Era noite numa cidade com toques coloniais, meio Paraty (Centro histórico), meio Salvador (Pelourinho). Um grupo grande de amigos, dos quais eu só me lembro de dois, e que um eu não revelo nem sob tortura, havia acabado de sair de algum evento meio sarau, meio cinema, meio show e procurava um bar, algum outro lugar em que pudessem beber e continuar as risadas e alongar a noite que estava muito divertida e agradável.
O lugar escolhido era um casarão, daqueles meio estilosos com móveis coloniais e lustres grandes e brilhantes. Numa mesa bem grande, no meio do salão, um farto bufet de frutas e outras coisas. Havia um par de candelabros em cada ponta da mesa também, com velas brancas e aquela luz de vela - fraca no meio dos lustres.
Tudo começou a ficar estranho quando todos escolheram beber taças de vinho e o garçom era o Lafayete, de True Blood.
(Sim, eu ando vendo tv demais, mas foi quando eu notei que as coisas estavam estranhas.)
Antes que o vinho chegasse, pela janela entraram dois insetos.
Um de cada lado da mesa.
O do lado de cá, meio lagosta pré-histórica, não se mexia.
O do lado de lá, uma espécie de filhote de libéluba gigante criada a base de geléia de mocotó, era frenético.
Minha fobia de inseto e coisas que possuem exoesqueleto começou a se manifestar com força total, enquanto o grupo de rapazes - 3 - ria muito e corria até o lado de lá para espiar de perto "o bichinho".
Este ("o bichinho"), a esta altura me olhava com grandes olhos de mosca, de um azul bem azul, cheio de olhinhos pequenos juntos num mesmo olho, todos emoldurados por uma longa e fragmentada antena de mariposa.
Quando os rapazes chegaram perto - rindo do meu medo - de repente, a mosca libélula mariposa superalimentada, criou um bico. Um bico que abria e fechava sem parar e de onde saía um zumbido alto.
Ensurdecedor.
Logo, o monstro inseto from hell também tinha penas e abocanhou o primeiro rapaz. Todinho. De uma só bocada. E, enquanto comia os outros, ia crescendo numa rapidez espantosa, ficando cada vez maior a cada corpo que engolia.
Ainda com medo do outro monstro - o monstro lagosta do lado de cá - não consegui ir pro outro lado da mesa, então resolvi me enfiar debaixo da mesa.
Acontece que outra amiga também tinha tido a mesma idéia e, num remake muito ruim de Alice do País das Maravilhas, embaixo da mesa era um lugar pequeno para nós duas, como se ambas tivessem resolvido crescer e a mesa diminuir.
Nisso, o monstro inseto-passarinho, que a esta altura era um ser gigante, resolveu ir para cima da mesa, quase esmigalhando as duas com o seu peso e procurando as duas últimas iguarias do seu jantar.
Naquela hora, apertei a toalha, de veludo verde escuro, de encontro ao meu rosto, fechei os olhos e tive certeza que ia morrer.
Acordei com o coração aos saltos, o corpo todo doído e precisei de um bom tempo para conseguir pregar os olhos de novo - ainda com medo de ser devorada.
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