segunda-feira, maio 21

Crise dos Trinta

Uma mulher dizer que está em crise é de uma redundância incrível; crises fazem parte do nosso DNA, são uma espécie de doença pré-existente e sempre presente.
Ainda assim, de vez em quando, aparece uma Crise Especial – daquelas que têm ser bem aproveitadas porque acontecem uma vez só na vida e olhe lá.
Daquelas que fazem com que você sinta que o dinheiro que gasta de análise está sendo bem utilizado uma vez na vida.
Daquelas que fazem com você possa alugar seus amigos por horas a fio numa mesa de bar sem a menor culpa.
Daquelas que fazem você dar uma pirada básica e poder usar uma desculpa socialmente aceitável – irreprimível.

No momento, eu curto uma crise dessas.
A famosa Crise dos 30.

Ela veio me assaltar a uns três meses atrás.
Depois do período das férias escolares, diversas viagens e romances rompidos, um dia percebi que faltavam cinco meses para o fatídico dia em que eu não poderia mais dizer que tinha vinte e algo; passaria aos trrri.
Pior do que isso! Me ocorreu que jamais havia sido assídua dos tão famosos e vendidos cremes faciais e corporais. Eu nem sei como se passa creme no rosto! Depilação pra mim é com gilete porque me falta saco e disposição de ficar mostrando minhas intimidades a pessoas que eu não conheço; manicura só faço na TPM, quando preciso me sentir bonita para ser um ser menos nocivo ao planeta Terra de um modo geral.
Pior que isso!!! Comecei a perceber como os anos de noitadas, boates, efeito iô-iô, gravidez e afins deixaram sua marca no meu “corpitcho”. Verdade seja dita, beldade eu nunca fui. Sempre fui a mais gorducha da turma e carreguei com uma certa dose de prazer – me baseando naquela máxima de que as marcas que eu corpo traz contam a minha história – uma coleção invejável de celulites e estrias.
Mas, aos cinco meses de virar de fato uma “balzaca”, pela primeira vez tive um pânico profundo quando entalei num par de calças.

Já me conformei e aprendi a duras penas que aquela vidinha “perfeita” que eu imaginava aos quinze anos não passava disso mesmo – imaginação. Que a vida dá voltas, nos surpreende, blábláblábláblá... Agora, não chegar aos trinta cabendo numa roupa decente foi demais pra mim!

De repente, me tornei uma mulher ordinária.
Igualzinha a todas as outras.
E quase uma obcecada por virar uma mulher mais gostosinha.

Fui ao médico, fechei a boca, mas o principal sintoma da seriedade da coisa foi quando eu resolvi me render, e, num rompante de desespero, me inscrevi na Curves.

Nunca fui fã de academias- devo ter me matriculado em pelo menos uma dúzia delas ao longo dos últimos dez anos. Sempre me pareceu ilógico gastar uma hora inteira do meu dia numa esteira e perceber que depois disso eu só havia queimado calorias o suficiente para deletar um chopp da minha longa folha corrida de débitos alimentares. Achava o fim ficar de bumbum para cima ou abrindo e fechando as pernas em público, com uma platéia de He-Mans e Barbies me olhando – eu sou uma senhora pudorada!
Quando a própria Curves foi lançada no Brasil, me lembro de passar na frente daquilo e ficar imaginando que deveria ser uma espécie de seita, uma coisa Vigilantes do Peso onde as pessoas gritam que o melhor Spa é o esparadrapo.
E, de certa forma, é mesmo.
E eu caí feito uma patinha.

Um mês e meio depois, já não me dá vontade de atirar nas professoras quando elas gritam entusiasticamente: “Vamos lá, Rê, acelera!”. Já penso que, se não tenho mesmo mais nada para fazer em algum momento do dia, melhor ir malhar. Comecei a carregar na mochila a muda de roupa da ginástica!
Este mês eles inventaram uma gincana. As alunas realizam tarefas e ganham prêmios por isso. Eu sou uma das mais aplicadas e competitivas.

Há cinco anos atrás, perder peso não era uma tarefa tão excruciante. Era rápido e fácil. Os cinco quilos que perdi nos últimos dois meses, teria perdido em uma semana; e meu ideal de chegar ao tão temido dia com pelos menos dez a menos, já teria sido alcançado a esta altura – mesmo com meus momentos de gorda safada onde me pego com um chocolate na boca enquanto penso no tempo que falta.

É ridículo.
É fútil.
É vergonhoso que uma mulher como eu, tão inteligente de uma forma geral, tenha como maior preocupação momentânea separar meia hora do seu dia a uma das atividades que passou a maior parte da vida abominando.
Apesar disso, trinta anos só se faz uma vez, e, se eu não consegui grana, homens e sucesso, pelo menos coxas mais durinhas e um manequim menor eu mereço.
Ah, se mereço!

2 comentários:

Anônimo disse...

Hahahahahahahahahaha Perfeito!!!
Estamos ferradas!!!

Anônimo disse...

André Agui.

é por isso que minha mulher anda meio abusada rsrsrsrs

blogdarua9.blogspot.com/