Desde pequenininho, a gente ouve estorinhas sobre o fim do mundo, o apocalipse, essas coisas bonitas...
No cinema tá lá, um monte de filme com nada em volta, pessoas se matando, o caos reinando.
Mas, o fato é que a gente não espera que vá acontecer de verdade.
Eu estava trabalhando.
Tentando arduamente adiantar meu serviço porque esta semana está cheia de extras e compromissos e... Enfim.
De repente, foi como se Eles estivessem chegando: tudo piscava, os vizinhos gritavam de encontro uns aos outros dentro das suas casas.
Demorei a entender o que estava acontecendo.
Salvei o trabalho que já havia feito, calmamente, lancei mão da luz do celular para ir até a cozinha pegar uma vela e então me aproveitei, agradecendo muito, da bateria do laptop para descobrir o que diabos estava acontecendo.
Aos poucos, começavam as notícias: não era só no meu bairro – metade do Brasil estava apagado. Mais que isso, pouco se sabia.
Amém ao celular, mais uma vez, que possibilitou o contato com a mãe, que disse:
“Ainda bem que estamos todas em casa!”
Aí bateu.
Se fosse hoje, na hora em que tudo apagou, eu estaria na rua, dentro de um ônibus possivelmente, voltando pra casa. Veio na cabeça a rua escura, o ônibus rodando nas ruas escuras, a Praia de Botafogo escura.
Fiquei com muita pena de quem realmente estava na rua.
Pensei nos hospitais – quanto tempo dura a energia de um gerador? Será que as pessoas iam começar a morrer por falta de energia?
Porque o único barulho que eu conseguia ouvir no breu era o do gerador do hospital.
Em uma hora e meia só ouvi três carros e uma moto passando – e uma porrada de helicópteros voando lá fora.
Passavam aviões voando lá fora. No escuro. Fiquei com medo que finalmente caíssem por aqui.
Deitei na cama e só conseguia pensar em como estaria lá fora – no caos.
Me vi num daqueles filmes, sobrevivendo entrincheirada em casa com a criança, trancada dentro de casa, com medo de tudo que viesse do lado de fora. Morrendo sem cafuné, mais um beijo na boca e com um monte de vontades que eu ainda não realizei...
E se a luz não voltasse?
E se a bateria do celular acabasse?
2012 estreando no cinema – coincidência?
Será que eu ia ter que viver de mercado negro?
Será que ia tudo ser verdade, enfim?
Morro de medo de caos, de morte caótica...
Bem feito.
Quem mandou reclamar que não existia mãe solteira cuidando do apocalipse?
A casa me pareceu muito grande pra uma trincheira e meu medo só diminuiu quando a criança veio pra cama pedir abrigo e eu pude dormir abraçada com ela – pelo menos essa noite, estávamos as duas juntas.
Uma e vinte da manhã o breu continuava lá fora.
Firme e forte.
Não voava uma folha.
Não chovia mais.
Não ventava.
Nenhum inseto na área.
Nem
Um
Som.
Continuei com medo.
6 e meia da manhã.
A luz tinha voltado.
Não foi dessa vez.
Mas, às 8 e 20, o jornal ainda não chegou – e isso pra mim também é um dos sinais do apocalipse.
Apesar de ouvir as obras na rua, as pessoas falando, as buzinas buzinando; de saber que não vou sair na rua e encontrar grupetos escondidos em escombros explodidos e saqueados; ainda estou com medo.
E se acabar de novo a luz hoje à noite?
E eu estiver no meio da rua?
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