No meio de todas as confusões todas, ainda vieram dias de chuva.
Dias de chuva forte.
E, numa dessas chuvas, percebi o quanto é difícil ser uma pessoa que anda na chuva, ainda mais uma pessoa que anda na chuva sem segurar um guarda-chuva nas mãos. É como se as pessoas que carregam guarda-chuvas fossem mais pessoas que você, que não carrega um por questões ideológicas. Estas pessoas, saem pelas ruas andando como se fossem verdadeiros monarcas de pés molhados e descontam em você o fato de não terem carro com motorista ou terem que enfiar os pés dentro de poças cheias de organismos vivos e praticamente escalpelam as pessoas desprotegidas.
Estas, precisam fazer um caminho que é quase um roteiro de RPG, desviando daqui, escapando de fininho de uma ponta de guarda-chuva dentro do olho, pulando uma Bacia de Campos ali...
Não existe nada romântico do tipo música tocando ao fundo enquanto as pessoas sapateiam felizes e que vá culminar em você sendo parte de um casal que se beija loucamente enquanto borboletas borboleteiam e o sol sai lá atrás. Na melhor das hipóteses, um ônibus passa à toda do seu lado e te dá um banho de esgoto e a sua trilha sonora é a buzina daquele camarada que não se convenceu ainda, com 40 anos de carteira, que buzina em meio de engarrafamento não faz com que as pessoas comecem a andar mais rápido.
Um bueiro que jorra no meio do caminho uma mistura de água com alguma coisa marrom, que eu faço questão de bloquear da minha mente, me faz prestar atenção no fato que, tirando uns dois ou três porteiros espalhados por aí, ninguém se dá ao trabalho de passar um sabãozinho nas calçadas da cidade. Todos os dias cachorros fazem as suas coisas, eu apago cigarros, pessoas derrubam comidas e bebidas, outras fazem as mesmas coisas dos cachorros, cabelos caem, folhas caem, poeira se espalha e ninguém lava aquilo tudo como a gente deve lavar as coisas. E chuva? Chuva lava, leva uma água preta cheia dessas coisas todas que eu já listei aí em cima, aquela água, mas deixa o grosso da coisa. Não desinfeta.
O bueiro me fez entender de verdade o conceito de rua ser um lugar sujo.
E, no fundo, no fundo, começo eu aqui a pensar o que será que vai acontecer quando essa crosta ficar mais sólida, mais prensadinha...
ARGH!
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