A sua mãe te contou todos os perrengues que você ia ter que passar para conseguir se mudar?
Os seus amigos te contaram todos os perrengues que você ia ter que passar para conseguir se mudar?
Coisa boa assim, ninguém conta!
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Primeiro, eu caí na besteira de romantizar a pintura com aquele papo de “ah, meu primeiro apartamento fui eu que pintei!”; no papo dos meus amigos que me disseram que já haviam pintado suas casas sozinhos; de que na Europa é muito comum... Bem que na hora que fui comprar o material de pintura a moça perguntou se era eu mesma que ia pintar com uma cara de quem não estava levando muita fé! Só depois de algum tempo fui realizar que sou uma pessoa incapaz de realizar linhas retas à mão livre; que fita crepe quando descola, descola também pedaços de tinta e que rodapé duplo é a pior invenção do planeta! Lixar rodapé, minha gente! O que é lixar rodapé?!?
Foi aí que eu ouvi pela primeira vez:
“Ah, é assim mesmo...”.
Depois meu apartamento é antigo. Aquela coisa bonita, de pé direito alto, com sanca no teto, espaçoso... O que ninguém te avisa é que se você cutucar alguma coisa, aquela coisa vai cair! Essa parte começou na varanda da Olívia onde tinha uma infiltraçãozinha que eu resolvi raspar para passar massa e ficar bonito. Acontece que do pedacinho pequenininho onde eu enfiei a espátula, a coisa foi subindo, crescendo, descascando e daqui a pouco eu tinha metade da parede aos meus pés e só conseguia repetir freneticamente “putaquepariu”. Aí o Seu Moço lá foi futucar o meu banheiro e descobriu que os meus canos de água quente estavam nas últimas, completamente entupidos.
A essa altura, já resolvi tudo. A varanda está emassada, os canos trocados, mas ao longo do caminho, enquanto eu esperneava:
“Ah, é assim mesmo...”.
Então eu descobri que o povo que morava lá antes de mim fez o favor de resolver se mudar bem na época que a CEG, a nossa incrível Companhia Distribuidora de Gás, estava fazendo o raio da conversão para gás natural. Sobrou pra quem?
“Ah, é assim mesmo...”.
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E a minha Novela do Gás ainda está em curso!
Todo o resto da casa – a pintura das paredes supra coloridas que parecia ter sido feita pelos colegas de classe da Olívia, os canos do banheiro, o chão de salão de baile depois de maratona do beijo, a varanda podre, tudo! – já está funcional, já está ok para que a gente possa habitar finalmente a casa. Só falta o gás.
Eu comprei o aquecedor novo, bonitinho, automático à pilha (seja lá como for isso) preu poder tomar meus banhos quentes e merecidos sem morrer de explosão. Comprei um fogão espacial cheio de coisas que eu, muito provavelmente, nunca vou usar.
Primeiro passo: instalar o aquecedor. Alguma coisa precisa estar instalada fisicamente para que a Fabulosa Companhia Distribuidora de Gás vistorie o imóvel e religue o gás.
O rapazinho da loja chegou cedinho, contrariando a máxima que diz que você provavelmente vai passar o dia inteiro sentada esperando para que um técnico venha até a sua futura residência e realize um serviço que, geralmente, não dura mais que 15 minutos para estar finalizado. Muito simpático, pisou no meu incrível banheiro azul e disse a uma descabelada e, então, à beira das lágrimas, Renata que não ia poder fazer a instalação porque o buraco da chaminé era muito pequeno e eu precisaria não só abrir um buraco maior, que ele sugeriu ser no vidro.
O vidraceiro me deu um trabalho enorme. Primeiro para achar, já que eu não tenho (ou tinha) a menor intimidade com esse tipo de serviço ou endereço; depois, me dizendo que eu teria uma série de riscos para fazer o sugerido, todos estes incluindo a frase “aí a responsabilidade é sua”.
“Ah, é assim mesmo...”.
Resolvi, então, me rebelar e chamar um “faz-tudo” para quebrar o raio da parede e aumentar a porcaria do buraco. Um sonho para quem não queria ter que quebrar nada mais que copos durante a mudança. Por uma despesa de meio aquecedor novo, o buraco foi aumentado (e foi aí que nós descobrimos o lance dos canos do banheiro).
Reparem que, todas essas coisas foram sendo vistas e agendadas em dias diferentes, numa saga que começou antes do Natal e já dura até o Carnaval, que para quem é vagabundo, já começou, mas, no calendário, começa sábado.
“Ah, é assim mesmo...”.
E lá veio o rapazinho simpático de novo, que pelo preço de mais meio aquecedor novo, desceu o aparelho sensacional e essencial à altura mínima exigida pela Fabulosa Companhia de Gás para que a instalação fosse aprovada.
Beleza. O aparelho no lugar, liguei eu para a FCG marcando a vistoria no imóvel, toda (boba) esperançosa de que meus problemas de origem natural estariam resolvidos.
Os pobres moços da FCG bem que tentaram, mas descobriram então, que minha tubulação, por estar muito tempo sem uso, apresentava vazamento.
Você sabia que tinha isso? Nem eu.
Solução? Pelo preço de mais um aquecedor novo, aplicar resina na tubulação.
Coisa bem rápida e fácil pra mim, segundo o pobre moço trabalhador da FCG.
“Ah, é assim mesmo...”.
O outro moço simpático que aplicou a tal da resina, não me garantiu que fosse funcionar de fato, mas...
Feito o serviço, eu ligo de novo pra Fabulosa Companhia a fim de agendar a segunda vistoria – e isso já sabendo que deveria ligar uma terceira vez caso estivesse tudo “nos conformes” para adequação da minha porta do banheiro e os pregos nas janelas para que ninguém morra por inalação de gás...natural – e a Dona Moça me disse que a visita seria feita em dois dias, mas que eu ligasse no dia seguinte para confirmar.
Dito isto, no dia seguinte, às 9 e meia da manhã, lá estava eu, ao telefone, ligando para confirmar a visita, que, não só não foi confirmada, como seria adiada para depois do Carnaval!!!
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O que se segue:
“Tudo que eu preciso na minha vida, para poder me mudar, é que o gás da minha casa seja religado.
Seguindo as exigências da CEG, comprei um aquecedor novo e o instalei. Comprei um fogão novo - que só poderá ser instalado após o gás ser ligado. Chamei a CEG para realizar a vistoria do imóvel.
O técnico me disse que a minha tubulação estava com vazamento e que eu deveria chamar alguém - que a CEG me indicaria - para aplicar resina na mesma. A CEG não me indicou ninguém, tive que procurar sozinha. Mas achei e cumpri a exigência da CEG, mais uma vez.
Liguei, então, ontem, para agendar uma nova vistoria, que foi marcada para amanhã (31/01), sendo que eu deveria ligar hoje de novo para confirmar! Não entendi, mas liguei. Comecei a ligar às 9:30 da manhã.
Já foram 6 ligações. Primeiro me disseram que ainda não estava confirmado, mas em análise. Eu pedi que me esclarecessem qual era a dificuldade em marcar a vistoria. Para falar com um supervisor. Na primeira vez, a menina que me atendeu, pegou meu telefone e disse que o supervisor retornaria minha ligação - fato este que não aconteceu até agora. Agora, da útima vez, a menina me deixou em espera por quase 15 minutos até a ligação cair. Foi-me dito que o meu pedido já havia sido passado ao setor responsável e estava em análise em caráter de urgência, que alguém entraria em contato comigo em até 3 dias úteis!!!
Peraí! Eu cumpri todas as exigências feitas até agora! Liguei hoje para confirmar a vistoria de AMANHÃ! De repente, fiquei na espera de uma ligação para agendamento de visita que pode vir a acontecer somente quinta-feira da semana que vem, já que o carnaval vai ocupar todo o início, e assim, os dias úteis do início da semana! Eu, assim como todo o resto da população, e você mesmo que está lendo este e-mail (se é que ele vai ser lido e levado em conta) não possuo disponibilidade de tempo para ficar esperando várias vezes a CEG resolver ir até a minha casa entre 8 e 18h para que meu gás possa ser religado, dentro das exigências da própria CEG e eu possa começar a poder pagar a própria CEG!!!
Meu nome é Renata Roxo XXXXXXXXXX, meu CPF é XXXXXXXX e eu não sei meu o meu número de cliente porque ainda não possuo uma conta paga ou a ser paga (coisa que estou achando dificílima de vir a ter) e nesta confusão toda ninguém fez a caridade de me informar.
Gostaria de ter meu problema solucionado e não obtive, até agora, nenhuma resposta satisfatória.
Obrigada,
Renata Roxo”
“Ah, é assim mesmo...”
E eu aqui, em angústia profunda...
Mais:
“São 16:30.
Desde as 9:30 venho ligando para a CEG a fim de resolver o meu problema, de conseguir uma resposta satisfatória às minhas questões e ainda não consegui obter sucesso.
