terça-feira, setembro 22

Duas Datas, Um Ano.

Em 2008.
19 de setembro foi sexta.
19 de setembro foi a segunda vez na minha vida que eu botei um homem pra fora de casa.
A bebedeira, que seguia sem grandes novidades, descambou pruma discussão - que começou no meio da rua, testemunhada por olhares tão ébrios quanto os das pessoas que gritavam entre si, e foi acabar num quarto. Pra sempre.
Não só o homem e as coisas que eu consegui pegar e enfiar dentro de uma sacola de mercado (camisetas, cuecas, bermudas) enquanto gritos se misturavam com lágrimas.
Quando eu fechei (bati) aquela porta - a minha porta - muito mais coisa foi junto com aquele homem.
Naquela madrugada, um Amigo me consolou, me abraçou, ouviu, bebeu comigo e ficou todo ensopado de lágrimas.
Um Amigo que, há anos, faz dessas de atender telefone no meio da madrugada e vir correndo me socorrer, mas que também não faz só isso - a gente também ri muito há muitos anos.
Eu fui dormir bem mais calma, mas com uma dor que quase não cabia dentro do peito.

Em 2009.
19 de setembro foi sábado.
Guardei bem os dias da semana e a data porque uma Amiga faz aniversário dia 20; e, no dia 20 do ano passado ela havia dançado no dia do próprio aniversário, e as danças só acontecem aos sábados.
Neste ano eu também fui ver Amigas dançarem.
Duas outras Amigas.
Não era aniversário de nenhuma delas, mas, nos últimos anos, essas duas Amigas saíram das almofadinhas que ficam no chão para a mesa dos adultos dentro do meu coração.
No caminho, dentro de um 569, sem querer olhei pro lado, vi o homem.
Meu coração não bateu como costumava bater, mas ele ainda é uma lembrança ruim.
Ele ainda está no mesmo lugar, com a mesma cara.
Eu ia para o mesmo lugar que havia ido há um ano atrás.
Mas eu não estou mais no mesmo lugar ou tenho a mesma cara.

Em 2008
20 de setembro foi sábado.
Como se eu não tivesse chorado a alma - como só fui chorar apenas uma vez depois e por motivos em nada semelhantes, ainda que ambos digam respeito ao abandono - levantei.
Me banhei, me arrumei, me enfeitei como não fazia há tempos.
E fui ver, pela primeira vez, minha Amiga numa apresentação de dança do ventre.
Uma mesa enorme me esperava, cheia de Amigos e amigos.
Todo mundo muito feliz, comemorando.
Eu, louca para ir embora - observando a felicidade alheia e rindo da desgraça alheia.
Quando a dança acabou e eu achei que já poderia ir sem fazer desfeita ou algo do gênero, voltei pra casa e chorei olhando pruma sandália havaiana, até dormir.

Em 2009
20 de setembro foi domingo.
A Amiga que dançava ano passado hoje amamenta um lindo e robusto bebê faminto. Continua aniversariando, mas hoje não dança mais.
Os Amigos naquela casa, neste dia, sentam todos à Grande Mesa; e a casa me é muito mais familiar e querida do que era no ano que passou.
No dia anterior, a mesa do bar era mesma, mas não eram as pessoas que lá estavam ou sentavam conosco.
Muitas se separaram, algumas encontraram um novo par, novas amizades se formaram, novas crianças nasceram - as pessoas que dançam não são mais as mesmas.

Ainda me espanta a quantidade de coisas e pessoas que podem acontecer no período de um ano. Me espanta a quantidade de pessoas que entram, que vão embora; como há dois meses atrás eu me treinava para aprender a dormir no meio da cama, aceitando a inevitabilidade da solidão; como há apenas um mês atrás, sentia que ocupava muito espaço no mundo à toa e hoje me falta espaço para ocupar tudo o que devo.
Perceber o passar de um ano todo e tudo o que aconteceu neste ano me espanta.
Coroei a passagem com tantos beijos e abraços e Amigos que dentro do meu peito, hoje, não cabe mesmo, nenhuma dor.

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