(Antes de mais nada, gostaria de esclarecer para os devidos fins que: duas ou três coisas nesse texto são puramente hipotéticas, fantasiosas e não condizem com a realidade e que não era isso que eu tinha pensado em escrever ontem. Obrigada.)
Homens.
Homens adoram alardear que as mulheres reclamam demais. Que “nós mulheres” (uma das aspas que eu mais odeio no vocabulário testoterônico) passamos a vida batalhando por direitos iguais, iguais condições, igual isso e igual aquilo, mas, que na hora de arcar com as conseqüências, “nós mulheres” não sabemos segurar a barra.
Eu conheço um cara que uma vez veio me dizer que tinha a impressão de que as mulheres, após a maternidade, ficavam todas meio loucas e descompensadas. Eu concordei. Realmente, meu nível de loucura em escala subiu de forma alarmante – mas, até esta data corrente, entre mortos e feridos, estamos todos a salvo e eu não fui morar ainda em Doutor Eiras.
Uma coisa complementa a outra.
“Nós mulheres” lutamos por igualdade, sim. Pela queda de barreiras, preconceitos, essa coisa toda de acharem que a gente vai chorar toda hora, não tem neurônios, não tem desejos.
Fato: homem nenhum iria agüentar parir uma criança. Todos os homens que eu conheço, TODOS, ao menor sinal de gripe já ficam manhosos, leitosos, chatos e inúteis; enquanto “nós mulheres” não podemos, na maior parte das vezes, nos dar ao luxo de pensar em passar um dia inteiro enterradas na cama. Eu mesma, a Rainha da Somatisação, estou amargando há um mês uma gripe que não me abandona. Olhei na agenda um dia e disse “tenho que segurar a onda porque eu só tenho tempo livre na terça-feira da semana que vem e só então eu vou poder ficar doente”. Agüentei, esperei, caí doente na dita terça-feira e na quarta já estava de volta aos meus afazeres. Homem nenhum faz isso. Imagina passar pela chatice de noves meses de gravidez, o pré-parto, o parto e pós-parto... Não é à toa.
É preciso ser muito mulher fisicamente pra parir uma criança.
O voto era negado porque, mulher votar?! Mulher não pensa, não sabe dessa coisa de política, não tem neurônio. Quer assustar um cara? De verdade? Fazer ele correr bem rápido e pra bem longe? Diz que já leu Kant, melhor, diz que já leu! Que seu programa preferido é ler! Corrija ele quando ele estiver fazendo alguma coisa no computador, mostre que você é melhor que ele nisso, dê uma surra nele no joguinho preferido de Playstation dele! Discuta filosofia, religião! Mas, desculpe, estudar é preciso. Ler é preciso. Previne morte neuronal, imbecilidade, ignorância dentre uma série de outors males à civilidade assim como eu concebo.
“Nós mulheres” queimamos sutiãs em praça pública, mas morremos de vergonha de andar com os peitos caídos por aí e somos discriminadas abertamente se a força das circunstâncias nos leva a ser usuária do famoso sexo casual. Um cara pode viver tranquilamente levando putas pra casa para satisfazer suas necessidades fisiológicas, mas se uma mulher faz algo do gênero vira logo a “vagabunda” do prédio e, muito provavelmente, vai encontrar o vizinho do 303 batendo na porta oferecendo os serviços dele de graça.
“Nós mulheres” batalhamos muito por direitos iguais, mas temos uma penca de obrigações que são vistas como exclusivamente femininas. É uma obrigação cuidar da estética. O básico pelo menos. Cabelos, unhas, perninhas raspadinhas. O que custa tempo (e dinheiro). E ai de nós se não! Já os homens passam uns dois meses sem cortar as unhas dos pés ou limpar as orelhas e a gente enfia a língua lá dentro sem reclamar numa boa.
Se uma mulher resolve passar uns dois dias na cama doente, quando sair, vai encontrar a filha descalça, de calcinha, almoçando biscoito de chocolate depois de ir para o colégio com um pé de sapato de cada cor meleca no nariz, sem agenda assinada; o marido vai sair com a camisa desgrenhada porque ou não sabe passar roupa ou passa mal – porque isso é tarefa de mulher. Se o marido precisar ir ao mercado nesse meio tempo, pode esquecer as coisas realmente necessárias à casa, ele vai trazer supérfluo atrás de supérfluo. Vassoura? A casa vai estar com bolotas de poeira pelos cantos, a louça vai ter procriado na pia numa dimensão quase arquitetônica e as roupas usadas vão estar emboladas em algum canto obscuro, se não estiverem espalhadas por todos eles. Se “nós mulheres” não fizermos, ninguém mais vai fazer.
E trabalho? Não importa o quão boa seja uma mulher naquilo que ela faz, o quanto ela trabalhe; o pagamento por isso e o reconhecimento jamais serão os mesmos de um homem realmente bom naquilo que faz.
Então dizer pra mim, que uma mulher que estuda, trabalha, cuida de uma casa, dos filhos, que tem uma vida social e que ainda tem que estar gostosinha pro maridão, namorado, companheiro ou o caralho que o seja, não arca com as conseqüências do que buscou; não segura a bara; ou é uma doida descompensada é uma tremenda sacanagem, não é, não?
Muita coisa se conseguiu, muita coisa mudou, mas hoje, a mulher tem muito mais coisas para administrar – e é cobrada para que administre bem – então, é óbvio que em algum momento essa mulher vai dar uma pifada, uma enlouquecida, uma descompensada. É um direito dela!
É de direito que “nós mulheres” possamos gozar da TPM em toda a sua plenitude e tentar atirar qualquer pessoa que chegue perto pela janela.
É de direito que “nós mulheres” possamos sair com as amigas de vez em quando para encher a cara e dançar Britney Spears numa boate.
É de direito que “nós mulheres” possamos dar um ataque de ciúmes ou carência sem que isso seja visto como sinal de fraqueza.
Direitos iguais o cacete!
A gente fala em direitos iguais quando eu conhecer um homem que faça tudo o que eu faço e depois ouça que “você não faz nada mesmo” e consiga não perder a linha depois disso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário