Ontem, pela primeira vez, ouvi a voz da senhorinha que me lembra a catadora de arroz.
Dessa vez quem andava era eu.
Ela estava sentada no muro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, me sorriu e pediu uma moeda.
Eu não tinha, de verdade.
Murmurei um "não tenho, querida" e continuei andando na pressa das pessoas em hora de almoço das cidades grandes.
Tive pena de não ter uma ou mais moedas comigo.
Do outro lado da rua, uma conhecida querida me acenou e mandou beijos - gosto de pensar que foi um prêmio por esse pesar.
Ela tinha uma voz doce e na rua fazia muito, muito calor.
Hoje, pela primeira vez, fui sinházinha declarada para alguém.
Mais uma caminhada e mais uma hora de almoço.
Hoje estava com uma colega de trabalho.
O restaurante que queríamos estava fechado, acendi um cigarro e, assim que nos viramos para pegarmos um outro caminho, ouvimos:
"- Sinházinha! Sinházinha!"
Apesar de provavelmente já termos vivido situações de sinházinhas, nenhuma das duas sequer cogitou a possibilidade de que os gritos nos dissessem respeito.
Eis que surge a dona da voz.
Uma senhora, de paninho na cabeça, chinelo nos pés, a sobreposição de roupas que só certas pessoas conseguem fazer e...
"-Sinházinha, acende aqui pra mim, por favor?"
...Com um toco de cigarro nas mãos.
Essas coisas acontecem rápido na vida da gente - pensei em oferecer um cigarro inteiro, em dizer que ela não precisava me chamar de sinházinha, mas apenas estendi o meu e deixei ela acender o dela.
Ambas seguimos então nossos caminhos, cada uma para um lado diferente.
Ela feliz, eu, um pouco perplexa.
Como tenho ficado quase que diariamente com alguma pequena coisa.
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