além de manter a beleza da cútis) e fazer sobrar tempo para conseguir sentar e escrever, ainda por cima!
De novo, cá estou eu brigando com o tempo, naquela minha fase que eu acho que ele é um canalha e que eu precisava de um dia bem maior pra poder dar conta de tanta coisa junta, junta.
Além dos meus trabalhos, quando me sobra um tempo, tenho tentado escrever a alguns amigos que estão longe de mim. Hoje em dia, infelizmente pra mim e felizmente pra eles, são vários. Então, hoje saiu isso – é só um pedaço do e-mail mais comprido que escrevi nos últimos meses...
“Felicidade pra mim é isso; meus amigos perto, bem, aparecendo de vez em quando; minha família numa boa; meus livros lindos e cheios de histórias bacanas; meus textos que eu nunca gosto e que nascem sozinhos; fazer almoços longos aos domingos de novo; o sorriso da minha filha – que é, de longe, uma das crianças mais felizes e bacanas que eu conheço.
Enquanto eu escrevo esse e-mail super longo para mandar segunda-feira, é sábado de madrugada, a cidade lá fora ferve, coisas acontecem, pessoas se conhecem e se beijam e nada mais disso me incomoda. Num quarto, minha filha dorme, no seu quarto todo cor-de-rosa, como ela escolheu, afogada no meio de um monte de brinquedos; na sala, Arnaldo está vendo o último jogo de vôlei das Olimpíadas e eu, no quarto de hóspedes, posso dizer que hoje eu estou feliz e preciso comprar beterrabas. :)”
Por mais surpreendente e demagogo que possa parecer, eu realmente não sinto mais aquele comichão do sábado à noite, aquela sensação de que existe algo sendo perdido. Um dos meus amigos filósofos bem disse hoje que eu pareço estar satisfeita. Satisfeita não é bem a palavra; neste momento de epifânia eu gostaria de declarar que estou me sentindo quase que um Mestre Zen.
Sim, Mestres Zen têm que encarar longos caminhos para chegar ao caminho da iluminação. Esta semana tive vários embates com a minha quase adolescente de apenas 3 anos, envolvendo legumes e bichos-papão. Como me é peculiar passei pela conversa, pela gritaria, cheguei no choro e saí com a sensação de ter sido atropelada por um trem. Me consola ter uma mãe psicanalista que me diz que essas coisas são normais e que passam quando a minha filha fizer uns 45 anos. Não é nenhum Paulo Coelho, a D. Maïsa, mas bem que quebra um galho. Hoje, o dia foi só de alegria e amor!
Talvez eu mude o meu nome pra Yoda.
Aprender a falar como ele eu já sei e essa semana aprendi sofismas. Talvez eu comece a trocar as minhas redundâncias por eles.
- O cão late.
- O cão (constelação) é uma estrela.
- Logo, a estrela late.
Genial.
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