domingo, novembro 1

Meus vizinhos, meus amores

Fazem quase dois anos que eu me mudei, mas o encanto perdura.
Continuo perdidamente apaixonada pelos meus vizinhos.

Cada vez mais, até.

É verdade que no início eu tinha um pouco (muito) de medo deles, mas depois que eu entendi e aceitei que eles todos saíram de um filme do Polanski (Inquilino, Bebê de Rosemary, pode escolher), minha fascinação por eles só fez por aumentar.

O Velho, por exemplo.
Nenhuma visita, festa ou faxina é completa pra mim se O Velho não está espiando da janela.
Sempre, em um dado momento, ele está lá, parado não muito perto do parapeito dele – só o suficiente para que eu possa ver aquela cara dele de Velho Satanista Do Mal Que Planeja Rituais Dolorosos Para Mim Por Causa Do Barulho – espiando tudo que se passa na minha varanda.
Me apeguei.
No início do ano ele viajou e eu fiquei sentindo uma saudade imensa dessa vigília psicótica; vigiava eu, todos os dias, para ver se ele já tinha voltado ao seu posto. Voltou.

Tem As Vizinhas Que Pegam Na Rua Pra Contar As Fofocas Do Condomínio – uma de cada lado da história – coisa que eu adoro, já que quase não fico aqui (ou ficava) e fico me sentindo uma participante mais ativa se sei quem anda brigando com quem, quem fez o que com quem...

Talvez por sempre ter tido coisa de dois, três vizinhos, eu ache tudo isso bastante fascinante. É uma espécie de realização social pra mim.

Então estamos no feriado.
Por diversos motivos que eu não vou citar aqui, resolvi ficar trancada dentro de casa.
Então, sábado à noite começa uma gritaria.
É O Vizinho Que Grita.
A maior parte, como sempre, eu não consigo entender direito. Só sei que tem a ver com dinheiro e que palavras de baixo calão voam a mil por hora e portas batem, sempre por mais de uma hora.

Mais tarde, outros vizinhos fazem saliência, alguém derruba panelas, O Povo De Cabo Verde ri alto, a vizinha de cima passeia pela casa de salto alto, o cachorro late, o celular toca em outro apartamento.

Acordo com mais gritos – de outra vizinha (essa ainda não tem apelido, foi mal) – e mais portas batendo.
E então eu tive mais um arrebatamento de paixão pelos meus vizinhos.
Com um povo animado assim, não tem como a gente se sentir sozinha, não é mesmo?

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