No site da CEG está escrito:
"Na Ouvidoria, qualquer cidadão pode apresentar sua reclamação quando considerar que não foi devidamente atendido pelos canais habituais da Companhia.
A Ouvidoria, no entanto, não pode nem deve substituir canais primários de comunicação já existentes, tais como o teleatendimento, as agências ou mesmo o furgão, este, especificamente no caso da revisão e conversão.
O direcionamento de problemas, reclamações, opiniões e sugestões através do Ouvidor visa garantir a expressão dos direitos do cidadão, fortalecendo-o, enquanto destinatário de bens e serviços prestados. É esse nosso objetivo."
Pois bem, cá estou eu, mais uma vez, expressando meus direitos de cidadã. Não consigo entender como uma vistoria que deveria ser realizada amanhã (31/01), de repente foi para análise e, diz-me a atentedente, só será efetuado contato comigo após 3 dias úteis, ou seja, depois do carnaval. Não considero que estou sendo ou tenha sido bem atendida pelos canais primários, nem por esta ouvidoria que já recebeu um e-mail meu no dia de hoje. De qualquer forma, como já são longas 7 horas de insatisfação, estresse mental e gastos telefônicos (que a CEG certamente não vai cobrir), resolvi, mais uma vez expor minha situação e o andamento do descaso de vocês, que me negam a prestação de um serviço essencial ao qual eu sei que tenho direito de usufruir.
De novo:
Meu nome é Renata Roxo XXXXXXXXX
Meu CPF é XXXXXXXXXXXXX
Meu número de cliente não me foi informado até o corrente momento, mas, de qualquer forma, eu não consigo virar cliente da CEG, então tudo bem.
E meus telefones de contato são (21) XXXXXXX/ XXXXXXXX.
Já desistindo de obter alguma solução, atenção ou tratamento digno,
Renata.”
Às 17h30min tive um ataque de choro no telefone.
Às 18h55min eu só conseguia gemer e minha sinusite ameaça destroçar meu belo rostinho as we know it.
“Ah, mas é assim mesmo...”.
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Eu pensei – olha, pensei mesmo - nos meus amigos que trabalham com telemarketing. Visualizei toda a seção de atendimento, no intervalo do café, conversando sobre “a maluca que está ligando pra cá aos berros desde manhã”; em como eu, certamente, viraria um causo de trabalho.
Teve uma mocinha que me disse que entendia minha insatisfação – o que é absolutamente irritante quando você está do lado de cá e ela do lado de lá, porque, certamente ela só entende essa insatisfação quando está também do lado de cá.
Pensei cá comigo que só Deus saberia o tamanho da minha insatisfação, mas cheguei à conclusão que nem Deus sabe uma coisa dessas já que lá onde ele mora eu duvideodó que exista a Fabulosa Companhia de Gás e Ele tenha problemas deste tipo, até chegar também à conclusão que a invenção da tal Companhia é uma espécie de penitência em vida que a pessoa é obrigada a experimentar a fim de poder usufruir de prazeres mundanos como banhos quentes no inverno e comida quentinha saída do forno sem que seja preciso fazer uma fogueira.
Imaginei como seria a vida vivendo à base daqueles fogareiros medonhos de camping...
"Ah, mas é assim mesmo..."
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Hoje, de manhã, lá fui eu de novo.
Em mais uma ligação malcriada e num tom de voz nada educado, esbravejei minha insatisfação ao bairro inteiro, registrei e anotei o protocolo de outra reclamação. Tenho tantos números de protocolo que faria inveja a qualquer burocrata safado.
Exigi que resolvessem meu problema ou chamaria um advogado – ameaça em que nem eu acreditei, diga-se de passagem.
Fui resolver a minha vida.
Quando voltei, fui surpreendida por um telefonema da Empresa Prestadora de Serviços me pedindo, por favor, para agendar para amanhã a visita do rapaz no horário da tarde!!! Até horário, cara!!!
Logo depois, recebi um e-mail me dizendo que o outro técnico deve visitar minha futura residência também amanhã, mas dessa vez sem horário.
Respondi que ficava muito feliz, agradecida e esperançosa, mas muito infeliz ao perceber que as coisas só funcionavam quando alguém esperneava.
A expectativa é grande e lá vou eu madrugar pra esperar o pobre trabalhador da Fabulosa Companhia de Gás.
Mas,
“Ah, é assim mesmo...”
E nêgo só me avisa isso agora...
Um comentário:
Pelo amor de Deus, será que existe algo mais difícil, do que conseguir usar os serviços da ceg. Se tiver me digam.
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